Igreja da América Latina: rumo À 5ª Conferência

10/07/2006
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A Igreja da América Latina se prepara para a V Conferência do Episcopado latino-americano em Aparecida, São Paulo, em 2007. O documento de participação já chegou às comunidades, ajudando a que todo o povo de Deus possa participar e preparar-se para esse grande momento de comunhão eclesiástica que reunirá todo o continente. Sua Santidade, o Papa Bento XVI, virá abrir a Conferência. Dará assim um cunho de universalidade de suma importância a um acontecimento eclesial como este, que não acontecia desde 1992, em Santo Domingo. Após o Concílio Vaticano II, a Igreja latino-americana empenhou-se em fazer sua leitura e assimilação própria dos novos tempos que o Concílio trazia. Sentia como urgente que sua teologia e sua pastoral não fossem mais apenas reflexo da eclesialidade européia, mas refletissem o específico, os problemas e situações latino-americanas. É assim que, em 1968, em Medellín, Colômbia, aconteceu a reunião de todo o episcopado, cujas conclusões apontam três linhas-força para a Igreja do continente: a luta pela justiça inseparável do trabalho de evangelizar e anunciar a Boa Nova; um novo modo de fazer teologia, a partir da situação dos pobres e dos problemas sociais; a articulação das bases comunitárias que, reunidas em torno do Evangelho, inventavam um novo modo de ser Igreja. Onze anos depois, em 1979, em Puebla de los Angeles, México, aconteceu outra conferência do episcopado do continente. Puebla recolhia a vivência pós-Medelín, e reforçava e consolidava os três marcos principais assumidos por todo o episcopado em 1968. A prioridade da luta pela justiça, entendida como inseparável da evangelização, era um fato e uma opção de toda a Igreja latino-americana. Em Puebla, consagrou-se a terminologia que já circulava pelos meios eclesiais: opção preferencial pelos pobres. A Teologia da Libertação já tinha então vários anos de caminhada, de reflexão, com muitos adeptos e muitas obras publicadas que, traduzidas em várias línguas, circulavam no mundo inteiro. Puebla declarou em seu documento de conclusões que essa teologia encontrara cidadania na Igreja do continente e se mostrava adequada para pensar a fé cristã na situação da América Latina. Bem depois de Puebla, esse modo de fazer teologia continua merecendo atenção de especialistas e pesquisadores em várias grandes universidades do mundo ocidental. As Comunidades Eclesiais de Base (CEB) eram o rosto concreto da articulação das bases comunitárias que Medellín detectara e apontara. Comunidades reunidas em torno do Evangelho e da Palavra de Deus que, confrontadas com a vida, ofereciam pistas e orientações para o agir transformador da realidade. As CEBs mostravam um novo modo de ser Igreja, mais flexível, menos estruturado e com muitas comunidades espalhadas pelo continente. De Puebla a Santo Domingo foram treze anos. Era o ano do quinto centenário da chegada dos colonizadores ao Novo Mundo. A Igreja se reunia então ali onde Colombo aportara. O momento eclesial já era outro. O documento de conclusões mostrou uma linha diferente das duas conferências anteriores, assinalando uma prioridade pastoral que viria a ser de extrema importância para os anos seguintes: o protagonismo dos leigos, sem o qual “não haveria nova evangelização”. Quinze anos depois, em 2007, a Igreja se prepara novamente para estar reunida pensando sua missão no aqui e agora do continente latino-americano. São tempos diferentes. O mundo muda em grande velocidade. Os países latino-americanos que gemiam sob ditaduras sangrentas nos anos 70 e 80, agora têm regimes democráticos. A teologia alargou seu olhar para além do sócio-político-econômico, enxergando como prioritárias questões como ecologia, gênero, mística, espiritualidade, raça, etnia. O episcopado propõe como prisma para a reunião aquilo que é o coração do Evangelho: o discipulado cristão. No fundo, é o mesmo que dizer que não podemos ajudar a solucionar os problemas sociais e econômicos do continente onde vivemos se não temos aguda consciência de quem somos. E somos discípulos de Jesus Cristo, eternos aprendizes que procuram seguir o Mestre para descobrir o caminho para viver e conduzir os outros à vida em plenitude. - Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, é autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros. (wwwusers.rdc.puc-rio.br/agape)
https://www.alainet.org/es/node/115959
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