Tribunal Internacional Popular sobre os Transgênicos
11/03/2004
- Opinión
Nesta quinta-feira, milhares de pessoas lotaram o Auditório Araújo
Viana, em Porto Alegre para acompanhar o tribunal sobre os
transgênicos. Após a exposição dos peritos, da acusação, da defesa e
do pronunciamento dos jurados, o Juíz José Felipe Ledur proferiu a
sentença que segue abaixo:
O corpo de jurados do Tribunal Internacional Popular sobre os
Transgênicos, reunido em sessão de debates e julgamento no dia 11 de
março de 2004, assim decidiu, por unanimidade, que não há evidências
científicas suficientes de que os transgênicos não prejudicarão o
meio ambiente, a biodiversidade e a saúde humana.
Decidiu também, por unanimidade, que não há informações suficientes
aos agricultores e consumidores sobre o assunto, bem como que o
processo de análise, a emissão de pareceres e o monitoramento sobre
testes e liberação comercial dos transgênicos não têm se dado de
forma suficientemente cautelosa e participativa.
Quanto à conduta das rés, Empresa Monsanto S.A e Federação da
Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul - FARSUL, decidiram os
jurados, por unanimidade, por sua condenação por serem responsáveis
pela disseminação ilegal das sementes transgênicas, colocando em
risco o meio ambiente, a biodiversidade, a saúde da população, o
patrimônio genético agrícola existente e a economia brasileira.
De outro lado os jurados entendem que órgãos públicos são co-
responsáveis por essa prática.
Diante do veredicto do Corpo de Jurados, este Tribunal chega às
seguintes conclusões:
1. Não há estudos suficientes sobre a introdução dos organismos
geneticamente modificados na produção e no consumo, devendo,
portanto, ser realizados estudos independentes que atestem a
segurança destes produtos.
2. Que as Rés Monsanto S/A e Federação da Agricultura do Estado do
Rio Grande do Sul, FARSUL, com a conivência de órgãos estatais,
contribuiram para a disseminação ilegal dos transgênicos no Brasil,
o que pode caracterizar crime de contrabando, definido no artigo 334
do Código Penal e disseminação ilegal de Organismos Geneticamente
Modificados, previsto no art. 13, inciso V, da Lei 8.974/95.
3. É necessário que o Congresso Nacional ouça a sociedade, através
de uma ampla consulta, para que na nova Lei de Biossegurança, em
trâmite no Senado Federal, sejam atendidos aspectos sociais,
ambientais e científicos. Além disso, que na lei de Biossegurança a
ser aprovada, seja contemplado o Princípio da Precaução, com a
garantia da realização de estudos de impacto ambiental antes da
liberação de organismos transgênicos, seja para fins comerciais,
seja para fins de pesquisa.
Ante estas conclusões, este Tribunal determina, ainda, as seguintes
providências:
A. Interpele-se a empresa Monsanto S/A, para que esclareça quais as
modificações genéticas contém as sementes que vendeu na Argentina
desde 1995 até 2004, em particular as espécies de gen ou genes
introduzidas nas sementes modificadas.
B. Seja solicitado ao Ministério Público a instauração de inquérito
para que se apure a prática de contrabando e disseminação ilegal de
Organismos Geneticamente Modificados pelas Rés, bem como a
responsabilidade de agentes públicos de fiscalização.
C. Que os órgãos de fiscalização ambiental implementem políticas
efetivas capazes de reverter a disseminação das sementes
transgênicas no Brasil, ocorrida em total desacordo com a legislação
vigente, e que providenciem o cumprimento da lei referente à
rotulagem de produtos de origem transgênica.
Encaminhem-se cópias das denúncias aqui apresentadas, bem como os
fatos aqui debatidos, para que, quem de direito, tome as
providências que lhe couber:
Aos Relatores Especiais de Meio Ambiente e Alimentação da
Organização das Nações Unidas - ONU;
Ao Conselho Econômico e Social da Organização dos Estados Americanos
- OEA e da ONU;
Á Presidência da República;
Ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e ao
Ministério do Meio Ambiente;
Aos Presidentes da Câmara e do Senado.
Por fim, o Tribunal conclama, ainda, a sociedade civil a continuar a
exercer a fiscalização e a participação em temas de interesse desta
e das futuras gerações.
Porto Alegre, aos 11 de março de 2004.
José Felipe Ledur, Presidente do Tribunal
https://www.alainet.org/es/node/109579
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