Uma potência mineral e estratégica
23/08/2007
- Opinión
Curitiba (PR)
Empresa, criada com recursos dos trabalhadores brasileiros, está hoje avaliada em 100 bilhões de dólares, mas foi vendida por apenas 3,3 bilhões
A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) é a maior produtora de minério de ferro do mundo e a segunda mineradora global em variedade de minérios, fazendo do Brasil um dos países de maior extração de minerais para a exportação. A empresa foi criada em 1942 com recursos do Tesouro Nacional, o que quer dizer: com recursos dos trabalhadores brasileiros. Durante 55 anos, foi uma empresa mista e o seu controle acionário pertencia ao governo.
Mas depois do leilão de privatização da companhia, em 1997, promovido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a Vale passou a ser comandada, entre outros, pelo banco Bradesco. Qual era a justificativa da venda? A desculpa foi o pagamento de uma parte da dívida pública interna e externa, mas os fatos mostram que isso não ocorreu.
Riqueza perdida
Hoje, o valor da companhia está avaliado em 100 bilhões de dólares. Porém, o preço do leilão foi de apenas 3,3 bilhões de reais. A Vale, desde então, ampliou a exportação da riqueza produzida pelos trabalhadores, sem significar desenvolvimento para as regiões onde a companhia tem atividades. Na área chamada de "Grande Carajás", no Pará e Maranhão, uma numerosa mão-de-obra chega das regiões próximas. Na cidade de Açailândia (MA), onde cinco siderúrgicas recebem o minério extraído pela Vale, 65% da população está desempregada. Após a venda, a prioridade da companhia tem sido elevar os lucros e reparti-los com os acionistas.
E nisso a Vale tem sucesso: é a maior empresa distribuidora de lucros do mundo. A maior parte dessa riqueza segue para o exterior. Hoje, 64,9% das ações preferenciais (que têm preferência na distribuição desses lucros) são de investidores estrangeiros, os que direcionam a política da empresa.
"Ainda que não do ponto de vista formal-legal, os estrangeiros é que acionam os mecanismos da ex-estatal, concentrando-se na busca de lucros líquidos crescentes e milionários dividendos e juros sobre o capital próprio", descreve o jornalista e sociólogo paraense Lúcio Flávio Pinto.
Os críticos do processo de venda da companhia apontam que o Bradesco é quem cuida da parte administrativa. O banco montou o edital de venda da companhia e, mais tarde, tornou-se um dos seus controladores (algo proibido por lei). Por sinal, o atual presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, dirigiu o Bradesco por 20 anos.
Na hora de definir o preço de venda, o edital do leilão da Vale, elaborado pelo banco Bradesco e pela consultora estadunidense Merrill Lynch, levou em conta apenas questões de mercado. Desconsiderou as forças produtivas da companhia, como a infra-estrutura de portos, ferrovias e centros de pesquisa tecnológica. Gerou desemprego: a Vale perdeu de 10 a 12 mil trabalhadores, no processo de preparação para a privatização.
A CVRD possui a maior frota de navios transportadores de grãos do mundo e as principais ferrovias brasileiras, com 9 mil quilômetros de trilhos. Maior mineradora mundial de minério de ferro, a Vale é a principal produtora de ouro e exploradora de bauxita (matéria-prima do alumínio) da América Latina. As minas de ouro, grandes e lucrativas, foram abertas pouco depois do leilão. E mais: 72% das reservas brasileiras de titânio lhes pertencem, pois o Brasil é o maior detentor mundial do minério. Mas as reservas de titânio também não foram avaliadas no edital do leilão da companhia, assim como aconteceu com o calcário, dolomito, fosfato, estanho, entre tantos outros.
Nos dias de hoje, a empresa possui autorização, por tempo indeterminado, para explorar o subsolo de 23 milhões de hectares do território brasileiro, uma área correspondente à soma das áreas de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Paraíba e Rio Grande do Norte – ainda que a lei brasileira proíba os estrangeiros de possuir mais de 2 mil hectares de terra sem a aprovação do Senado ou das Forças Armadas. E sabe-se que hoje o poder econômico da Vale é maior do que qualquer lei.
Desenho de um monopólio
A lucratividade atual da Vale permitiu a compra de mineradoras em outros países. Em 2006, adquiriu a canadense Inco, maior produtora de níquel do mundo, desembolsando 18 bilhões de dólares.
Austrália e Moçambique são outros dois países onde a CVRD em 2007 comprou minas de carvão mineral, o que ressalta o caráter monopolista da empresa, no Brasil e no mundo. "A Vale continuou uma empresa única, produzindo e controlando a logística da produção, tornou-se um Estado dentro do Estado, assumindo uma posição monopolista que freqüentemente colide com o interesse nacional", avalia o jornalista Lúcio Flávio Pinto.
A empresa é a maior exportadora nacional e responde por um terço do comércio de mercadorias do Brasil com outros países. Os noticiários não se cansam de exibir os lucros da CVRD: em 2006, foram R$ 13,4 bilhões, superando os R$ 10,4 bilhões de 2005. Na América Latina, perdeu apenas para a Petrobras, que em 2006 obteve um lucro de R$ 25 bilhões.
Empresa, criada com recursos dos trabalhadores brasileiros, está hoje avaliada em 100 bilhões de dólares, mas foi vendida por apenas 3,3 bilhões
A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) é a maior produtora de minério de ferro do mundo e a segunda mineradora global em variedade de minérios, fazendo do Brasil um dos países de maior extração de minerais para a exportação. A empresa foi criada em 1942 com recursos do Tesouro Nacional, o que quer dizer: com recursos dos trabalhadores brasileiros. Durante 55 anos, foi uma empresa mista e o seu controle acionário pertencia ao governo.
Mas depois do leilão de privatização da companhia, em 1997, promovido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a Vale passou a ser comandada, entre outros, pelo banco Bradesco. Qual era a justificativa da venda? A desculpa foi o pagamento de uma parte da dívida pública interna e externa, mas os fatos mostram que isso não ocorreu.
Riqueza perdida
Hoje, o valor da companhia está avaliado em 100 bilhões de dólares. Porém, o preço do leilão foi de apenas 3,3 bilhões de reais. A Vale, desde então, ampliou a exportação da riqueza produzida pelos trabalhadores, sem significar desenvolvimento para as regiões onde a companhia tem atividades. Na área chamada de "Grande Carajás", no Pará e Maranhão, uma numerosa mão-de-obra chega das regiões próximas. Na cidade de Açailândia (MA), onde cinco siderúrgicas recebem o minério extraído pela Vale, 65% da população está desempregada. Após a venda, a prioridade da companhia tem sido elevar os lucros e reparti-los com os acionistas.
E nisso a Vale tem sucesso: é a maior empresa distribuidora de lucros do mundo. A maior parte dessa riqueza segue para o exterior. Hoje, 64,9% das ações preferenciais (que têm preferência na distribuição desses lucros) são de investidores estrangeiros, os que direcionam a política da empresa.
"Ainda que não do ponto de vista formal-legal, os estrangeiros é que acionam os mecanismos da ex-estatal, concentrando-se na busca de lucros líquidos crescentes e milionários dividendos e juros sobre o capital próprio", descreve o jornalista e sociólogo paraense Lúcio Flávio Pinto.
Os críticos do processo de venda da companhia apontam que o Bradesco é quem cuida da parte administrativa. O banco montou o edital de venda da companhia e, mais tarde, tornou-se um dos seus controladores (algo proibido por lei). Por sinal, o atual presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, dirigiu o Bradesco por 20 anos.
Na hora de definir o preço de venda, o edital do leilão da Vale, elaborado pelo banco Bradesco e pela consultora estadunidense Merrill Lynch, levou em conta apenas questões de mercado. Desconsiderou as forças produtivas da companhia, como a infra-estrutura de portos, ferrovias e centros de pesquisa tecnológica. Gerou desemprego: a Vale perdeu de 10 a 12 mil trabalhadores, no processo de preparação para a privatização.
A CVRD possui a maior frota de navios transportadores de grãos do mundo e as principais ferrovias brasileiras, com 9 mil quilômetros de trilhos. Maior mineradora mundial de minério de ferro, a Vale é a principal produtora de ouro e exploradora de bauxita (matéria-prima do alumínio) da América Latina. As minas de ouro, grandes e lucrativas, foram abertas pouco depois do leilão. E mais: 72% das reservas brasileiras de titânio lhes pertencem, pois o Brasil é o maior detentor mundial do minério. Mas as reservas de titânio também não foram avaliadas no edital do leilão da companhia, assim como aconteceu com o calcário, dolomito, fosfato, estanho, entre tantos outros.
Nos dias de hoje, a empresa possui autorização, por tempo indeterminado, para explorar o subsolo de 23 milhões de hectares do território brasileiro, uma área correspondente à soma das áreas de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Paraíba e Rio Grande do Norte – ainda que a lei brasileira proíba os estrangeiros de possuir mais de 2 mil hectares de terra sem a aprovação do Senado ou das Forças Armadas. E sabe-se que hoje o poder econômico da Vale é maior do que qualquer lei.
Desenho de um monopólio
A lucratividade atual da Vale permitiu a compra de mineradoras em outros países. Em 2006, adquiriu a canadense Inco, maior produtora de níquel do mundo, desembolsando 18 bilhões de dólares.
Austrália e Moçambique são outros dois países onde a CVRD em 2007 comprou minas de carvão mineral, o que ressalta o caráter monopolista da empresa, no Brasil e no mundo. "A Vale continuou uma empresa única, produzindo e controlando a logística da produção, tornou-se um Estado dentro do Estado, assumindo uma posição monopolista que freqüentemente colide com o interesse nacional", avalia o jornalista Lúcio Flávio Pinto.
A empresa é a maior exportadora nacional e responde por um terço do comércio de mercadorias do Brasil com outros países. Os noticiários não se cansam de exibir os lucros da CVRD: em 2006, foram R$ 13,4 bilhões, superando os R$ 10,4 bilhões de 2005. Na América Latina, perdeu apenas para a Petrobras, que em 2006 obteve um lucro de R$ 25 bilhões.
Fonte: Brasil de Fato
https://www.alainet.org/es/node/122851
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