Alckmin e o mito do “gerente eficiente”
23/08/2006
- Opinión
Durante muito tempo, a mídia hegemônica, além de blindar a figura anódina do
ex-governador Geraldo Alckmin, difundiu o mito de que ele seria um exemplo
de “administrador competente” e de “gerente eficiente”. Tal mistificação
acabou repercutindo nas sondagens eleitorais realizadas no período recente.
Essa é a única marca distintiva em que o candidato do bloco liberal-
conservador leva pouca vantagem frente ao presidente Lula. Os fatos, porém,
desmentem esta pretensa qualidade. Uma rápida pesquisa sobre a desordem
administrativa de São Paulo, após os 12 anos em que o Estado foi comandado
pela dupla Mário Covas/Geraldo Alckmin, desmascara mais esta engenhosa
manipulação da mídia.
1- Caos na segurança.
A mentira ficou mais visível na delicada e explosiva área da segurança
pública. As três recentes ondas de violência urbana no Estado, que causaram
a morte de quase 200 pessoas e a destruição de inúmeros bens públicos e
privados, confirmaram a total incompetência dos tucanos e a sua
insensibilidade social. Em decorrência dos sucessivos cortes de verbas para
o setor, os salários dos policiais foram arrochados, houve redução do quadro
de funcionários e explodiu a superlotação dos presídios. Segundo o Sindicato
dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo, existe hoje um déficit
de 31 mil agentes na área, os salários tiveram uma depreciação de 40% e os
presídios demandam, no mínimo, mais 70 mil vagas.
Isto é que explica porque os presídios foram batizados de “faculdades” pelo
próprio crime organizado. O clima de insegurança tornou-se rotina entre os
habitantes do Estado mais rico da Federação. Diante deste caos, seu todo-
poderoso secretário de Segurança, mantido à fórceps no atual governo, ainda
tenta fugir de suas responsabilidade e tirar proveito eleitoral do medo dos
paulistas. O truculento e arrogante Saulo Abreu chegou a colocar o seu cargo
a disposição, negando que o governo federal tivesse liberado R$ 100 milhões
para o combate ao crime organizado. Ocorre que o recurso foi liberado em 13
de julho, quando o presidente Lula baixou medida provisória, e só não foi
sacado devido à inaptidão do governo, que não apresentou o plano para a
execução orçamentária. Saulo devia, ao menos, cumprir sua palavra!
2- Abandono da educação.
Também como efeito dos cortes dos investimentos públicos, decorrente da
visão neoliberal do “estado mínimo”, a educação pública no Estado sofreu
brutal regressão no período. Centenas de escolas foram fechadas, as vagas
foram reduzidas, professores foram demitidos e a qualidade do ensino foi
rebaixada com a desvalorização dos profissionais da área. O desastre fica
evidente nos dramáticos números do ensino médio. Ele hoje atende apenas 25%
da demanda de jovens entre 15 e 19 anos; de 1999 a 2005, as matrículas
iniciais baixaram de 1.720.174 para 1.636.526; a taxa de reprovação pulou de
3,6% para 15,6% no mesmo período; e a evasão escolar já atinge a marca
recorde de 7% ao ano. Apenas metade dos alunos que se matriculam na primeira
série do ensino médio chega até a terceira série!
Como forma de maquiar esta catástrofe, o governo inventou a expediente da
“progressão continuada”, que, segundo Maria Izabel Noronha, presidente em
exercício do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo
(Apeoesp), “representa a exclusão postergada, já que não passa de uma
aprovação automática do aluno sem qualquer correspondência com a realidade”.
Já foram encontrados estudantes analfabetos na quarta série em decorrência
desta picaretagem. Levando em conta que o analfabetismo atinge 6,6% da
população e que há mais cinco milhões de analfabetos funcionais, o
equivalente a 18% dos habitantes paulistas acima de 15 anos, fica patente a
incompetência da “turminha do Alckmin”.
3- Mercantilização da saúde.
Para impor o mesmo modelo do “estado mínimo” na saúde, desde 1998 os tucanos
estão entregando os hospitais públicos estaduais à iniciativa privada sob a
camuflagem das chamadas Organizações Sociais de Saúde (OSS). Elas
administram os hospitais através dos contratos de terceirização, sem
licitação ou qualquer controle do Tribunal de Contas. Em síntese, elas
recebem dinheiro público para “gerenciar” os serviços de saúde, sem a
obrigação de prestar contas. Atualmente, já são 18 hospitais, três
ambulatórios de especialidades e um centro de referência para idosos
entregues à administração privada. Além disso, o governo tucano cortou 170
mil cargos funcionais na área da saúde entre 1994 e 2006.
Exibido como modelo pelo presidenciável Geraldo Alckmin, os hospitais
geridos pelas OSS oferecem serviços precários e insuficientes e não realizam
atendimentos mais complexos para atender somente os casos simples,
classificados como de “rotatividade rápida”. Já os mais “caros” acabam
sobrecarregam os hospitais da administração direta ou servem para elevar os
lucros do setor privado. Várias unidades inclusive já fecharam os
atendimentos de pronto-socorros. “Para onde vai o baleado, a vítima de
infarto e os atropelados? Todos esses pacientes não entram nas unidades
geridas pelas OSS”, denúncia Célia Regina, presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Públicos da Saúde de São Paulo (Sindsaúde).
4- Transporte precário.
A greve dos metroviários nesta terça-feira serviu de alerta sobre os
problemas e riscos nos transportes públicos. A capital paulista é de uma das
metrópoles mais populosas do mundo com menor operação do Metrô. Além disso,
o processo de privatização das rodovias estaduais causou o completo abandono
das estradas vicinais. Quanto ao transporte ferroviário, este foi totalmente
destruído nos últimos anos. Esta política de transporte, a exemplo do que
ocorre em outros setores estratégicos, também se encaixa no modelito
neoliberal, socializando prejuízos e privatizando lucros. E ainda serve a
interesses sinistros. Em 1997, um dos diretores da Dersa, Celso Ferrari,
comprovou que as licitações para entrega das rodovias foram armadas para
beneficiar empresas privadas com notórios vínculos com o tucanato.
O caso do Metrô é ainda mais escandaloso. No trecho “Linha 4-Amarela”, que
ligará a Estação da Luz à Vila Sônia, o Estado investirá quase R$ 1 bilhão,
mais de 73% do total de recursos necessários para a obra, enquanto que
apenas R$ 340 milhões ficarão a cargo da empresa privada que ganhar a
concessão da linha por 30 anos. Neste capitalismo sem risco, o grupo privado
ganhará com a venda de bilhetes e com outros empreendimentos nas estações e
arredores, como publicidade, lojas e estacionamentos. “O Estado investe US$
1 bilhão e nada recebe em contrapartida por 30 anos. Já o investidor privado
banca US$ 340 milhões e ficará com toda a receita tarifária e metade das
tarifas do sistema metro-ferroviário, além da exploração comercial e
veiculação publicitária. Estima-se que, só de tarifas, entre 2008 e 2012, o
vencedor faturará quase R$ 6 bilhões”, denuncia o deputado estadual Nivaldo
Santana (PCdoB-SP).
5- Roubo nos pedágios.
Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
revelou que entre junho de 1995 e julho de 2005 as tarifas cobradas nos
pedágios paulistas subiram em até 716% para carros de passeio e por eixo de
caminhão. A privatização das rodovias foi criminosa. Sob comando de Geraldo
Alckmin, então responsável pelo programa de “desestatização”, o governo
tucano entregou as melhores estradas – com pistas duplas, canteiros centrais
e situadas nas regiões mais ricas – e ficou com as mais precárias. As 12
concessionárias presenteadas pelo PSDB exploram apenas 3,5 mil quilômetros,
o equivalente a 16% de toda a malha rodoviária paulista, mas que representam
o filé mignon do transporte.
Após a privatização, assim como as tarifas, o número de pedágios disparou.
Em 1995, início do reinado tucano, havia 11 pedágios no Estado; hoje, são
153 – sendo que apenas 14 estão sob controle estatal. Os efeitos desta
política privatista são drásticos, tendo em conta que o transporte
rodoviário é responsável por 70% das cargas que atravessam o Estado. Além de
desestimular a produção industrial e agrícola, já que o transporte é um
importante custo operacional, encarecem o preço da mercadoria ao consumidor.
Alguns casos são gritantes – e até levantam suspeitas. Na Rodovia dos
Imigrantes, que tem apenas 58,5 quilômetros ligando capital ao litoral e
possui um movimento anual superior a 30 milhões de veículos, a
concessionária Ecovias cobra R$ 14,80 por automóvel. É só fazer a conta para
aquilatar o roubo!
- Continua no próximo artigo com mais cinco casos que comprovam a
incompetência administrativa do candidato tucano Geraldo Alckmin.
- Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da
revista Debate Sindical e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo”
(Editora Anita Garibaldi, 2ª edição).
https://www.alainet.org/es/node/116707
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