Guatemala estremece: o ditador Ríos Montt está de volta
03/09/2003
- Opinión
A impunidade na América Central avançou mais um passo: o
general Efraín Ríos Montt, um dos responsáveis pelo
terrorismo de Estado nos anos 80, foi agraciado pela
Corte de Constitucionalidade, numa votação inédita de
quatro a três, no dia 14 de julho deste ano, com sua
inscrição a candidato a presidência da República. Esta
decisão fere o artigo 186 da Constituição daquele país,
em que se proíbe a participação em processos eleitorais
de pessoas envolvidas em golpes de Estado.
Dez dias depois, a cidade da Guatemala foi convulsionada
por atos violentos, que atingiram diretamente a
repórteres e estabelecimentos de importantes meios de
comunicação que denunciavam a gravidade desta decisão.
Pancadaria, destruição de prédios públicos e privados,
tumultos em vários pontos da cidade, foram cometidos por
mascarados com a conivência da polícia.
No final de agosto, a Procuradoria de Direitos Humanos,
que investigava estes e outros atos de violações de DDHH,
foi invadida, sua documentação destruída e a vida do
Procurador, Dr. Sérgio Morales, ameaçada. Assim como ele,
vários auxiliares de procuradorias no interior do país
foram ameaçados de morte e, em junho deste ano, foi
assassinado o Sr. Israel López López, auxiliar da
procuradoria em Chimaltelnango.
Iniciativas intimidatórias como as citadas, com a
conivência das forças de segurança, trazem a marca das
práticas autoritárias e truculentas implementadas no
governo Ríos Montt; assiste-se a uma reativação do
ambiente de arbitrariedade, violência e medo e a
população e os defensores de DDHH se encontram em
situação de risco. O ditador, treinado na Escola das
Américas onde se capacitou para o exercício da tortura e
assassinato, ocupou a presidência da república através de
golpe militar e foi responsável pelo genocídio de
diversos grupos étnicos e pela onda de repressão que
ceifou 70 mil vidas. Este personagem indesejável é
apontado no informe da Comissão para Esclarecimento
Histórico como responsável por massacres e crime de lesa
humanidade.
Sua candidatura, pelo partido que está no poder, imposta
através da violência, do medo, da prática de impunidade
merece nosso mais veemente repúdio.
Ao povo da Guatemala e aos defensores dos Direitos
Humanos da Guatemala nosso total apoio e solidariedade.
É necessário e urgente:
1- a adoção de medidas eficazes de proteção da vida e
integridade física e psicológica dos membros da
Procuradoria de Direitos Humanos;
2- dar início a uma rigorosa investigação sobre a invasão
dos escritórios da Procuradoria dos Direitos Humanos, com
o objetivo de identificar e punir exemplarmente os
envolvidos;
3- assegurar a aplicação do que se dispõe na Declaração
sobre os Defensores de Direitos Humanos adotada pela ONU
em 9 de dezembro de 1998;
4- que se respeite o disposto na Declaração Universal dos
Direitos Humanos, Pactos e Convenções Internacionais e
Regionais, ratificados pela Guatemala.
Estaremos unidos através de uma rede de apoio e
solidariedade, reunindo esforços no país e fora dele, no
envio de mensagens para:
- S.E. Lic. Alfonso Antonio Portillo Cabrera, Presidente
de la República de Guatemala
Dirección electrónica: secgralp@terra.com.gt
- Comisión Presidencial de Derechos Humanos
Dirección electrónica:copredeh@guate.net
- Sr. Julio Arango, Procurador par los Derechos Humanos
Dirección electrónica: opdhg@guatenet.net.gt
- Sr. Edgar Gutierrez, Ministro de Relaciones Exteriores
Dirección electrónica: mint@mieno.gt
https://www.alainet.org/es/node/108295