Natal: resgatando o menino Jesus
29/12/2006
- Opinión
Telefono para meu amigo, que é famoso e difícil de ser encontrado pelo celular. Ele não atende, mas ouço sua mensagem: “Feliz Natal! Pouco Papai Noel e muito Menino Jesus para você”. Presto atenção e medito. Uma vez que o Natal chega, pareceria óbvio que a figura central fosse o Menino Jesus. Afinal, sem ele não haveria a festa, pois Deus não se haveria encarnado na vulnerabilidade de nossa carne e não teríamos nossa salvação para celebrar.
É, portanto, em torno de uma criança, muito concretamente dessa criança, que a festa mais tradicional do Ocidente cristão se organiza. Em torno desse menino nascido nos confins da Palestina sob a ocupação do Império Romano, do ventre de Maria de Nazaré, mocinha prometida em casamento ao carpinteiro José, da casa de David. O presépio é – ou deveria ser - o centro da celebração natalina.
A palavra “presépio” significa “um lugar onde se recolhe o gado, curral, estábulo”. Contudo, esta também é a designação dada à representação artística do nascimento do Menino Jesus num estábulo, acompanhado pela Virgem Maria, S. José e uma vaca e um burrinho. Por vezes acrescentam-se outras figuras como pastores, ovelhas, anjos, os Reis Magos, entre outros. Os presépios são expostos não só em Igrejas, mas também em casas particulares e até mesmo em muitos locais públicos.
Quando contemplamos o presépio com o Menino, sua mãe e José, sentimo-nos invadidos de ternura. É toda a inocência e a pureza da infância que nos umedecem os olhos e nos enternecem. No entanto, há muitas dimensões sérias e profundas desse menino que nos escapam, obscurecidas pelo frenesi louco em que se transformou a festa de Natal.
Esta criança chamada Jesus teve uma infância nada tranqüila: filho de mãe solteira, adotado pelo bom S. José, foi filho de família pobre. Sofreu humilhações antes de nascer, quando seus pais levaram com a porta na cara ao pedir alojamento para que Maria pudesse dar à luz. Foi parar com a família em um curral, aquecido pelo calor de animais, calor esse que os humanos lhes negaram.
Recém nascido, foi ameaçado de morte pelo rei Herodes, tendo que fugir com Maria e José para o Egito, qual imigrante clandestino, sem papéis nem autorização das autoridades competentes. Por lá andou uns tempos, iludindo a vigilância das autoridades, até que conseguiu regressar à sua terra, onde cresceu em graça e sabedoria, preparando-se assim para a sua Missão Messiânica.
Este é, portanto, o Natal, em seu mais verdadeiro e profundo sentido. Evoca-nos este acontecimento histórico, de um Deus feito carne, feito história, na forma de uma Criança. De acordo com sua história de vida, Jesus bem poderia ser considerado o protetor dos meninos de rua e dos menores em situação de risco. O conflito fez sombra sobre sua vida de maneira permanente e a plenitude de sua humanidade foi se desdobrando diante dos sentidos humanos ao mesmo tempo em que crescia sobre sua cabeça a sombra da cruz sobre a qual seria supliciado.
É pena que a evocação desta data natalícia e os símbolos genuínos deste evento do Natal de Jesus se tenham “desidentificado” de tal forma que o comércio e as decorações natalícias tenham quase “eliminado” o Menino, substituindo-o por um Papai Noel carregado de presentes, ídolo do consumo e cruel adulteração das cenas históricas herdadas pela tradição cristã! Naquele tempo como hoje, as crianças na sua fragilidade e inocência despertam ternura e emoção. Mas também incomodam muita gente. Meu amigo tem razão: pouco Papai Noel e muito Menino Jesus para todos vocês!
- Maria Clara Lucchetti Bingemer é teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, autora de "Deus amor: graça que habita em nós” (Editora Paulinas), entre outros livros. (wwwusers.rdc.puc-rio.br/agape)
É, portanto, em torno de uma criança, muito concretamente dessa criança, que a festa mais tradicional do Ocidente cristão se organiza. Em torno desse menino nascido nos confins da Palestina sob a ocupação do Império Romano, do ventre de Maria de Nazaré, mocinha prometida em casamento ao carpinteiro José, da casa de David. O presépio é – ou deveria ser - o centro da celebração natalina.
A palavra “presépio” significa “um lugar onde se recolhe o gado, curral, estábulo”. Contudo, esta também é a designação dada à representação artística do nascimento do Menino Jesus num estábulo, acompanhado pela Virgem Maria, S. José e uma vaca e um burrinho. Por vezes acrescentam-se outras figuras como pastores, ovelhas, anjos, os Reis Magos, entre outros. Os presépios são expostos não só em Igrejas, mas também em casas particulares e até mesmo em muitos locais públicos.
Quando contemplamos o presépio com o Menino, sua mãe e José, sentimo-nos invadidos de ternura. É toda a inocência e a pureza da infância que nos umedecem os olhos e nos enternecem. No entanto, há muitas dimensões sérias e profundas desse menino que nos escapam, obscurecidas pelo frenesi louco em que se transformou a festa de Natal.
Esta criança chamada Jesus teve uma infância nada tranqüila: filho de mãe solteira, adotado pelo bom S. José, foi filho de família pobre. Sofreu humilhações antes de nascer, quando seus pais levaram com a porta na cara ao pedir alojamento para que Maria pudesse dar à luz. Foi parar com a família em um curral, aquecido pelo calor de animais, calor esse que os humanos lhes negaram.
Recém nascido, foi ameaçado de morte pelo rei Herodes, tendo que fugir com Maria e José para o Egito, qual imigrante clandestino, sem papéis nem autorização das autoridades competentes. Por lá andou uns tempos, iludindo a vigilância das autoridades, até que conseguiu regressar à sua terra, onde cresceu em graça e sabedoria, preparando-se assim para a sua Missão Messiânica.
Este é, portanto, o Natal, em seu mais verdadeiro e profundo sentido. Evoca-nos este acontecimento histórico, de um Deus feito carne, feito história, na forma de uma Criança. De acordo com sua história de vida, Jesus bem poderia ser considerado o protetor dos meninos de rua e dos menores em situação de risco. O conflito fez sombra sobre sua vida de maneira permanente e a plenitude de sua humanidade foi se desdobrando diante dos sentidos humanos ao mesmo tempo em que crescia sobre sua cabeça a sombra da cruz sobre a qual seria supliciado.
É pena que a evocação desta data natalícia e os símbolos genuínos deste evento do Natal de Jesus se tenham “desidentificado” de tal forma que o comércio e as decorações natalícias tenham quase “eliminado” o Menino, substituindo-o por um Papai Noel carregado de presentes, ídolo do consumo e cruel adulteração das cenas históricas herdadas pela tradição cristã! Naquele tempo como hoje, as crianças na sua fragilidade e inocência despertam ternura e emoção. Mas também incomodam muita gente. Meu amigo tem razão: pouco Papai Noel e muito Menino Jesus para todos vocês!
- Maria Clara Lucchetti Bingemer é teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, autora de "Deus amor: graça que habita em nós” (Editora Paulinas), entre outros livros. (wwwusers.rdc.puc-rio.br/agape)
https://www.alainet.org/es/node/119396
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