Para não ficar no passado
- Opinión
O Partido dos Trabalhadores realizou, no dia 9 de abril, uma eleição para escolher suas novas direções municipais e zonais, bem como as respectivas presidências.
No mesmo dia foram escolhidos os delegados e as delegadas que vão se reunir nos congressos estaduais que o PT realizará de 5 a 7 de maio, simultaneamente, nos 26 estados e no Distrito Federal.
Nestes congressos estaduais serão eleitas as direções estaduais e presidências, bem como as delegações ao 6º Congresso Nacional do Partido, de 1 a 3 de junho.
A pauta do 6º Congresso inclui cinco grandes temas: cenário internacional; cenário nacional; balanço dos governos nacionais petistas; estratégia-política-programa; funcionamento e organização partidária.
Além de aprovar resoluções sobre cada um destes temas, o 6º Congresso também elegerá um novo Diretório Nacional e decidirá quem ocupará a presidência.
Atualmente há duas pré-candidaturas à presidência nacional do PT: a senadora Gleisi Hoffman e o senador Lindbergh Farias. Mas a inscrição e a eleição devem ocorrer apenas no dia 3 de junho, para um mandato que excepcionalmente será de apenas dois anos.
Na eleição do dia 9 de abril, participaram cerca de 290 mil petistas. Um número expressivo, quando comparado com outros partidos. Mas um número preocupante, quando comparado com a trajetória do próprio PT.
Para efeito de comparação, nas eleições anteriores participaram, respectivamente: 228.637 em 2001; 315.342 em 2005; 327.308 em 2007; 520.417 em 2009; 424.090 em 2013.
A queda na participação fica mais evidente no percentual de comparecimento, frente ao número total de aptos a exercer o voto: 26% (2001), 38% (2005), 38% (2007), 39% (2009), 50% (2013), 18% (2017).
Estes números ainda podem sofrer alterações, a depender do acolhimento ou não de recursos que foram impetrados contra supostas fraudes. Apenas nos estados de São Paulo e Minas Gerais, estão sub judice mais de 20 mil votos.
Somente depois da votação destes recursos saberemos com certeza em quantos municípios a eleição foi considerada válida; quantos delegados e delegadas foram eleitos por cada uma das 121 chapas inscritas; e qual o tamanho da delegação que cada unidade da federação enviará ao 6º Congresso.
Só na segunda semana de maio, depois dos congressos estaduais, será possível ter clara qual será a correlação de forças no Congresso, para o qual foram inscritas dez teses, cujos títulos são: “A esperança é vermelha: Brasil Urgente, Lula presidente!!!”; “Unidade pela reconstrução do PT”; “Avaliar, corrigir rumos e mudar o Brasil”; “Em defesa do Brasil, em defesa do PT, em defesa de Lula”; “Por um partido socialista e democrático! Por um governo democrático-popular!”; “Optei – Em defesa do PT“; “Alternativa: Crítica, Autocrítica e Utopia“, “Avante Militância Socialista ao VI Congresso Nacional do PT”; “Estado de Emergência Petista“; “Lélia Gonzalez – Muda PT com raça e classe”.
Destas teses, a que hoje reúne a maioria de petistas que são dirigentes, parlamentares e governantes é a intitulada “Em defesa do Brasil, em defesa do PT, em defesa de Lula”.
Se esta tese obtiver a maioria absoluta do 6º Congresso, provavelmente teremos mais do mesmo. Mas se obtiver uma maioria apenas relativa, o Congresso pode reservar surpresas. Afinal, pequenas dissidências podem transformar uma maioria relativa em minoria. E vice-versa.
O 6º Congresso ocorrerá num contexto de crise internacional e nacional; de realinhamento entre as diferentes frações do Capital, dentro e fora do país; e também de realinhamento de forças entre os diferentes Estados, em âmbito mundial.
A continuidade da crise iniciada em 2008, combinada com o ascenso do populismo de direita, aprofunda os riscos de guerra, as ameaças contra a soberania nacional, contra as conquistas democráticas e contra os interesses populares.
É neste contexto que ocorreu o golpe no Brasil e vem sendo aplicada a "ponte para o futuro", causando uma deterioração acelerada dos indicadores econômicos e sociais,
Construir uma alternativa de esquerda para a atual situação passa por organizar a Frente Popular, defender os direitos das maiorias, fazer oposição radical aos golpistas, lutar para derrotar e derrubar o governo Temer, garantir o mais cedo possível a realização de eleições presidenciais diretas, batalhar para eleger Lula e se preparar para um governo de enfrentamento, cuja síntese política precisa ser a defesa da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Já para o grande capital e seus representantes, trata-se de ampliar sobremaneira a exploração da classe trabalhadora e aprofundar a internacionalização subalterna de nossa economia. Objetivos incompatíveis com os níveis de liberdades democráticas atualmente existentes.
É por isto que buscam aprofundar o golpe, interditar Lula, inviabilizar o PT, reprimir a mobilização social, judicializar e criminalizar a política, estimulando as alternativas Bolsonaro e Dória, parlamentarismo e inclusive a volta dos militares.
A classe que implementou o golpe não está disposta a aceitar nova eleição de Lula. E como a alternativa "tentar cooptar Lula" não está disponível – entre outros motivos, porque 2018 não é 2002, nem para eles, nem para nós -- a disjuntiva hoje posta para a classe dominante é: ou retirar Lula da disputa ou retirar do calendário as presidenciais de 2018, por exemplo através do parlamentarismo.
O único jeito de deter este tipo de ameaça é não cair na armadilha de discutir um "plano B" e lembrar que, contra a ilegalidade, é legítima a desobediência civil.
* O texto foi publicado na revista Carta Capital edição 949. Esta edição começou a circular no dia 21 de abril.
22 de abril de 2017
http://valterpomar.blogspot.com.br/2017/04/para-nao-ficar-no-passado.html
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