Um novo jeito de ser igreja
17/07/2005
- Opinión
Amanhã, dia 19 de julho de 2005, inicia-se o XI Intereclesial
Os eventos históricos têm forma e significado. Ambos nos falam. A
forma veste-se de cores e sons. É a parte exterior que nos fere os
sentidos. No mundo das comunicações sociais e da visibilidade, cuida-
se particularmente desse aspecto externo do evento. Com o olhar
analítico da sociologia e com a perspicácia da fé, descobrimos
dimensões mais profundas de sentido e de transcendência.
A geografia é Minas. Região do aço. Lá se reunirão [a partir de amanhã,
dia 19 de julho] milhares de representantes de CEBs, bispos,
assessores e organizadores num magno evento eclesial. A coreografia
dos Intereclesiais guarda uma tradição de beleza, de vida, de
entusiasmo. Vibra-se durante vários dias. Os ânimos se recarregam por
muito tempo, para viver o cotidiano cinzento das pequenas comunidades
e compromissos, não raro, penosos.
Somente pelo acontecer visível valem o esforço e o trabalho de vários
anos de preparação. É o desaguar de infinitas dedicações extremas de
muita gente, especialmente da Comissão Ampliada e da região anfitriã.
As pessoas trabalham até a exaustão de suas energias. Os problemas, os
imprevistos, as tensões inundam diluvialmente as pequenas ilhas das
equipes de organização.
É uma azáfama sem medida.
Olhando a superfície de uma mina de ouro não se tem idéia da riqueza
que se esconde no seio da terra. Assim os organizadores e
participantes dos Intereclesiais apenas se podem dar conta da riqueza
eclesial que eles significam, não só para a Igreja da região e do
país, mas para muito além.
Eles manifestam o gestar de “ um novo jeito de ser Igreja”. L. Boff
forjou o termo técnico de “eclesiogênese”. Acontece uma gênese, uma
geração, um parir de uma nova forma de a Igreja Católica se organizar
e se manifestar para fora. Aí está o mais importante desses encontros.
Depois do apagar das luzes da grande celebração festiva, teólogos,
agentes de pastoral e representantes das bases se recolhem no silêncio
da reflexão e da oração para descobrir as linhas de Deus do novo
tecido eclesial. Dessa maneira, tece-se lentamente a malha interna da
Igreja, que nasce do povo pela força do Espírito.
Desde os primeiro Intereclesiais de 1975 e 1976, vem se repetindo essa
expressão tão carregada de fé e esperança de uma Igreja
preferentemente formada por comunidades de base. Lá estão os pobres,
os principais amados de Deus.
Nos anos do regime militar, os Intereclesiais, além do significado
eclesial, constituíam um momento de conscientização e organização
política.
As forças da repressão se abatiam contra eles com pressões,
fiscalizações, controle. Nem faltou o caso de agentes dos órgãos de
segurança subirem a telhados de casas para filmarem de longe os
participantes desses Encontros na certeza de que ali estavam muitos
líderes camponeses e operários.
Hoje o clima é diferente. O significado político perdeu o caráter de
quase exclusividade da organização popular, já que há espaço para
outras formas de atuação do povo. O MST transformou-se na maior
expressão dessa natureza no Brasil. No entanto, em termos eclesiais
aumentou a importância do Intereclesial precisamente por se viver um
tempo de refluxo restauracionista e centralizador. Excelente medicina
para os vírus de autoritarismo, clericalismo e espiritualismo
desencarnado.
- Pe. João Batista Libânio é teólogo católico, escritor e professor do
CES da Companhia de Jesus
https://www.alainet.org/es/node/112487
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