Ramos-Horta: enquanto houver miséria extrema não haverá paz
13/02/2008
- Opinión
Uma semana antes do atentado contra sua vida, o presidente do Timor Leste, José Ramos-Horta, esteve no Brasil e concedeu entrevista ao Brasil de Fato
Em sua recente visita ao Brasil, o presidente do Timor Leste, José Ramos-Horta, talvez não imaginasse que pudesse ser tão profético quando declarou a este repórter que “enquanto houver miséria extrema não haverá paz de verdade”. Referia-se ao mundo como um todo, à crescente desigualdade entre um punhado de países ricos e poderosos e uma escandalosa miséria que se avoluma de modo explosivo na chamada periferia do mundo, inclusive no mundo desenvolvido. Mas também se aplica ao seu próprio país.
Poucos dias após voltar ao Timor Lorosae (Terra do Sol Nascente), José Ramos-Horta, bem como o primeiro-ministro, o líder guerrilheiro Xanana Gusmão, são alvos de atentados simultâneos organizados pelo major dissidente Alfredo Reinado, expulso juntamente com centenas de militares das filas das Forças Armadas do Timor, há cerca de 2 anos, quando deu-se a última crise naquele país ilhéu, próximo à Austrália, antiga colônia portuguesa, ocupada pela Indonésia em 1975 após sanguinária autorização de Henry Kissinger.
“Sejam rápidos”, recomendou o sinistro ex-secretário de Estado dos EUA à ditadura indonésia, diante da derrota iminente das tropas imperialistas no Vietnã, no Laos e no Cambodja. A ocupação do Timor levou 25 anos e ceifou a vida de 25% dos timorenses, o que ficou conhecido como o maior genocídio contemporâneo, e também como “O Vietnã silencioso”, dada a bravura com que o povo maubere resistiu de armas nas mãos a invasão que contou com a cobertura de um manto de silêncio das redes (des) informativas internacionais.
Petróleo, gás e uma posição estratégica dentro da meta imperial de controlar as rotas marítimas da região, eis o que possui o Timor Leste para pagar com tantas vidas a sua luta pela liberdade e pela independência, finalmente conquistada após intervenção de tropas da ONU, a realização de plebiscito, a instalação de uma administração da ONU, chefiada pelo diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, e, finalmente, com eleições diretas.
Mas, não tendo superado a miséria extrema, esta ilha continua longe da paz e convive com a instabilidade, características que costumam cercar países que têm significativas riquezas energéticas, e como o Timor, também um pouco de café, algo de potencial pesqueiro e escassas condições de defesa.
Insensibilidade dos ricos
No momento em que se escreve este artigo, Ramos-Horta encontra-se entre a vida e a morte e suas palavras proféticas ecoam na memória deste repórter. Há um lado dramático em tudo isto: o Prêmio Nobel da Paz é vítima de um atentado! Mas ele vai ao âmago da questão. “A ajuda dos países ricos é miserável, é imoral o que fazem os ricos do mundo”, diz ele, contabilizando que toda a ajuda externa aos países pobres não alcança 100 bilhões de dólares. E dispara: “Enquanto isto os subsídios à agricultura na Europa, Japão e EUA, altamente insustentável do ponto de vista econômico, chegam a 300 bilhões de dólares”, afirmando que com apenas um 1% desta fortuna já seria possível reduzir a pobreza gradativamente, o que , segundo disse, vem sendo impedido por uma “extrema insensibilidade” dos ricos
Solidariedade de Cuba
Ao lado desta incapacidade para cooperar por parte dos ricos, Ramos-Horta descreve com ênfase a substantiva ajuda que Timor Leste vem recebendo de um país também pobre. São 650 estudantes timorenses que encontram-se hoje na ilha caribenha estudando medicina gratuitamente e com os gastos todos cobertos por Cuba. “Nós temos 300 médicos cubanos em território timorense, trabalhando nas aldeias mais remotas, hospedados em alojamentos precários, e nós reconhecemos que nossa ajuda a eles é negligente”, disse Ramos-Horta. O absurdo que cerca esta paradoxal incapacidade dos países ricos para ajudar e a generosa capacidade de uma Cuba pobre para mandar médicos para o outro lado do mundo, pode ser medida pelo depoimento colhido entre membros de sua delegação revelando que os EUA chegaram até a pressionar o Timor para não aceitar a ajuda de médicos cubanos. Na ocasião em que se deu a pressão, os diálogos foram carregados de significados. “Quantos médicos vocês têm aqui no Timor?”, indagava uma autoridade timorense ao representante estadunidense que o pressionava. “ Têm cem médicos? Têm 30 médicos? Será que têm 3 médicos? Pois Cuba nos enviou 300 médicos!”. E Ramos-Horta ainda informou que a única ajuda que o governo do Timor dá aos médicos cubanos é um cartão telefônico para que comuniquem-se com seus familiares eventualmente, reconhecendo que pela distância, o telefonema mal permite uma conversação. “Temos obrigação de ajudar um país tão pobre como Cuba que além de ajudar a tantos outros povos, ainda sofre sanções absurdas dos EUA”, disse o presidente da República Democrática do Timor, numa referência ao bloqueio estadunidense contra a ilha socialista.
Crítica às sanções
“Não concordo com sanções econômicas a países pobres, seja Cuba, Zimbábue ou Birmânia”, declarou Ramos-Horta , acrescentando que tem defendido este ponto de vista tanto na ONU, como na União Européia, reivindicando a formatação de uma linha política e outra econômica para determinadas situações. “Não se pode falar em paz e democracia na Birmânia, por exemplo, sem ajudar na recuperação econômica destes países que estão completamente arruinados”, diz ele, criticando ainda o que chamou de “discursos retóricos” que se ouvem de Washington e de Bruxelas.
O presidente maubere lembrou a oportunidade em que atuou como mediador entre o governo colombiano a as forças guerrilheiras daquele país, que ele chamou de forças insurgentes, em 1998, e talvez o exemplo sirva concretamente para o atual impasse entre o governo colombiano e as FARC. “Negociei com dirigentes do Exército de Libertação Nacional da Colômbia que estavam nas prisões em Medellín e depois fui de helicóptero para as selvas amazônicas e fizemos o resgate dos reféns, sem pagar nada” relata. Ele destacou ter sido muito duro com os guerrilheiros quando afirmou:“Não acredito em causas que justifiquem o seqüestro de pessoas inocentes”. Apesar do sucesso da operação por meio do diálogo, que contou com a autorização do então presidente da Colômbia, Andrés Pastrana, Ramos-Horta conta que os guerrilheiros, com uma pitada de ironia, disseram que não poderiam continuar eternamente a liberar reféns sem o pagamento de resgate. “Como vamos levar a nossa luta sem dinheiro para sustentá-la?”, teriam questionado.
Ramos-Horta recomenda o diálogo para a solução destes impasses lembrando que as FARC são uma enorme força militar e econômica, o território colombiano é vasto, sentenciando mesmo que não há solução militar à vista ali, mas apenas com muito diálogo e muita diplomacia. O mesmo para Birmânia, lembrando que neste país asiático, ao contrário da Colômbia, com apenas dois grupos que insiste em chamar de insurgentes, há 18 forças insurgentes, é uma espécie de Balcães da Ásia.
E para Ramos-Horta, toda e qualquer sanção econômica prejudica a população e fortalece aos militares que, ao seu ver, devem ser incluídos num plano de normalização e transição naquele país espremido entre gigantes interesses dos EUA, da China e da Índia, que disputam o controle da rota marítima na região, um dos panos de fundo nesta crise, de certa forma ampliada em razão da aproximação da Birmânia com a China.
Paz e petróleo
Não se sabe ao certo as condições de sobrevivência do presidente Ramos-Horta, mas sabe-se que não há uma plena normalidade da situação política no Timor Leste, que ainda tem a presença de 1.300 soldados australianos, país diretamente interessado na exploração do petróleo e do gás timorenses.
Para entender melhor as razões da instabilidade é preciso voltar no tempo, há 3 anos, quando o então primeiro-ministro Mari Alkatiri, negociou de forma soberana um acordo para a exploração das duas únicas riquezas minerais que o paupérrimo Timor dispõe. Foi uma negociação difícil, tendo como resultado a obrigação de pagamento de 20% do valor explorado para o governo timorense. Mais tarde, o ex-guerilheiro Alkatiri, conseguiu numa negociação ainda mais severa, aumentou de 20% para 50% o direito do Timor Leste sobre o valor auferido pelas empresas transnacionais que exploram os minerais, seguindo uma linha nacionalista similar à de Evo Morales, de Hugo Chávez e de Rafael Correa. Foi o bastante para que surgissem movimentos internos de desestabilização, que resultaram na queda de Alkatiri, cuja candidatura à presidência foi praticamente vetada, surgindo daí uma improvisação de uma nova força político-eleitoral, o Conselho Nacional da Reconstrução Timorense, para onde se trasladaram Ramos-Horta e Xanana Gusmão, atual primeiro-ministro, vencedores da última eleição num embate contra Frente Timorense de Libertação Nacional, a Fretlin, responsável pela resistência armada durante décadas, da qual Xanana era o principal dirigente.
O fato concreto é que o acordo petroleiro negociado com soberania por Alkatiri é o que permite hoje ao Timor, um os países pobres do mundo, já possuir uma receita anual de cerca de 1 bilhão e 200 milhões de dólares, para uma população de aproximadamente 1 milhão de habitantes. Portanto, o Timor Leste tem hoje uma relativamente elevada renda per capta. Mas, apesar disto, ainda está imerso em uma miséria extrema, miséria que aguça todas as contradições internas, também marcadas por movimentos desestabilizadores externos, desde que Alkatiri, hoje o Secretário-Geral da Fretlin, iniciou um processo de aproximação com a China e negociou um acordo com empresa estatal chinesa para a exploração do petróleo e do gás.
Eis aí a razão do seu veto, não exatamente pelo fato de ter origem muçulmana, como o nome denota. O que existe na região é uma luta surda, intensa, com potencial explosivo, tanto pelo controle das rotas marítimas envolvendo o EUA e seu fiel parceiro a Austrália, a China, a Índia, o Japão, a Indonésia. Enquanto isto, o pobre Timor Leste, sem quadros, sem infra-estrutura, ainda marcado pelo ensurdecedor ruído das lágrimas derramadas pelos 25 anos de carnificina na ocupação indonésia, não conseguiu definir o seu modelo de desenvolvimento. E, enquanto houver pobreza extrema, não haverá paz, ecoam as palavras de Ramos-Horta. Dolorosa prova disto é que encontra-se no hospital lutando entre a vida e a morte.
Fonte: Brasil de Fato
http://www.brasildefato.com.br
Em sua recente visita ao Brasil, o presidente do Timor Leste, José Ramos-Horta, talvez não imaginasse que pudesse ser tão profético quando declarou a este repórter que “enquanto houver miséria extrema não haverá paz de verdade”. Referia-se ao mundo como um todo, à crescente desigualdade entre um punhado de países ricos e poderosos e uma escandalosa miséria que se avoluma de modo explosivo na chamada periferia do mundo, inclusive no mundo desenvolvido. Mas também se aplica ao seu próprio país.
Poucos dias após voltar ao Timor Lorosae (Terra do Sol Nascente), José Ramos-Horta, bem como o primeiro-ministro, o líder guerrilheiro Xanana Gusmão, são alvos de atentados simultâneos organizados pelo major dissidente Alfredo Reinado, expulso juntamente com centenas de militares das filas das Forças Armadas do Timor, há cerca de 2 anos, quando deu-se a última crise naquele país ilhéu, próximo à Austrália, antiga colônia portuguesa, ocupada pela Indonésia em 1975 após sanguinária autorização de Henry Kissinger.
“Sejam rápidos”, recomendou o sinistro ex-secretário de Estado dos EUA à ditadura indonésia, diante da derrota iminente das tropas imperialistas no Vietnã, no Laos e no Cambodja. A ocupação do Timor levou 25 anos e ceifou a vida de 25% dos timorenses, o que ficou conhecido como o maior genocídio contemporâneo, e também como “O Vietnã silencioso”, dada a bravura com que o povo maubere resistiu de armas nas mãos a invasão que contou com a cobertura de um manto de silêncio das redes (des) informativas internacionais.
Petróleo, gás e uma posição estratégica dentro da meta imperial de controlar as rotas marítimas da região, eis o que possui o Timor Leste para pagar com tantas vidas a sua luta pela liberdade e pela independência, finalmente conquistada após intervenção de tropas da ONU, a realização de plebiscito, a instalação de uma administração da ONU, chefiada pelo diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, e, finalmente, com eleições diretas.
Mas, não tendo superado a miséria extrema, esta ilha continua longe da paz e convive com a instabilidade, características que costumam cercar países que têm significativas riquezas energéticas, e como o Timor, também um pouco de café, algo de potencial pesqueiro e escassas condições de defesa.
Insensibilidade dos ricos
No momento em que se escreve este artigo, Ramos-Horta encontra-se entre a vida e a morte e suas palavras proféticas ecoam na memória deste repórter. Há um lado dramático em tudo isto: o Prêmio Nobel da Paz é vítima de um atentado! Mas ele vai ao âmago da questão. “A ajuda dos países ricos é miserável, é imoral o que fazem os ricos do mundo”, diz ele, contabilizando que toda a ajuda externa aos países pobres não alcança 100 bilhões de dólares. E dispara: “Enquanto isto os subsídios à agricultura na Europa, Japão e EUA, altamente insustentável do ponto de vista econômico, chegam a 300 bilhões de dólares”, afirmando que com apenas um 1% desta fortuna já seria possível reduzir a pobreza gradativamente, o que , segundo disse, vem sendo impedido por uma “extrema insensibilidade” dos ricos
Solidariedade de Cuba
Ao lado desta incapacidade para cooperar por parte dos ricos, Ramos-Horta descreve com ênfase a substantiva ajuda que Timor Leste vem recebendo de um país também pobre. São 650 estudantes timorenses que encontram-se hoje na ilha caribenha estudando medicina gratuitamente e com os gastos todos cobertos por Cuba. “Nós temos 300 médicos cubanos em território timorense, trabalhando nas aldeias mais remotas, hospedados em alojamentos precários, e nós reconhecemos que nossa ajuda a eles é negligente”, disse Ramos-Horta. O absurdo que cerca esta paradoxal incapacidade dos países ricos para ajudar e a generosa capacidade de uma Cuba pobre para mandar médicos para o outro lado do mundo, pode ser medida pelo depoimento colhido entre membros de sua delegação revelando que os EUA chegaram até a pressionar o Timor para não aceitar a ajuda de médicos cubanos. Na ocasião em que se deu a pressão, os diálogos foram carregados de significados. “Quantos médicos vocês têm aqui no Timor?”, indagava uma autoridade timorense ao representante estadunidense que o pressionava. “ Têm cem médicos? Têm 30 médicos? Será que têm 3 médicos? Pois Cuba nos enviou 300 médicos!”. E Ramos-Horta ainda informou que a única ajuda que o governo do Timor dá aos médicos cubanos é um cartão telefônico para que comuniquem-se com seus familiares eventualmente, reconhecendo que pela distância, o telefonema mal permite uma conversação. “Temos obrigação de ajudar um país tão pobre como Cuba que além de ajudar a tantos outros povos, ainda sofre sanções absurdas dos EUA”, disse o presidente da República Democrática do Timor, numa referência ao bloqueio estadunidense contra a ilha socialista.
Crítica às sanções
“Não concordo com sanções econômicas a países pobres, seja Cuba, Zimbábue ou Birmânia”, declarou Ramos-Horta , acrescentando que tem defendido este ponto de vista tanto na ONU, como na União Européia, reivindicando a formatação de uma linha política e outra econômica para determinadas situações. “Não se pode falar em paz e democracia na Birmânia, por exemplo, sem ajudar na recuperação econômica destes países que estão completamente arruinados”, diz ele, criticando ainda o que chamou de “discursos retóricos” que se ouvem de Washington e de Bruxelas.
O presidente maubere lembrou a oportunidade em que atuou como mediador entre o governo colombiano a as forças guerrilheiras daquele país, que ele chamou de forças insurgentes, em 1998, e talvez o exemplo sirva concretamente para o atual impasse entre o governo colombiano e as FARC. “Negociei com dirigentes do Exército de Libertação Nacional da Colômbia que estavam nas prisões em Medellín e depois fui de helicóptero para as selvas amazônicas e fizemos o resgate dos reféns, sem pagar nada” relata. Ele destacou ter sido muito duro com os guerrilheiros quando afirmou:“Não acredito em causas que justifiquem o seqüestro de pessoas inocentes”. Apesar do sucesso da operação por meio do diálogo, que contou com a autorização do então presidente da Colômbia, Andrés Pastrana, Ramos-Horta conta que os guerrilheiros, com uma pitada de ironia, disseram que não poderiam continuar eternamente a liberar reféns sem o pagamento de resgate. “Como vamos levar a nossa luta sem dinheiro para sustentá-la?”, teriam questionado.
Ramos-Horta recomenda o diálogo para a solução destes impasses lembrando que as FARC são uma enorme força militar e econômica, o território colombiano é vasto, sentenciando mesmo que não há solução militar à vista ali, mas apenas com muito diálogo e muita diplomacia. O mesmo para Birmânia, lembrando que neste país asiático, ao contrário da Colômbia, com apenas dois grupos que insiste em chamar de insurgentes, há 18 forças insurgentes, é uma espécie de Balcães da Ásia.
E para Ramos-Horta, toda e qualquer sanção econômica prejudica a população e fortalece aos militares que, ao seu ver, devem ser incluídos num plano de normalização e transição naquele país espremido entre gigantes interesses dos EUA, da China e da Índia, que disputam o controle da rota marítima na região, um dos panos de fundo nesta crise, de certa forma ampliada em razão da aproximação da Birmânia com a China.
Paz e petróleo
Não se sabe ao certo as condições de sobrevivência do presidente Ramos-Horta, mas sabe-se que não há uma plena normalidade da situação política no Timor Leste, que ainda tem a presença de 1.300 soldados australianos, país diretamente interessado na exploração do petróleo e do gás timorenses.
Para entender melhor as razões da instabilidade é preciso voltar no tempo, há 3 anos, quando o então primeiro-ministro Mari Alkatiri, negociou de forma soberana um acordo para a exploração das duas únicas riquezas minerais que o paupérrimo Timor dispõe. Foi uma negociação difícil, tendo como resultado a obrigação de pagamento de 20% do valor explorado para o governo timorense. Mais tarde, o ex-guerilheiro Alkatiri, conseguiu numa negociação ainda mais severa, aumentou de 20% para 50% o direito do Timor Leste sobre o valor auferido pelas empresas transnacionais que exploram os minerais, seguindo uma linha nacionalista similar à de Evo Morales, de Hugo Chávez e de Rafael Correa. Foi o bastante para que surgissem movimentos internos de desestabilização, que resultaram na queda de Alkatiri, cuja candidatura à presidência foi praticamente vetada, surgindo daí uma improvisação de uma nova força político-eleitoral, o Conselho Nacional da Reconstrução Timorense, para onde se trasladaram Ramos-Horta e Xanana Gusmão, atual primeiro-ministro, vencedores da última eleição num embate contra Frente Timorense de Libertação Nacional, a Fretlin, responsável pela resistência armada durante décadas, da qual Xanana era o principal dirigente.
O fato concreto é que o acordo petroleiro negociado com soberania por Alkatiri é o que permite hoje ao Timor, um os países pobres do mundo, já possuir uma receita anual de cerca de 1 bilhão e 200 milhões de dólares, para uma população de aproximadamente 1 milhão de habitantes. Portanto, o Timor Leste tem hoje uma relativamente elevada renda per capta. Mas, apesar disto, ainda está imerso em uma miséria extrema, miséria que aguça todas as contradições internas, também marcadas por movimentos desestabilizadores externos, desde que Alkatiri, hoje o Secretário-Geral da Fretlin, iniciou um processo de aproximação com a China e negociou um acordo com empresa estatal chinesa para a exploração do petróleo e do gás.
Eis aí a razão do seu veto, não exatamente pelo fato de ter origem muçulmana, como o nome denota. O que existe na região é uma luta surda, intensa, com potencial explosivo, tanto pelo controle das rotas marítimas envolvendo o EUA e seu fiel parceiro a Austrália, a China, a Índia, o Japão, a Indonésia. Enquanto isto, o pobre Timor Leste, sem quadros, sem infra-estrutura, ainda marcado pelo ensurdecedor ruído das lágrimas derramadas pelos 25 anos de carnificina na ocupação indonésia, não conseguiu definir o seu modelo de desenvolvimento. E, enquanto houver pobreza extrema, não haverá paz, ecoam as palavras de Ramos-Horta. Dolorosa prova disto é que encontra-se no hospital lutando entre a vida e a morte.
Fonte: Brasil de Fato
http://www.brasildefato.com.br
https://www.alainet.org/es/node/125685
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