ALCA, o neocolonialismo americano
22/02/2002
- Opinión
Desde Simon Bolivar, o sonho de integração da América paira sobre nós
como uma esperança de união de povos marcados por uma trajetória comum
de colonização. Um sonho de União baseado na fraternidade e na
solidariedade.
Mas esta esperança parece não ser compartilhada pela maioria dos
governantes do continente americano. Pois quando falam em integração
americana, apontam a ALCA. Uma proposta que desconsidera a
solidariedade garantindo direitos e vantagens ao grande capital sem se
preocupar com as regiões e setores menos favorecidos.
A ALCA poderá representar um neocolonialismo e não a união dos povos
americanos. A proibição de importação de outros países, que havia na
era colonial, será substituída por um mecanismo mais sofisticado, que é
a vantagem tarifária para os produtos vindos da metrópole.
A proibição formal de instalação na colônia, de indústrias de capital
nacional, será substituída por uma proibição tecnológica pois a brutal
vantagem competitiva dos conglomerados metropolitanos poderá impedir o
nascimento de atividades econômicas locais.
A garantia que os cidadãos metropolitanos tinham de serem regidos pelas
Leis de seu país, mesmo estando em solo colonial, poderá ressurgir
transfigurada em uma legislação que garante a rentabilidade dos
investimentos externos no nosso país. Ou seja, se, por exemplo,
resolvermos adotar legislações ambientais mais rígidas que impliquem em
custos de preservação do meio ambiente para as indústrias
multinacionais aqui instaladas, provavelmente teremos que indenizá-las
pela redução de seus lucros.
A situação clássica do colonialismo, no qual exportávamos matérias
primas e importávamos produtos industrializados acabados, ameaça
retornar. A abertura abrupta e descriteriosa de nossa economia a esta
nova metrópole, num cenário internacional caracterizado pela contínua
queda dos preços dos produtos primários e pela alta capacidade
tecnológica e competitiva dos EUA, poderá permitir uma ampliação de
nossas exportações de produtos básicos, semi-elaborados ou pouco
industrializados. Mas, certamente, em contrapartida, teremos o
crescimento das importações de produtos com alto valor agregado. Nossa
dependência deverá se ampliar. Como se não bastasse tudo isso, há
ameaças muito mais graves na proposta da ALCA pois envolve muito mais
que questões comerciais e tarifárias. Eles querem ressucitar o Acordo
Multilateral de Investimentos, o MAI, que pela correta ação do
movimento social europeu foi impedido de vigorar no âmbito da OCDE.
Agora que os EUA não conseguiram convencer, os europeus querem nos
provar que isto é bom para o Brasil e para a América Latina.
Com o MAI não poderá mais haver distinção entre empresa nacional e
estrangeira. Não será mais possível elaborar políticas que desenvolvam
e fomentem o empresariado nacional. Tudo que beneficiar as empresas
brasileiras deverá estar disponível também para as norte-americanas. E
mais, haverá abertura para a intervenção privada em todas as áreas.
Com isto, nenhum país poderá proibir a presença da iniciativa privada
em áreas como saneamento, saúde e educação. Se ele for plenamente
implementado, o capital especulativo terá livre mobilidade e, caso
sejam impostas barreiras, os governos terão que indenizar os
especuladores pelas suas perdas.
Não há como desconsiderarmos isto. Não queremos um futuro que retrate
o passado. A constituição da ALCA não representa uma certeza
inexorável. É necessário esclarecer e mobilizar a população latino-
americana. Não Podemos aceitar a implementação da ALCA, pois o que
está em jogo não é a liberdade econômica. O que está em jogo é a
soberania nacional dos povos latino-americanos. O reforço e a
qualificação do MERCOSUL é prioritário.
Olívio Dutra, Governador do RS
http://www.estado.rs.gov.br/welcome.php
https://www.alainet.org/es/articulo/106052
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