E Chávez ficou…
- Opinión
“nos asiste la moral y la verdad, y contra eso nadie pode”
Hugo Chávez
O resultado das eleições presidenciais deste domingo na Venezuela consagra contundentemente a liderança do Presidente Hugo Chávez e dá fôlego para a continuação do processo da chamada Revolução Bolivariana.
Após o anúncio do primeiro boletim do Conselho Nacional Eleitoral, confirmou-se o que as principais pesquisas de opiniões já indicavam, Chávez estava reeleito com mais de 60% dos votos.
A festa do povo nas ruas comemorando entusiasticamente mais essa vitória de Chávez, contrasta com a apreensão e tensão do que foram estes últimos dias que antecederam as eleições. O retrospecto de atos e ações, ou seja, o comportamento violento de setores da oposição demonstrado nesses anos de governo Chávez fez com que as medidas de segurança fossem intensificadas para evitar qualquer atitude de desestabilização no País.
Os militares puseram em execução o chamado Plan Republica para garantir que o processo eleitoral pudesse transcorrer normalmente de acordo com a constituição. Entre as medidas anunciadas estavam inclusive a do fechamento das fronteiras do país e a possibilidade de caçar os direitos de transmissão dos meios de comunicação que, desrespeitando a lei, incitassem a violência e o terror. Nessa ultima semana foram apreendido propagandas onde indicavam fraudes nas eleições e as forças de segurança desmontaram um plano para assassinar o candidato da oposição Manuel Rosales para depois supostamente culpar o governo Chávez.
Um batalhão de observadores nacionais e internacionais que incluem a Organização dos Estados Americanos (OEA), União Européia e Centro Carter, ademais de uma quantidade significante de representantes de movimentos sociais, intelectuais, equipe de televisão e mídia impressa de todo mundo transformaram essa eleição em uma das mais vigiadas do mundo.
O voto na Venezuela não é obrigatório. Mesmo assim, o povo começou a se mobilizar logo cedo para os locais de votação. Às três da manhã, fogos de artifícios e toques de alvoradas anunciavam que os batalhões de auxilio aos eleitores iniciavam seus trabalhos. As secções de votação abriam para receber aos eleitores a partir das 6 da manhã e pelas enormes filas verificadas durante todo o dia de votação, indicavam que o número de abstenção não seria tão alto como fora na recente eleição de deputados para a Assembléia Nacional, onde apenas 25% dos eleitorado compareceram às urnas.
Ainda que Chávez tenha vencido em todos os 24 estados do país, a oposição surpreendeu com a quantidade de votos recebidos. Podemos citar alguns fatores que contribuíram para tal façanha: 1) A oposição conseguiu unificar-se em torno da candidatura de Manuel Rosales, atual governador do estado Zúlia – donde se produz 60% do todo o petróleo da Venezuela. 2) Como era de se esperar, Rosales recebeu apoio total de todos os canais privados de radio e televisão e dos principais jornais do país, que ao mesmo tempo intensificaram suas campanha demoníaca contra o governo Chávez. 3) O discurso da oposição condenando a política exterior do governo, denunciando um suposto favorecimento através de pagamento de dívidas (Argentina), projetos faraônicos (Brasil) e fornecimento de petróleo praticamente de graça a países como Cuba, Nicarágua... enquanto o povo venezuelano seguia na miséria; A aproximação de países “terroristas” como Irã, Líbia, Líbano, entre outros, faziam parte do menu oferecido pelos golpistas. 4) A oposição já teria assegurado os votos dos setores mais abastados e de grande parte da classe média, mas para ganhar as eleições precisava avançar entre as camadas mais pobres da população onde Chávez teria um grande apoio por conta das Missões sociais. A saída foi anunciar que manteria os programas sociais atuais e os melhoraria com o lançamento do cartão Mi Negra onde cada cidadão e cidadã para sair da pobreza receberia em bolívares o equivalente a mil reais mensalmente. O recurso sairia justamente da renda do petróleo que o governo “doa a outros países”. Essa proposta fez com que aumentasse o apoio de setores mais pobres à candidatura de Rosales.
O resultado das urnas deste dia 3 de dezembro dá a Chávez mais tempo para aprofundar e consolidar um projeto de País que até agora, segundo ele próprio, passa por um processo de transição. Mas é importante salientar que a maré vermelha de votos recebidos neste domingo, não é somente porque Chávez é um líder carismático e tem uma oratória poderosa, o que vemos e o que os números indicam é um significante avanço nos indicadores sociais e econômico do país e isso os meios de comunicação por mais que tentem ocultar, acabam falando ao vento, pois obviamente, inclusive a classe média e os empresariado nacional e extrangeiros têm se beneficiado desse avanço. Vejamos alguns exemplos:
1 - As Missões nas áreas de saúde, educação, alimentação, moradia, capacitação profissional, entre outras, foram o motor condutor que possibilitou a aplicação, de forma ágil e descentralizada, de amplos recursos financeiros e humanos, visando o atendimento da população pobre e miserável. Ao mesmo tempo foi uma forma de transpor a barreira burocrática e morosa estatal que nunca serviu e não foi feita para esse tipo de política de inclusão social.
2 - Venezuela hoje, seguramente, é um dos principais canteiros de obras de infraestrutura da América latina. Pontes, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, canais de irrigação, hidrelétricas, gasodutos, oleodutos, refinarias, petroquímicas, estádios, escolas, universidades, conjuntos habitacionais, centros comerciais, construções de metrôs simultaneamente em 5 capitais, etc, são verdadeiras vitrinas do desenvolvimento da Era Chávez. Essa modernização, retomando, executando e inaugurando obras que estavam no papel há 40 anos tem ajudado a dinamizar a economia com uma media de crescimento anual de 8%, e reduzido gradativamente o índice de desempregos do país, hoje em 10%. Desde que assumiu o país a inflação caiu de 150% para 15% mensal.
3 - A alta do preço do petróleo, a nacionalização das reservas minerais, o combate à evasão de divisas, a modernização do sistema tributário e o combate a sonegação de impostos foram importantes para aumentar substancialmente suas reservas monetárias. Hoje Venezuela não depende do FMI nem do Banco Mundial para planificar e consolidar sua política de desenvolvimento econômico e social.
O Presidente que sai dessa eleição, conta com um cenário favorável para avançar com sua política de integração na América Latina, tem construído relacoes estratégicas com países como Rússia, China, Irã, etc; A economia em crescimento e os indicadores sociais melhorando, e institucionalmente conta com o apoio de 22 dos 24 estados da federação, 90% dos municípios e de toda a Assembléia Nacional. Ou seja, está com a faca e o queijo na mão. A pergunta é: E agora Hugo?
Evidentemente que o Presidente e seus assessores mais próximos vêm se preparando para esse momento. Algumas sinalizacoes o próprio Presidente têm dito em público como por exemplo, que a atual estrutura do Estado não serve para o que se pretende fazer daqui para frente. Até aqui, foi possível porque se passava por um momento de transicao, mas de aqui em diante é preciso mudar para se adequar aos novos tempos que se pretende para Venezuela. Alguns sinais:
1 - A reforma da constituição é uma das medidas a serem tomadas. Fala-se em convocar um conselho para propor a revisão de acordo com que se deseja e logo vai a referendo popular para que o povo a discuta e aprove.
2 - Um outro tema que tem deixado muitos lideres partidários sem sono, é a proposta da formacao do partido único, e que possa cumprir o seu verdadeiro papel que é de assumir a vanguarda do processo revolucionário. Muitos acham que ainda nao se tem as condiçoes para tanto, outros acham que o ideal nesse primeiro momento seria a formacao de uma Frente Unica. O que se sabe é que o Presidente tem dito repetidamente que do jeito que está nao serve.
3 - Dar poder aos pobres, essa é a resposta para eliminar a pobreza. É uma obstinacao do Presidente e seguirá sendo. Venezuela, apesar dos avanços que relatamos acima, precisa de instrumentos mais poderosos para eliminar a pobreza. A formacao dos Conselhos Comunais é uma experiência que já está sendo testada. O aprofundamento deste o de outros instrumentos com certeza estarão na pauta da reforma constitucional.
Domingo à noite, em Caracas, sob uma chuva intensa, o povo começou a se aproximar do Palacio Miraflores onde Chavez faria seu primeiro discurso já reeleito. Assim como nos gigantescos comícios que antecederam as eleicoes, o que mais se ouvia era:“¡Uh! ¡Ah! ¡Chávez no se va!”. Uma multidão encarnada ouviu eufórica, entao, a declaracao do seu Presidente dizendo que a partir desta data, se abria uma nova etapa onde se lutará contra a corrupção e se aprofundará o processo bolivariano. Ainda manifestou que Venezuela já é independente e que mais de 60% votou pelo socialismo.
A chuva continuou, assim como os festejos e os gritos por todo o país: “¡Uh! ¡Ah! ¡Chávez no se va!”. Chávez, a exemplo da chuva intensa, continuou e continuará por quanto tempo seu povo assim o desejar...
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- E Chávez ficou… 05/12/2006
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