Novos ícones da masculinidade

20/03/2006
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Novo e recente estudo realizado por empresa de seguro médico britânica verificou que os homens estão ficando cada vez mais críticos com relação a seu físico e sua aparência, ao mesmo tempo que se mostram infelizes com certas partes de seu corpo. Ou seja, aumentou a preocupação - ou mesmo a obsessão - masculina com o próprio corpo e a forma física. Aquilo que até agora era ­ teoricamente ao menos - apanágio das mulheres, se explicita como sendo também importante para os homens. Bombardeados por físicos atléticos, modelos e celebridades com corpos perfeitos, e pressionados por suas parceiras no sentido de adquirir uma aparência melhor, os homens vivem hoje uma crise de confiança na própria imagem. Inseguros, desejam romper limites e ultrapassar barreiras de beleza. E carregam dentro de si aspirações e imagens icônicas que seriam para eles representação da perfeição. É assim que a pesquisa verificou por onde anda o imaginário masculino em relação à sua corporeidade. Demonstrou que os homens almejam ter corpos perfeitos e praticamente inatingíveis: bem definidos, musculosos, ágeis e atléticos. E seus paradigmas para isto são o nebuloso e dificilmente definível jogador de futebol do Real Madrid e capitão da seleção inglesa, David Beckham, e o mito hollywoodiano de rostinho perfeito de olhos azuis Brad Pitt. Contemplando estes inatingíveis modelos, a pesquisa mostra os homens infelizes com suas pernas, abdomens e tóraxes. Acabam-se nas academias para chegar mais perto de seus ideais ou mentem às mulheres sobre sua freqüência aos exercícios de musculação e definição do corpo, a fim de que estas acreditem que são grandes atletas. Para acompanhar o ritmo desses novos ícones da masculinidade, tão diferentes daqueles do passado, tudo leva a crer que começaremos a ver os homens mudando a cada dia o corte de cabelo, o penteado e o esmalte das unhas, inventando um novo detalhe excêntrico na maneira de vestir-se e depilando as sobrancelhas em listras. Pois não é assim que fazem aqueles que encarnam a perfeição física que representa sua aspiração mais profunda? A obsessão com o físico, porém e infelizmente, parece que anda em inversa proporção com aquilo que esses mesmos homens têm dentro das próprias cabeças. Fixados na aparência e nas dimensões de suas medidas corporais, sobra pouco tempo para investir na cultura, na leitura, na espiritualidade, na contemplação e em tudo que dilata os espaços interiores e agiganta o ser humano a partir de dentro. Tampouco resta muito espaço para questões mais humanizantes e inocentes, como o lazer entre amigos, um bom papo numa roda de chope. Ou para ajudar os que sofrem e precisam de companhia. Por isso, e porque é preciso chegar cada vez mais perto de Beckham, Pitt e outros, há que empregar todo o tempo e a energia disponíveis nos cruéis e implacáveis rituais das academias, perseguindo um corpo irrealizável porque irreal. A frustração acompanha o esforço feito, uma vez que as mulheres parecem nunca estar satisfeitas com o resultado. E nem os próprios homens o estão. Uma tal postura diante do próprio corpo está longe de ser sadia e equilibrada. Não abre para a relação com o outro e, portanto, não realiza ninguém. Volta o homem cada vez mais para si mesmo, em narcísico desvario que tem apenas o espelho como interlocutor. Investindo o melhor de si em atingir ideais impossíveis de beleza, o homem se envilece, se esteriliza e se incapacita para aquilo para o qual foi criado: o amor, a ternura, a coragem, o heroísmo. Tornado um dócil fantoche da mídia e da cultura, não consegue alcançar sua meta enquanto é ao mesmo tempo alcançado pela idade e pelo declínio natural do físico. Não conseguirá, igualmente, encantar as mulheres. Por mais que elas digam querer e admirar os artistas de rostos perfeitos e corpos atléticos, cairão de encanto diante de um homem que saiba falar-lhes ao coração, à imaginação e à sensibilidade. Que as trate com respeito e ternura. Mesmo que não seja tão bonito, nem tão musculoso, nem tão atlético, nem tão perfeito. Solitários e insatisfeitos, os homens que perseguem o físico dos ícones da mídia, prosseguirão seu caminho. Até que, qual Narciso, encontrem seu fim na contemplação embevecida e deleitada da própria imagem que acabará por tragá-los e matá-los. Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. é autora de " Os Dez Mandamentos" (Editora PUC-Rio/Edições Loyola), entre outros livros. (wwwusers.rdc.puc-rio.br/agape)
https://www.alainet.org/es/node/114664?language=en
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