A nação conta com todos
30/10/2002
- Opinión
O Brasil elegeu seu novo presidente. Para alguns, é motivo de alegria; para outros, de decepção. E diante da realidade já definitiva, a nação se defrontará com o desafio do novo que chegou e veio para ficar pelos próximos quatro anos. Trata-se de um novo momento em todos os sentidos. Saímos de um governo que durou dois mandatos. Portanto, saímos de oito anos do mesmo presidente, que impôs uma linha de governo, com prioridades, diretrizes de ação, estilo de governar. Vamos agora deparar-nos com outra pessoa eleita pela maioria do voto popular. É, portanto, uma inteiramente nova situação não apenas para o vencedor do pleito mas para 170 milhões de brasileiros que ansiosos olham seu rosto e nele tentam adivinhar seu futuro. Como toda disputa, essa eleição, em seu segundo turno, teve um vencedor e um vencido. Alguém que obteve maioria absoluta dos votos válidos e outro que não a obteve. No entanto, uma disputa que se resume a esse resultado final com vencedores e vencidos não é nem pode ser aquilo por que a nação brasileira aspira e deve aspirar. Nesse sentido, pode ajudar-nos o conceito bíblico de paz = a shalom hebraica, a paz dinâmica e plural que perpassa as vicissitudes do povo de Deus, sem suprimir as diferenças e os conflitos. Ela faz e poderá fazer, se for praticada no novo Brasil que se delineia a partir desta eleição, que tanto governante quanto governados se submetam à verdade onde quer que ela se encontre e de onde quer que ela venha. Ela ajuda a que governo e oposição venham a aceitar o pluralismo de perspectivas e nomes, qualquer que ele seja e onde quer que pulse o coração da vida , anunciando estar ali acontecendo uma experiência positiva. A prática dessa shalom ajudará o presidente eleito a tomar consciência de que mesmo os militantes do seu partido estão constantemente expostos a outras correntes e que , portanto, precisam ser ajudados a interagir e aceitar essa maneira plural de ser, de crer e de viver em nome da continuidade do processo democrático. Isso implicará então "sair "da sua pertença política sem renegá-la. Implicará saber olhá-la também com os olhos dos outros, e não apenas expandi-la massivamente e sem reflexão. E somente uma tal "saída"poderá levar o país para adiante, cheio de dons, riquezas da herança que pertence a todos . Certamente o novo presidente desejará implementar sua linha e estimular a que aconteçam as prioridades de seu programa de governo. A oposição seguramente funcionará para ele e seus ministros como uma vigilância e crítica constantes às quais deverá sempre estar atento e prestar contas. No entanto, se sua opção for governar excluindo os que pensam e agem de maneira diferente e têm outra linha política que a sua, certamente privará a nação de andar mais depressa em direção ao grande salto qualitativo que deve dar para sair da pobreza e da opressão em que hoje estão mergulhados muitos milhões de seus cidadãos. Para isso, todas as forças vivas do país deverão ser mobilizadas. Ninguém que tiver uma contribuição positiva para dar deverá ser excluído apenas por pertencer a uma linha partidária diferente. Neste amanhecer de novos tempos, a nação conta com todos. E o novo presidente certamente desejará que seja assim. Isso só poderá ajudá- lo a desempenhar de maneira mais satisfatória e positiva a árdua e bela missão que tem pela frente. Diante desse imenso desafio, é preciso contar com todos sem exceção. É preciso governar inclusivamente. Isso só poderá enriquecer governo e governante, seja quem for que forme seu gabinete e seu ministério. A shalom, inclusiva e plural, deverá ser meta primordial para quem deseja exercer o governo da nação como arte de realizar o bem comum. E por isso deve fazer parte da agenda para os tempos novos e para o novo Presidente. Que Deus o abençoe, Presidente. Conte conosco! Conte com todos! * Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga
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