Os seres de plástico

20/02/2007
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O ideal hoje, levando em conta o avanço tecnológico e a terminologia dos robôs que pululam em todos os cantos, seria dizer os seres de “resina”. Ou os seres com chips. Hilary Clinton fez uma avaliação sobre o seu casamento com Bil Clinton e concluiu que é preferível manter os laços com o marido e ex-presidente, pois isso vai ajudá-la no caminho para a Casa Branca. Se chega ou não é outra história, mas ajuda.

As eventuais incompatibilidades do marido não afetam o chip presidencial colocado na senhora em questão, senadora, aliás. Vai tocando o barco à medida dos interesses e objetivos de tomar conta dos botões que determinam os rumos do mundo inteiro.

Quem assiste, isso é curioso, cinema americano, “Shane”, um clássico do western e percebe toda a exposição da alma humana ali, é capaz de entender o que são seres humanos e seres de plástico, ou de resina. Ou “A Última Diligência”, do notável John Ford.

Naquele tempo não haviam chips. Nem fundações, tampouco celulares. Não era possível fotografar alguém sem que esse alguém soubesse e depois transformá-la em algo que não é e nunca foi.

É possível, no entanto, criar a consciência chip e aos poucos ir introduzindo o próprio. Aprisiona almas em imensos prédios de andares repletos de tudo que se possa imaginar e tornam o coração uma abstração.

Juntar cacos é um exercício permanente nessa nova idade Média.

Bento XVI, um dos principais porta-vozes do Departamento de Estado norte-americano na Europa, está a arrumar uma quizumba sem tamanho com o governo da Itália. Um dos compromissos de campanha do primeiro ministro Romano Prodi era o de legalizar os chamados casamentos de fato. A medida beneficia cerca de 500 mil casais italianos, algo em torno de um milhão de pessoas, a maioria esmagadora de católicos.

O líder nazista que governa o Vaticano abespinhou-se, colocou as “tropas” nos jornais, na mídia, convocou das catacumbas lideranças desaparecidas desde a inquisição e ameaça céus e terra com atitudes condenatórias capazes de levar ao inferno quem quer que se aventure a desrespeitar a bandeira do pequeno Reich no qual se transformou, desde João Paulo II, o Vaticano.

Imagino que sonhe com as velhas monarquias absolutas da Europa, nas quais os papas entre um veneno e outro, coroavam os monarcas e os ungiam em nome do Senhor. Senhor deles, evidente. Há uma disputa ensandecida nos dias atuais pelo privilégio de ligações diretas e constantes com o Criador.

Bush fala direto e invade o Iraque. Escuta vozes quando está sozinho. Bento XVI prepara a volta do garrote vil no melhor estilo da OPUS DEI. Espalha Marcelo Rossi pelo mundo inteiro, assim como os americanos vendem a boneca Barbie e entre nós a GLOBO glorifica e endeusa Xuxa.

No meio de tudo isso, esperto como ninguém, Edir Macedo (deve ser mal do nome) vai com sua pastinha comendo o mingau pelas beiradas e explicando direitinho como ajudar meu candidato, como não complicar as coisas para mim e virando senhor absoluto, em vários países do mundo, do “processo de recuperação dos lucros absolutos e das propriedades suntuosas no céu”. São as de quem dá mais. Quem dá menos vai morar em favelas celestiais mesmo.

E os seres vão se transformando nessa disputa de poder, que é meramente econômica, pelos negócios do mundo. Da mesma forma que se extirpa o clitóris de meninas muçulmanos num atraso pré-medieval, a ministra de qualquer coisa na Itália fez voto de castidade desde a juventude e não admite o reconhecimento dos casais de fato.

Macedo e seus seguidores já abriram as portas para uni-los a um preço módico.

As religiões por vários dos seus setores se constituem hoje fator de terrorismo psicológico dos mais graves e associam-se à mídia, no papel de criar o ser de plástico, de resina, do que seja com chips de medo e pânicos implantados nos vazios deixados pelas almas e corações roubados e aprisionados sob a guarda de Turquesada.

Os que resistem são punidos. Os que teimam em considerar o amor como ato fundamental da Criação e da vida são expurgados.

Descobriram que além do medo e do pânico, existe o histerismo dos gritos de aleluia, aleluia, com sorteio de brindes no final.

Meros instrumentos do capitalismo entre nós, de uma certa forma, resistência de muçulmanos ante a barbárie das novas cruzadas. Não foi por outra razão que Herr Reichtzinger criticou o profeta Maomé.

Marx afirmou que a “religião é o ópio do povo”, numa espécie de poema. Não o fez no bojo de sua obra política.

Tinha e tem esse sentido. Nos momentos agudos do processo histórico as igrejas cristãs têm sido agentes da opressão e da violência em todos os seus sentidos.

E, hoje, com direito a Xuxas de batinas, caso do brasileiro Marcelo Rossi.

O que acontece na Itália é apenas uma pálida demonstração da intolerância católica diante da realidade. Aceitar casais de fato como casais casados não significa legalizar a prostituição como pretende o papa. Essa é outra discussão.

A prostituição hoje vem disfarçada de uma falsa liberdade, estimulada pela própria mídia e termina em um monte de anti-depressivos e suicídios. É só sintonizar, em qualquer país do mundo as múltiplas versões do BBB.

Ou de medos e pânicos em pessoas decentes.

Querem transformar a vida num imenso deserto de almas e corações. Mas querem o petróleo, a água, o poder de destruição e os bichos papões dentro de cada ser humano atemorizado no desvario do ressurreto nazi-fascismo religioso (ressurreto em sua brutalidade) e nos bilhões de homens e mulheres marchando pelas ruas segundo os ponteiros dos relógios, se imaginando gente e parte de um processo de construção de um novo mundo.

O mundo Mad Max deles. O dos castelos revestidos das tecnologias esmagadoras e destruidoras e o dos arredores, onde campeia a miséria em todos os seus sentidos. Desde a fome, ao desemprego, até a suposição que determinadas grifes ou marcas nos insere nessa realidade devastadora.

O que Bento VXI chama de salvar a família é garantir o poder terrorista das religiões medievais, ou pré-medievais. E os lucros, evidente.

Os seres, cada vez mais, são de plástico, ou de resina, nascem com chips do sim senhor, faremos tudo, não posso me atrasar, o patrão é bondoso, respeitoso e ajuda. As pastinhas que carregam têm os ingredientes da paz e da harmonia. E as fotos da glória suprema da chantagem.

Qualquer dúvida o psiquiatra resolve.
https://www.alainet.org/es/articulo/119353
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