O PT e sua crise
17/02/2005
- Opinión
Ao chegar aos 25 anos, o PT vê-se dessangrado por uma crise aparentemente sem saída. O partido que veio para mudar é o sustentáculo de um governo cada vez mais comprometido com o status quo e o continuísmo. Lula governa de costa para seus compromissos históricos, em nome de um pragmatismo que muitos de seus companheiros consideram uma capitulação.
A lista de concessões é enorme e chocante: submissão às imposições do FMI, através de políticas que só favorecem os ricos e os grandes grupos econômicos; distanciamento dos movimentos populares, a começar pelo MST, antes tão ligado ao partido, e que, em reação, já promete um “ano vermelho” para 2005; abandono das promessas de mudança social, descambando para um assistencialismo vulgar e inconsistente, que o aproxima dos partidos conservadores e fascistas; desprezo por áreas que eram fortes bases suas, como a dos servidores públicos, a indianista e a ambiental; aburguesamento de seus quadros, a exemplo do próprio Lula, hoje badalada figura do jet-set internacional.
Para um número crescente de militantes, o sonho acabou. É o que dizem os 112 que deixaram o partido em Porto Alegre, durante o Fórum Social Mundial, ou milhares de outros que por todo o País não escondem a sua desolação. Ou o que vem afirmando, já há tempos, o economista Chico de Oliveira, um dos pais fundadores do PT. Para ele, num supremo anátema, “o PT e o PSDB atualmente são lados da mesma maçã, irmãos siameses”. E ainda: seus dirigentes renderam-se às benesses do poder, aburguesando-se. Constituem hoje, afirma também, uma espécie de nova classe, obcecada em tirar proveito da situação. Ao que alguém de fora, mas não distante, o cientista político e historiador Leôncio Martins Rodrigues, acrescenta com igual estupefação: “estão se lambuzando”.
É longa a relação daqueles, filiados ou simpatizantes, que vão se afastando do partido e do governo: Chico de Oliveira, Frei Beto, Pinguelli Rosa, Carlos Lessa, Fábio Comparatto, Fernando Gabeira, Plínio de Arruda Sampaio Júnior, Heloísa Helena, Milton Temer, Leandro Konder, os deputados Babá e Luciana Genro, para ficar apenas nos mais notórios.
Em compensação, o governo recebe preciosas adesões da outra margem do rio: os tecnocratas do FMI, os senhores de Davos, os banqueiros da Febraban, o PP de Maluf, o ex-presidente do BankBoston Henrique Meirelles, a Monsanto e seus sócios do agrobusiness, os Sarney, pai e filha, Roberto Jefferson, o intrépido comandante da tropa de choque de Collor, e outros brilhantes e variados espécimes da mesma fauna.
Chegando onde chegou, ao PT só resta ir em frente, renunciando de vez as suas inspirações políticas e ideológicas e deixando-se dominar apenas pela preocupação em manter-se no poder a qualquer custo.
Não faltam precedentes históricos dessa conversão à direita de partidos de esquerda ou que se diziam de esquerda. Um deles, mais perto de nós, é o do PRI mexicano. Nascido de uma revolução popular e antiimperialista, no poder acabou se tornando uma caricatura de si mesmo, passando a servir aos interesses que sempre combatera. O PRI parece ser o espelho em que miram os olhos deslumbrados do PT, também depois de haver chegado ao poder.
Por isso, o constrangimento em torno das comemorações do 25º aniversário, que foram adiadas de 12 de janeiro, data de sua fundação, para outro dia até agora não confirmado. No fundo, o PT de hoje teme olhar sobre seu passado e nele não reconhecer-se.
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