O tal “gigante” (ainda) não está pronto para um Occupy

22/06/2013
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Quando as primeiras manifestações convocadas pelo Movimento Passe Livre (MPL) começaram a ganhar corpo (e mentes), tinha-se a impressão de que a expectativa dos pequenos grupos de Ocupas, que se formaram no Brasil em 2011, enfim, se tornava realidade – mesmo que com um atraso de quase dois anos.
 
Há de se dizer, inclusive, que muitos integrantes do MPL são Ocupas e vice-versa, dependendo do grau do seu envolvimento com um movimento ou outro.
 
Mas poucos dias foram necessários para perceber que o tal “gigante” ainda não está pronto para um movimento do tipo Occupy/Indignadxs em larga escala. A participação massiva da tradicional classe média “brasileira com muito orgulho, com muito amor”, dado o seu imenso grau de despolitização, se deu de forma frontalmente contrária àquela desempenhada por seus pares no chamado, por eles próprios, “primeiro mundo”.
 
Isso porque a despeito de toda a disputa ideológica sobre o termo, a pauta desses novos movimentos anticapitalistas é claramente de “esquerda” – algo que essa classe média só consegue associar ao PT ou à cor “vermelha”.
 
Já a participação da periferia e da chamada “nova classe média” também aconteceu de maneira difusa. Uns participaram por não terem nada a perder; outros, por quererem mais do que o consumo pode oferecer, ou seja, serviços públicos em quantidade e de qualidade. Aqui se viu os frutos do descolamento dos reais interesses dessa nova classe alargada, que alguns estudiosos chamam de "precariado", e aqueles adotados pragmaticamente pela esquerda tradicional, partido ou movimento social, após o PT ter chegado ao poder. 
 
Para que não haja dúvidas, a pauta dos novos movimentos anticapitalistas passa por protestar contra: corporações transnacionais que exploram pessoas e países; acordos de comércio desiguais; condições de trabalho injustas; destruição do modo de vida de indígenas e camponeses; criminalização dos pobres; e, principalmente, contra o esvaziamento da democracia representativa, subjugada à lógica econômica neoliberal global.
 
Posto isso, é necessário reforçar que os "neo-cara-pintadas" entenderam tudo errado – e pior, à “direita”, reproduzindo “velhas” práticas em um contexto que exige algo completamente novo. Os ares trazidos por movimentos como Occupy/Indignadxs são taxativos em afirmar que o problema é o sistema capitalista neoliberal global e não a "corrupção"; que o que está em jogo não é uma "nação", nem um "povo" específico – o que passa a noção de um grupo homogêneo unido -, mas sim, uma "multidão" sem pátria, que vê como bem-vinda a diferença entre seus membros.

Por outro lado, a esquerda tradicional também tem que entender que a "multidão", que conscientemente saiu às ruas junto com o MPL, não é mais a "massa" que ela estava acostumada a lid(er)ar - com sua visão de vanguarda que nivela as diferenças e as potencialidades das pessoas -, mas uma "multidão" que abarca diferentes formas de expressão, identidades múltiplas, vários tons de cores.
 
Enquanto ambos ignorarem que o “novo”, como dizem os zapatistas no México – principal inspiração do MPL e do Occupy –, de fato, só tem como surgir de maneira horizontal, “abaixo e à esquerda”, e não de um slogan de partido ou de práticas burocráticas viciadas, o “velho” continuará a sufocar a auto-emancipação dos que lutam. Ambos têm de levar a sério, e não só falar da boca para fora, o que um dos nossos maiores pedagogos já dizia, à frente do seu tempo: “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”.
 
P.S. "O Gigante Acordou" também foi jargão na Marcha da Família, no Golpe de 64. Foto do livro "Marcha com a Família..." publicado em 1964 com o cartaz "O Gigante Acordou".
 
 
https://www.alainet.org/en/node/77023
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