Movimento Indígena rompe com o Governo
04/09/2003
- Opinión
No mesmo dia em que o Diário Oficial da União publicou a nomeação do
novo presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), o antropólogo
Mércio Pereira Gomes, lideranças indígenas das diferentes regiões do
país, reunidas em Brasília, decidiram, nesta quinta-feira, 04 do
presente, romper com o governo e iniciar a realização de uma série
de ações de desagravo contra essa decisão. Ao terem conhecimento da
portaria nº 1423, assinada pelo ministro chefe da Casa Civil, José
Dirceu, indignadas, as lideranças decidiram antecipar mobilizações
que vinham planejando, desde que identificaram que a política
adotada pelo governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva até o
momento era de descaso e marginalização a respeito da implementação
dos direitos e demandas dos povos indígenas.
Desde a demissão de Eduardo Almeida, há cerca de um mês, as
organizações indígenas vêm negociando com o Ministro, Márcio Thomaz
Bastos, a indicação do líder indígena Antônio Apurinã para a
presidência da Funai. Essa seria uma forma de Lula cumprir o
compromisso assumido durante a Campanha Eleitoral. No Documento
Compromisso com os Povos Indígenas, parte de seu Programa de
Governo, o então candidato se comprometeu a "estimular a
participação de pessoal indígena em funções dirigentes e técnicas no
órgão indigenista oficial e nas repartições públicas encarregadas da
saúde e educação indígenas, assim como outras áreas de atuação".
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
(Coiab), preparou um documento, enviado, no dia 03 de setembro do
corrente, ao Presidente da República, Ministro da Justiça e outras
autoridades, repudiando a decisão do governo e criticando a ausência
de diálogo com o movimento indígena por parte deste governo, que, em
tese, tem compromisso com as minorias e com as questões sociais do
Brasil.
Mobilização
A partir da terça-feira, 09/09, cerca de mil líderes indígenas de
todo o Brasil estarão em Brasília, para uma série de atividades
programadas para demonstrar a insatisfação dos povos indígenas com o
rumo das decisões do governo, contrário às suas reivindicações, e
para pressionar o governo a voltar atrás na nomeação de Mércio
Pereira Gomes.
"Exerceremos todo os nossos direitos, que o regime democrático
permite, faremos público o que pensamos e queremos, exigindo do
governo que respeite as nossas demandas históricas e protagonismo
até agora abafado, por práticas autoritárias e manipuladoras, como
já está acontecendo nesses dias, pois sabemos que o novo presidente
da Funai, já está fazendo articulações, tentando cooptar lideranças,
para dividir o nosso movimento", declarou o coordenador geral da
Coiab, Jecinaldo Barbosa Cabral / Saterê Mawé.
As atividades da mobilização indígena nacional acontecerão em frente
à sede da Funai, em Brasília, e serão coordenadas pela Coiab,
organização que articula a mais de 75 organizações regionais da
Amazônia Legal, a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do
Nordeste, Minas e Espírito Santo (Apoinme) e outras organizações
indígenas do sul, sudeste e centro-oeste do país.
Para outras informações pode entrar em contato com o escritório de
representação da Coiab em Brasília, pelos telefone (61) 3235068;
fax: 2240840; e-mail: coiabdf@ibest.com.br
Manaus, 05 de setembro de 2003.
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
https://www.alainet.org/es/node/108310
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