A volta de Marina Silva: é possível servir a dois senhores?

A candidata a candidata Marina Silva resolveu abrir o jogo pedindo um impedimento à Presidenta e ao vice-presidente para convocar uma nova eleição.

11/04/2016
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A candidata a candidata Marina Silva resolveu abrir o jogo pedindo um impedimento à Presidenta e ao vice-presidente para convocar uma nova eleição. Consta que ela recebeu esta sugestão de políticos ingleses que (porque seria?) desejam aproveitar o desgaste dos outros candidatos. Mas quem está por trás desta proposta aparentemente muito audaciosa? Esta é a questão.

 

As intervenções dos Estados Unidos nas eleições brasileiras

 

Em geral se desconhece no Brasil os mecanismos pelos quais o governo dos Estados Unidos e os grupos econômicos e políticos deste país atuam no Brasil em particular e nas Américas e no Mundo em geral. Nosso querido amigo René Dreiffus, falecido tão jovem, realizou vários estudos bastante bem fundamentados sobre os grupos de interesse organizados a partir daquele pais que intervem ativamente na vida política do nosso pais. Moniz Bandeira tem dado contribuições significativas ao estudo destas intervenções, particularmente no seu último livro profundamente bem documentado.

 

A revista NACLA com a qual colaborei muito tempo estudou amplamente a ação das multinacionais hoje transformadas em transnacionais.

 

Para dificultar o conhecimento destes fatos foi criado inclusive um processo de desqualificação a toda informação sobre as atividades legais e ilegais destes grupos de pressão e intervenção através da acusação de uma pretensa “teoria da conspiração” que presidiria estes estudos.

 

Qualquer pessoa bem informada sabe muito bem que a conspiração é um mecanismo fundamental nas lutas políticas. Elas nem sempre alcançam seus objetivos, sobretudo quando são denunciadas alertando aos inimigos dos conspiradores. Por esta razão inclusive, o controle dos meios de informação é um elemento essencial do embate político desde a antiguidade. Se o leitor tem alguma dúvida estude, por exemplo, a conspiração que levou ao assassinato de Cézar, por sinal muito bem dramatizada por Shakespeare... Se tem mais interesse por este tema seria oportuno localizar e acompanhar a série televisiva “House of Cards” na qual verá como operam estes interesses no plano político, com ênfase na luta pela presidência dos Estados Unidos.

 

A organização das formas de intervenção é uma realidade que faz parte do cotidiano da luta política. A função de centro hegemônico do sistema mundial que este país ostenta sobretudo a partir da II Guerra Mundial o leva a desenvolver mecanismos de intervenção diversificados que atuam sobre vários setores da vida econômica, politica, social e cultural de todo o planeta, Esta tarefa está entregue, desde a II Guerra Mundial, à CIA (que retirava esta tarefa das mãos do FBI, especializado em assuntos internos e dominado pelos republicanos). As ações militares constantes foram aumentando a atuação da CIA e recentemente foi necessário criar um Conselho nacional de inteligência que pretende unificar as ações de inteligência em termos internos e mundiais.

 

Entre os mecanismos de operação de inteligência surgiram já nos anos 1920 inciativas diretas dos grandes grupos econômicos as pouco conhecidas instituições voltadas para a formação e filiação de quadros políticos que se subordinam aos objetivos estratégicos definidos por estas entidades. Trata-se claramente do estabelecimento de um time de pesquisadores e atores a serviços dos poderosos interesses dos capitais nacionais e transnacionais que buscam operar cada vez mais com princípios e objetivos comuns.

 

O Diálogo das Américas (quais Américas?)

 

Uma destas instituições extremamente influente nas Américas é o Diálogo Interamericano, fundado em 1982. Segundo seu site, ele é “o principal centro dos EUA de análise politica, intercâmbio e comunicação sobre assuntos do Hemisfério Ocidental”.

 

Quem compõem este diálogo? Responde o website:

 

“Os seletos membros do Diálogo são 100 (destaque meu) cidadãos ilustres de todo o continente americano, incluindo políticos, empresários, acadêmicos, jornalistas e outros líderes não-governamentais. Dos (100!!!, outra nota minha) membros do Diálogo, dezesseis (16) serviram como presidentes de seus países e mais de três dezenas (+30) serviram ao nível ministerial.”

 

Há bastante clareza de que estes membros seletos estão articulados com outras redes e atividades que são financiadas por “indivíduos, empresas, governos e fundações que ajudam a apoiar seus programas e fornecer receita operacional essencial”. Felizmente para estes senhores os juízes de primeira instancia do Brasil e mesmo os de todas as instancias não se interessam por estas “operações”, apesar de que está claro que não obedecem aos interesses de nenhuma instituição brasileira e muito menos ao povo brasileiro e sim aos objetivos dos grandes grupos transnacionais que têm seu centro nos Estados Unidos à sombra dos mais poderosos instrumentos de poder existentes. Algo parecido ao que vem sendo chamado de “quadrilhas” quando se trata da agrupação de brasileiros para defender seu povo destes poderes colossais.

 

Gostaria de assinalar que, segundo o referido “website”, estas empresas são um grupo de 108 corporações transnacionais que estão na lista das 500 maiores empresas do mundo. A lista delas está publicada no referido “web site” como uma exibição inquestionável de poder...

 

Também encontramos uma lista de 21 organizações governamentais e não governamentais e 11 fundações que apoiam os membros deste grupo especial. Os leitores interessados nestes “detalhes” dispõem desta lista no site do Diálogo Interamericano. Estes poderosos senhores são apoiados pelos membros do 1% de cidadãos do mundo que são proprietários de 47% da riqueza mundial, segundo o Swiss Bank, num excelente estudo recente sobre o tema. Por sinal, estes estudos proliferaram nos últimos anos revelando a preocupação crescente com as implicações sociais, políticas e ideológicas desta concentração brutal da renda em escala mundial.

 

Por isto, seus assessores e suas instituições estão criando e comprometendo, desde já, figuras políticas que possam capitalizar os votos das grandes maiorias e garantir o controle dos centros de decisão de toda a região. No caso brasileiro se destaca a figura de Marina da Silva que se incorporou a este inocente centro de “conspiração” desde sua fundação em 1982. A partir deste momento ela se converteu em um quadro do Diálogo enfrentado no Partido dos Trabalhadores ou vice versa? Isto é, um petista infiltrado no Diálogo das Américas?

 

Não sei se a direção do PT sabia destes compromissos assumidos pela militante Marina Silva. Contudo está bem clara a confiança depositada nela por parte de seus criadores como ente político internacional. É impressionante, por exemplo, as várias notas políticas publicadas em vários meios de comunicação insistindo na sua candidatura a presidente da república do Brasil. E também impressiona as declarações de ex-colaboradores de serviços de inteligência e outros grupos operativos denunciando que a morte de Eduardo Campos seria um atentado organizado pelos agentes deste grupo para viabilizar a candidatura de Marina Silva.

 

Pois bem, quem são os proeminentes 100 cidadãos do mundo que formam esta “bem intencionada” rede que atrai os recursos destas pontas da “elite” econômica e política mundial? Não nos cabe apresentar em detalhe esta rede aqui, mas podemos perguntar-nos: como farão para compatibilizar eticamente sua militância em organizações politicas de diferentes orientações nos seus países e sua fidelidade a uma organização com uma clara ambição de exercer um poder mundial a serviço de seus membros financiadores.

 

Dada nossa preocupação com o processo político presente no Brasil neste momento, nos limitamos a apresentar a lista dos membros brasileiros da Aliança Interamericana, segundo a lista oferecida pelo seu website. (que o leitor pode checar sem maior problema). Nesta lista ocupa um lugar proeminente como possível candidata presidencial a senhora Marina da Silva que levantou uma nova hipótese na luta atual: a possibilidade da renúncia ou derrubada dos atuais presidenta e vice-presidente e a convocatória de novas eleições. Para convoca-la, desde já esta candidatura estará apoiada pelas 108 empresas transnacionais interessadas sobretudo no petróleo do pré-sal mas também de várias outras atividades econômicas.

 

Uma lista bem comprometedora

 

Em seguida citamos a lista entregue pela própria organização em seu sitio eletrônico:

 

Membros Brasileiros:

 

Fernando Henrique Cardoso (Conselho de Administração - Presidente Emérito). Ex-presidente do Brasil e primeiro presidente da Aliança.

 

Luiz Fernando Furlan. Presidente do Conselho da Fundação Amazônia Sustentável e ex-presidente do Conselho de Administração da Sadia – SA.

 

Marcos Jank (Conselho de Administração). Diretor Executivo Global de Assuntos Corporativos (responsável pelas áreas de relações governamentais, relações públicas, sustentabilidade e pelo Instituto BRF; responsável também pelos investimentos sociais da empresa da BRF).

 

Ellen Gracie Northfleet. Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil.

 

Jacqueline Pitanguy. Coordenadora Executiva – CEPIA; Presidente do Conselho Diretor do Fundo Global para a Mulher; Membro do Conselho Curador do Fundo Brasil de Direitos Humanos.

 

Marina Silva. Ex-senadora e Ministra do Meio Ambiente do Brasil.

 

Roberto Teixeira da Costa. ex-Membro da Diretoria da BNDESPAR.

 

Jorge Viana. Senator, Partido dos Trabalhadores.

 

Henrique Campos Meirelles (em licença). Presidente do Banco Lazard Americas.”

 

A presença da candidata a Presidente Marina Silva nesta lista tão seleta pode parecer um arranjo de última hora para influenciar uma possível campanha eleitoral. Não. A senhora Marina Silva é fundadora desta organização que conta com o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso como presidente emérito. Ele foi presidente desta organização em representação da América Latina enquanto Sol Linowitz (importante assessor da família Rockfeller) representava os EUA. Nenhuma destas coisas e muitas outras foram divulgadas na imprensa brasileira que noticia tão amplamente as atividades dos cidadãos aqui citados. Isto se deve ao caráter secreto ou reservado destas ações? Contudo, tudo indica que se trata de atividades “legais” pois estão noticiadas amplamente no sitio eletrônico desta organização (Diálogo Interamericano).

 

Creio que os cidadãos brasileiros têm o direito de ter acesso a este tipo de informação. Creio que deve saber que ninguém chega à disputa do poder político principal de um país como o Brasil sendo um simples “coitado (a)” e que tem atrás dele poderosos interesses políticos, sociais e – sobretudo – econômicos. E está claro que estes interesses são influídos poderosamente pela classe dominante do mundo contemporâneo e se algum trabalhador quer votar nestas pessoas ele precisa saber que está traindo os interesses e as necessidades de sua classe de origem.

 

Mas talvez o leitor prefira escutar a voz do porta voz da Aliança Inter–Americana publicada no Latin Post de 18 de Setembro de 2016, quando ela era candidata a presidente, citando um telegrama da Associated Press::

 

”If she wins, Silva will be the country’s first black (sic) president, AP reports.
“If elected, she has such a remarkable personal story that she’d come to the presidency with a lot of legitimacy, tremendous excitement and high expectations, Michael Shifter, president of the Washington-based Inter-American Dialogue, said.”
 

“Se ela ganha, Silva (Marina) será o primeiro negro (sic sobre a origem étnica de Marina) presidente, disse o informe da Associated Press. Se ela for eleita, ela tem uma história pessoal tão marcante que ela levará para a presidência uma grande quantidade de legitimação, uma excitação tremenda e altas expectativas, disse o presidente do Diálogo Interamericano.” O próprio presidente do Diálogo Interamericano e a centena de grupos econômicos que a financiam, não conseguem ocultar seu entusiasmo.

 

Fica contudo a pergunta bíblica: é possível servir a dois senhores?

 

É possível servir a dois senhores? A resposta de Jesus Cristo ao provocador, a serviço do império romano, foi muito hábil mas definitiva: “ A César o que é de César, a Deus o que é de Deus.” O cristianismo foi a religião dos escravos e dos explorados pelo Império Romano durante séculos. O Império Romano esclareceu a sua opção com a condenação e a execução de Jesus Cristo... No final daquela Era, os cristãos derrotaram o Império Romano e instituiram o Império Bizantino, assumindo o cristianismo como religião de Estado.

 

Esta senhora já tem seu lado. Você vai ajudar seus chefes internacionais que respondem pelos interesses do 1% que manda no mundo e vão colocá-la no governo para disporem de mais este poder no mundo atual? Com sua ajuda seguramente será realizado o desejo das 108 empresas transnacionais que conseguirão possuir o Pré-sal e a tecnologia brasileira que o descobriu e permite explorá-lo. Não sobrará um só centavo para a educação, a saúde e a pesquisa científica e tecnológica que o congresso brasileiro dispôs. Você vai ajudá-los a abocanhar o poder total? E o fará em nome da “moralização” e a proteção ambiental do nosso pais...

 

- Theotonio Dos Santos: Pesquisador Visitante da UERJ, Professor Emérito da UFF, Premio Mundial de Economista Marxiano 2013 (WAPE), Presidente da Cátedra e Rede da UNESCO sobre Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (REGGEN), Premio Latinoamericano e Caribenho de Ciencias Sociais do Conselho Latinoamericano de Ciencias Sociais – (CLACSO, 2015).

 

 

APẼNDICE:

Latin Post
Sep 18, 2014 12:36 PM EDT

 

Marina Silva to Push Cuba Toward Democracy, Work on Relationship With US if She Wins 2014 Brazil Presidential Race

 

By Scharon Harding

 

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A month ago, Marina Silva entered the race to become the president of Brazil, after the candidate from her Socialist Party was killed in a plane crash. Now the candidate, who is in a head-to-head race against the incumbent, has given her first foreign interview since joining the race.


Silva is in a “dead-heat” race with Dilma Rousseff, the incumbent, The Associated Press reports. The incumbent is the candidate for the Workers Party, which Silva helped found.


In her interview, Silva explained how she plans to assuage concerns of Brazilians who lament an ineffective and corrupt political system.


“It’s neither the parties nor the political leaders who will bring about change,” she said. “It’s the movements who are changing us.”


Silva has gained popularity thanks to her past work as an activist for the Amazon rainforest and as an environment minister. During her time as environment minister, she helped her country deter deforestation of its jungles.


“Brazil has a great opportunity to become a global leader by leading by example,” Silva said in reference to environmental and human rights issues. “Our values cannot be modified because of ideological or political reasons, or because of pure economic interest.”


Because of her dedication to human rights, Brazil’s approach toward countries like Cuba, China, Iran and Venezuela may see a different focus if Silva becomes president.


“The best way to help the Cuban people is by understanding that they can make a transition from the current regime to democracy, and that we don’t need to cut any type of relations,” Silva explained. “It’s enough that we help through the diplomatic process, so that these [human rights] values are pursued.”


If elected, Silva also plans to fix the relationship between the U.S. and Brazil. The countries’ relationship has been strained ever since the National Security Agency was found to have targeted Brazilian officials like Rousseff via espionage programs more than a year ago.


“Both nations need to improve this situation, to repair the ties of cooperation,” Silva said. “The Brazilian government has the absolute right to not accept any such interference, but we also cannot simply remain frozen with this problem.”
Brazilians will cast their vote for president on Oct. 5, but the vote is expected to go into a second-round ballot three weeks later.


If she wins, Silva will be the country’s first black president, AP reports.
“If elected, she has such a remarkable personal story that she’d come to the presidency with a lot of legitimacy, tremendous excitement and high expectations,” Michael Shifter, president of the Washington-based Inter-American Dialogue, said.



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