As ideias dominantes
22/10/2014
- Opinión
“As ideias da classe dominante são as ideias dominantes” dizia o filósofo no século 19 referindo-se, naquele momento, à situação alemã.
Nada mais atual, neste Brasil do século 21, onde os meios de comunicação encarregam-se de disseminar as ideias da classe dominante por toda a sociedade. O resultado do primeiro turno da eleição presidencial, especialmente em São Paulo, é exemplar.
No estado mais rico do pais, os números indicam e os contatos de rua confirmam, a existência do voto comum entre o magnata abastado do Jardins e os trabalhadores modestos, moradores das periferias.
Na mídia está a explicação para essa comunhão no voto de vidas tão distantes. Ela unifica o discurso, apelando para mensagens de fácil assimilação e passa a repeti-las de forma incessante. Nesta campanha eleitoral os temas em destaque foram a tragédia de uma morte inesperada e a corrupção correndo o país.
O acidente aéreo, diante da fragilidade da oposição, serviu para impulsionar uma candidatura alternativa que, depois, provou-se vazia e inconsistente.
Restou a tarefa, executada pela mídia, de inculcar na população a ideia de que o PT teria que ser retirado do poder a qualquer custo, uma vez que seria o responsável pelo maior surto de corrupção já visto no pais. As duas candidaturas oposicionistas abraçaram essa bandeira com sofreguidão.
Assim como fizeram os opositores de Getúlio Vargas, em 1954 e de João Goulart, dez anos depois. Na atual campanha as entrevistas realizadas pelos telejornais da Rede Globo e os debates realizados por essa e outras emissoras tornaram-se canais de difusão de propaganda política travestida de jornalismo.
Basta citar como exemplo uma pergunta feita a candidata Dilma Rousseff pelo apresentador do Jornal Nacional. Nela a palavra corrupção foi repetida sete vezes. Ali o conteúdo da pergunta era o de menos, o que interessava era vincular a entrevistada ao mote repisado pelo entrevistador.
No debate da Bandeirantes as perguntas dos jornalistas nada mais foram do que um resumo dos editoriais da empresa para a qual trabalham.
É conhecido o repúdio dos donos da emissora ao MST e à fiscalização do trabalho escravo. Além de rejeitarem qualquer forma de participação social mais democrática e, lógico, uma lei de meios que amplie a liberdade de expressão.
Essas posições políticas foram embutidas nas perguntas feitas aos candidatos. Por exemplo: “O governo federal criou por decreto o Conselho de Participação Social. É uma instância direta vista com apreensão por muitos setores: seria uma ameaça ao Congresso Nacional e consequentemente ao equilíbrio institucional. Seria uma bolivarização do Brasil nos moldes chavistas (...)”.
Outra pergunta editorializada: “Por considerar um assunto importante e grave, que envolve a liberdade no país, vou voltar à questão do controle social da mídia. O partido da presidente, o PT, insiste num plano de censura à imprensa, que eufemisticamente chama de democratização da mídia (...)”
A reforma política tão necessária ao pais deve incorporar um conjunto de regras capazes de por fim a essas distorções. Para começar os debates eleitorais não podem seguir sendo filtrados apenas pelos interesses da mídia comercial. Devem ser produzidos e realizados por emissoras públicas e realizados em espaços públicos, num campus universitário, por exemplo, como ocorre nos Estados Unidos. Transmitidos nos chamados horários nobres do rádio e da TV, com tempo suficiente para que os candidatos exponham ideias e propostas, sem as interrupções constantes, vistas por aqui. Afirmações, réplicas e tréplicas fragmentadas servem apenas para fazer do debate um espetáculo televisivo, sem relação com a possibilidade de esclarecimento do eleitor.
A contaminação do debate pelas pesquisas eleitorais é outro fator de distorção que necessita ser banido. Essas enquetes não podem servir de referência para a presença dos candidatos diante das câmeras. E muito menos serem divulgadas nos dias que antecedem as eleições, fato que contamina a decisão soberana do eleitor.
Nada mais atual, neste Brasil do século 21, onde os meios de comunicação encarregam-se de disseminar as ideias da classe dominante por toda a sociedade. O resultado do primeiro turno da eleição presidencial, especialmente em São Paulo, é exemplar.
No estado mais rico do pais, os números indicam e os contatos de rua confirmam, a existência do voto comum entre o magnata abastado do Jardins e os trabalhadores modestos, moradores das periferias.
Na mídia está a explicação para essa comunhão no voto de vidas tão distantes. Ela unifica o discurso, apelando para mensagens de fácil assimilação e passa a repeti-las de forma incessante. Nesta campanha eleitoral os temas em destaque foram a tragédia de uma morte inesperada e a corrupção correndo o país.
O acidente aéreo, diante da fragilidade da oposição, serviu para impulsionar uma candidatura alternativa que, depois, provou-se vazia e inconsistente.
Restou a tarefa, executada pela mídia, de inculcar na população a ideia de que o PT teria que ser retirado do poder a qualquer custo, uma vez que seria o responsável pelo maior surto de corrupção já visto no pais. As duas candidaturas oposicionistas abraçaram essa bandeira com sofreguidão.
Assim como fizeram os opositores de Getúlio Vargas, em 1954 e de João Goulart, dez anos depois. Na atual campanha as entrevistas realizadas pelos telejornais da Rede Globo e os debates realizados por essa e outras emissoras tornaram-se canais de difusão de propaganda política travestida de jornalismo.
Basta citar como exemplo uma pergunta feita a candidata Dilma Rousseff pelo apresentador do Jornal Nacional. Nela a palavra corrupção foi repetida sete vezes. Ali o conteúdo da pergunta era o de menos, o que interessava era vincular a entrevistada ao mote repisado pelo entrevistador.
No debate da Bandeirantes as perguntas dos jornalistas nada mais foram do que um resumo dos editoriais da empresa para a qual trabalham.
É conhecido o repúdio dos donos da emissora ao MST e à fiscalização do trabalho escravo. Além de rejeitarem qualquer forma de participação social mais democrática e, lógico, uma lei de meios que amplie a liberdade de expressão.
Essas posições políticas foram embutidas nas perguntas feitas aos candidatos. Por exemplo: “O governo federal criou por decreto o Conselho de Participação Social. É uma instância direta vista com apreensão por muitos setores: seria uma ameaça ao Congresso Nacional e consequentemente ao equilíbrio institucional. Seria uma bolivarização do Brasil nos moldes chavistas (...)”.
Outra pergunta editorializada: “Por considerar um assunto importante e grave, que envolve a liberdade no país, vou voltar à questão do controle social da mídia. O partido da presidente, o PT, insiste num plano de censura à imprensa, que eufemisticamente chama de democratização da mídia (...)”
A reforma política tão necessária ao pais deve incorporar um conjunto de regras capazes de por fim a essas distorções. Para começar os debates eleitorais não podem seguir sendo filtrados apenas pelos interesses da mídia comercial. Devem ser produzidos e realizados por emissoras públicas e realizados em espaços públicos, num campus universitário, por exemplo, como ocorre nos Estados Unidos. Transmitidos nos chamados horários nobres do rádio e da TV, com tempo suficiente para que os candidatos exponham ideias e propostas, sem as interrupções constantes, vistas por aqui. Afirmações, réplicas e tréplicas fragmentadas servem apenas para fazer do debate um espetáculo televisivo, sem relação com a possibilidade de esclarecimento do eleitor.
A contaminação do debate pelas pesquisas eleitorais é outro fator de distorção que necessita ser banido. Essas enquetes não podem servir de referência para a presença dos candidatos diante das câmeras. E muito menos serem divulgadas nos dias que antecedem as eleições, fato que contamina a decisão soberana do eleitor.
Artigo publicado na Revista do Brasil, edição de outubro/2014
22/10/2014
https://www.alainet.org/en/node/164923
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