Direita brasileira x Chávez – Por que prossegue a polêmica
05/06/2007
- Opinión
A polêmica em torno da interferência do Senado brasileiro nos assuntos internos da Venezuela e da forma como reagiu o presidente Chávez poderia ter sido dada por encerrada com as declarações dos dois presidentes no sábado (02 de junho) e domingo (03 de junho). Falando perante uma multidão de centenas de milhares de pessoas em Caracas, o presidente Chávez deu as explicações necessárias: “Reagi a uma grosseria do Senado brasileiro, que interferiu nos nossos assuntos internos”. E Lula, em tom conciliador disse numa entrevista à BBC de Londres: “Chávez é um amigo e um parceiro, não uma ameaça para o Brasil”, não sem antes reiterar a defesa da câmara revisora brasileira.
No mesmo final de semana, outras declarações do ministro das Relações Exteriores Celso Amorim e do assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, sinalizavam no mesmo sentido de esvaziar a crise. O assessor de Lula chegou mesmo a reconhecer o mérito da decisão do governo venezuelano de não renovar a concessão da RCTV.
Mas a direita, através de seus representantes no Senado e na mídia continuou a pôr lenha na fogueira. Iniciaram a semana magnificando a crise, pressionando o presidente brasileiro a elevar o tom da crítica a Chávez. Tentaram em vão, sob a batuta de Condoleeza Rice, isolar o governo venezuelano na Assembléia da OEA. Agora, senadores de direita, acolitados no PSDB e no DEM ameaçam obstruir os debates e postergar a decisão sobre a ratificação do protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul, “até que o Chávez se retrate”. A matéria já foi vencida com tranqüilidade na Argentina e no Paraguai.
As declarações ofensivas à Venezuela se sucedem. Mesmo quem devia, por hierarquia, manter-se em silêncio, como o ministro das Relações Institucionais, Mares Guia, deita falação sobre o tema, afeto a outra pasta: “Chávez está fora do tom mundial”. O presidente do Senado, Renan Calheiros, filosofa, com um falsete ameaçador: “A defesa da democracia não tem fronteiras”. Os neoliberais reacionários do DEM, digo PFL, e do PSDB Heráclito Fortes, José Agripino e Arthur Virgílio revezam-se na tribuna, competindo em agressividade antichavista. Na essência, repetem sem originalidade o discurso monocórdico da senhorita Condoleeza: “Fechar uma emissora de TV é antidemocrático”.
Quanto à posição dos meios de comunicação brasileiros, remeto o leitor ao editorial “Por que Chávez é um perigo”, na edição de 06 de junho de “O Estado de São Paulo”, um dos mais conservadores e pró-imperialistas da imprensa brasileira. O texto desfaz, se alguém as tem, quaisquer dúvidas sobre a clara divisão entre campos políticos antípodas contida no episódio.
Profissional, equilibrada e autônoma, focada em sua prioridade de integrar a América do Sul, a chancelaria brasileira tende a encontrar uma solução satisfatória e pôr fim à querela.
Mas a histeria da direita brasileira em relação a Chávez tende a continuar. Porque o problema reside na oposição sistemática do imperialismo, da direita mundial, latino-americana, venezuelana e como ficou claro também da direita brasileira à Revolução democrática, popular e antiimperialista venezuelana. Esta oposição sistemática não é apenas retórica, midiática, palavrosa e moralmente desqualificada pelos termos que utiliza. Ela é também golpista, intervencionista, atropela a legalidade interna e internacional para desestabilizar a Revolução. Segundo as circunstâncias, recorre ao cerco, ao bloqueio, ao magnicídio e à guerra.
Não se pode esperar que chávez reaja a tamanha ofensiva com flores e palavras gentis ou com pedidos de desculpas por liderar uma Revolução. Há momentos em que a diplomacia e a linguagem polida não são o que mais vale. Quando a história for contada, as futuras gerações compreenderão por que um presidente da República de um país empregou linguagem imprópria. Mas jamais perdoarão um líder revolucionário que não tenha sido cioso com a soberania do seu país e com a defesa de suas conquistas. A expressão inadequada entrará para a coleção de coisas pitorescas, mas o líder que não defender conseqüentemente a Revolução que dirige entrará na chusma de capitulacionistas e traidores. O antichavismo dos nossos políticos de direita está ligado precisamente a isso. Não aceitam a personalidade forte de Chávez que já demonstrou sua pertinácia e decisão de ocupar outro lugar na História.
Para os brasileiros o importante é saber que a polêmica de Chávez com o Senado nada tem a ver com luta entre a Venezuela e o Brasil. São países amigos, povos amigos, governos amigos, que têm importantes objetivos em comum. Inimiga é a direita, independentemente do solo onde nasceu.
José Reinaldo Carvalho
Jornalista. Secretário de Relações Internacionais do Partido Comunsita do Brasil - PCdoB
No mesmo final de semana, outras declarações do ministro das Relações Exteriores Celso Amorim e do assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, sinalizavam no mesmo sentido de esvaziar a crise. O assessor de Lula chegou mesmo a reconhecer o mérito da decisão do governo venezuelano de não renovar a concessão da RCTV.
Mas a direita, através de seus representantes no Senado e na mídia continuou a pôr lenha na fogueira. Iniciaram a semana magnificando a crise, pressionando o presidente brasileiro a elevar o tom da crítica a Chávez. Tentaram em vão, sob a batuta de Condoleeza Rice, isolar o governo venezuelano na Assembléia da OEA. Agora, senadores de direita, acolitados no PSDB e no DEM ameaçam obstruir os debates e postergar a decisão sobre a ratificação do protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul, “até que o Chávez se retrate”. A matéria já foi vencida com tranqüilidade na Argentina e no Paraguai.
As declarações ofensivas à Venezuela se sucedem. Mesmo quem devia, por hierarquia, manter-se em silêncio, como o ministro das Relações Institucionais, Mares Guia, deita falação sobre o tema, afeto a outra pasta: “Chávez está fora do tom mundial”. O presidente do Senado, Renan Calheiros, filosofa, com um falsete ameaçador: “A defesa da democracia não tem fronteiras”. Os neoliberais reacionários do DEM, digo PFL, e do PSDB Heráclito Fortes, José Agripino e Arthur Virgílio revezam-se na tribuna, competindo em agressividade antichavista. Na essência, repetem sem originalidade o discurso monocórdico da senhorita Condoleeza: “Fechar uma emissora de TV é antidemocrático”.
Quanto à posição dos meios de comunicação brasileiros, remeto o leitor ao editorial “Por que Chávez é um perigo”, na edição de 06 de junho de “O Estado de São Paulo”, um dos mais conservadores e pró-imperialistas da imprensa brasileira. O texto desfaz, se alguém as tem, quaisquer dúvidas sobre a clara divisão entre campos políticos antípodas contida no episódio.
Profissional, equilibrada e autônoma, focada em sua prioridade de integrar a América do Sul, a chancelaria brasileira tende a encontrar uma solução satisfatória e pôr fim à querela.
Mas a histeria da direita brasileira em relação a Chávez tende a continuar. Porque o problema reside na oposição sistemática do imperialismo, da direita mundial, latino-americana, venezuelana e como ficou claro também da direita brasileira à Revolução democrática, popular e antiimperialista venezuelana. Esta oposição sistemática não é apenas retórica, midiática, palavrosa e moralmente desqualificada pelos termos que utiliza. Ela é também golpista, intervencionista, atropela a legalidade interna e internacional para desestabilizar a Revolução. Segundo as circunstâncias, recorre ao cerco, ao bloqueio, ao magnicídio e à guerra.
Não se pode esperar que chávez reaja a tamanha ofensiva com flores e palavras gentis ou com pedidos de desculpas por liderar uma Revolução. Há momentos em que a diplomacia e a linguagem polida não são o que mais vale. Quando a história for contada, as futuras gerações compreenderão por que um presidente da República de um país empregou linguagem imprópria. Mas jamais perdoarão um líder revolucionário que não tenha sido cioso com a soberania do seu país e com a defesa de suas conquistas. A expressão inadequada entrará para a coleção de coisas pitorescas, mas o líder que não defender conseqüentemente a Revolução que dirige entrará na chusma de capitulacionistas e traidores. O antichavismo dos nossos políticos de direita está ligado precisamente a isso. Não aceitam a personalidade forte de Chávez que já demonstrou sua pertinácia e decisão de ocupar outro lugar na História.
Para os brasileiros o importante é saber que a polêmica de Chávez com o Senado nada tem a ver com luta entre a Venezuela e o Brasil. São países amigos, povos amigos, governos amigos, que têm importantes objetivos em comum. Inimiga é a direita, independentemente do solo onde nasceu.
José Reinaldo Carvalho
Jornalista. Secretário de Relações Internacionais do Partido Comunsita do Brasil - PCdoB
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