Fome zero e dívida pública
31/01/2003
- Opinión
No mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o seu mais
ambicioso programa de governo, o Fome Zero, que custará R$ 6 bilhões este ano, o
Banco Central informou que a dívida pública consumiu R$ 113,978 bilhões em juros em
2002, último ano da administração de Fernando Henrique Cardoso.
Os gastos com juros equivalem a 19 anos de Fome Zero. Em relação a 2001, houve
aumento de 32% nessas despesas. A maior parte desse dinheiro foi parar nos cofres
dos bancos e dos fundos de investimento.
A cada dia do ano passado, o governo (União, estados e municípios) desembolsou
R$ 312,268 milhões para seus credores. Os gastos com juros foram tão altos no ano
passado, que corresponderam a mais de duas vezes o superávit primário (receitas
menos despesas, sem levar em conta o custo da dívida) registrado no período, de R$
52,364 bilhões. Ou seja, descontando o superávit, o setor público fechou 2002 com um
rombo de R$ 61,614 bilhões, equivalente a 55,9% do PIB. Fernando Henrique ainda
deixou outra herança assustadora para o país: uma dívida bruta de R$ 1,132 trilhão.
Os estados foram os mais punidos pelo pagamento de juros. Dos R$ 113,978
bilhões pagos no ano passado, arcaram com R$ 52,321 bilhões. Isso aconteceu porque a
dívida dos estados, que foi renegociada pela União, é corrigida, em média, por juros
de 13% ao ano mais a variação do IGP-DI, índice de inflação que atingiu 25% em 2002.
O desembolso do governo federal foi de R$ 49,598 bilhões. Os gastos dos municípios
bateram em R$ 9,770 bilhões (...).
* Vicente Nunes, in: Jornal Correio Braziliense, 31 de janeiro de 2003, Brasília/DF, página 11.
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