Encontro Sindical Nuestra America pede unidade em tempos de crise

05/09/2011
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Reunidos em Manágua, sindicalistas propõem ações concretas e agenda comum para transformar a crise em oportunidade de mobilização dos trabalhadores
 
Manágua (Nicarágua).- O tema do IV Encontro Sindical Nuestra America (Esna), levado a cabo em Manágua (Nicarágua), entre os dias 26 e 28 de agosto, não poderia ser outro: a crise financeira mundial e suas consequências para os países do continente americano. Os 337 representantes de 134 organizações sindicais, de 27 países, debateram o papel dos trabalhadores e a necessidade de unidade frente a mais recente crise do sistema capitalista.
 
Na análise do sindicalista João Batista, vice-presidente da Federação Sindical Mundial (FSM) e dirigente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), essa é um crise sistêmica e estrutural e não uma nova crise, como apontam alguns meios de comunicação. “É o desdobramento da crise de 2008, cuja solução encontrada pelos capitalistas, de salvar os bancos através de ajustes fiscais, não funcionou. Não há saída para a crise nos marcos do sistema capitalista. Ou buscamos uma nova sociedade a nível global ou vamos para a barbárie”, sentenciou Batista. “Na verdade já estamos vendo a barbárie, por exemplo, na Somália”, constatou, referindo-se à crise alimentar que assola este país africano.
 
Divididas em três mesas de trabalho que trataram sobre temas como formação, integração regional e plano de ação, as entidades sindicais ratificaram a necessidade de mobilização, organização e de uma agenda comum entre os trabalhadores como elemento fundamental na luta pela transformação da América Latina. Sendo assim, o uruguaio Juan Castillo, do Plenário Intersindical de Trabalhadores e Convenção Nacional dos Trabalhadores (PIT-CNT) e coordenador continental do Esna, explica que, desde sua primeira edição, o encontro busca pautas comuns de luta entre as entidades participantes. “Fizemos um esforço de construir um espaço onde o que interessa não é a preferência partidária das centrais sindicais. Construir a unidade não é fácil, e mais difícil é mantê-la. Aqui há espaço para o dissenso, mas temos que construir a unidade na diversidade. Colocar objetivos concretos que nos façam lutar juntos”, explicou.
 
Dentro das ações concretas ratificadas na declaração final do encontro estão uma mobilização internacional no dia 3 de outubro e a construção de uma “plataforma do trabalho”, instrumento pelo qual a classe trabalhadora interviria em processos de integração como a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba), a Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac) e a União das Nações Sul-Americanas (Unasul).
 
A crise nos EUA
 
Nos Estados Unidos, Detroit, sede das grandes montadoras General Motors e Ford, parece ser umas das cidades mais vulneráveis aos efeitos da crise do sistema capitalista, como relatou a sindicalista Martha Grevatt, da União dos Trabalhadores da Indústria Automobilística (UAW, em sua sigla em inglês). “Muitos empregos na indústria automobilística foram eliminados. Já não há trabalho para os jovens em Detroit. Empresas como Ford, Chrysler e General Motors mudaram muitas unidades para países onde se pagam salários mais baixos. Além disso, introduziram tecnologia avançada que substitui a força de trabalho humana”, contou. Segundo a trabalhadora, a população de Detroit diminuiu, em poucos anos, de 1 milhão para 750 mil pessoas.
 
A falta de assistência médica também é um problema agravado pela crise, de acordo com Ignácio Menezes, um imigrante mexicano que trabalha como operário há mais de 30 anos em Detroit. “Antes, os trabalhadores que tinham seguro de saúde não pagavam nada pela consulta médica, agora são 25 dólares a visita. Os remédios, que antes eram gratuitos, agora custam entre 5 e 10 dólares. E isso com o seguro. o agravante é que muitos trabalhadores não têm nem o seguro”, denunciou.
 
Mais grave é a situação dos trabalhadores imigrantes indocumentados, apesar de serem convenientes para as empresas que não querem pagar salários apropriados e nem respeitar direitos trabalhistas. “Os imigrantes ilegais têm os salários mais baixos, não têm seguro de saúde e trabalham nas piores condições. Além de tudo, vivem nas sombras: do trabalho pra casa, da casa do trabalho. Não podem desfrutar de um dia de passeio, porque temem a deportação”, explicou Menezes.
 
Apesar do triste cenário da Detroit em crise, Martha Grevatt explica que não há mobilização dos trabalhadores e que muitos dirigentes são cooptados pela diretoria empresarial. “A porcentagem de sindicalização dos trabalhadores nos EUA é de somente 10% e as lideranças sindicais geralmente favorecem os patrões e as empresas”. Segundo Grevatt, em 1978 o sindicato tinha 750 mil afiliados, hoje tem somente 250 mil.
 
Já em Cuba...
 
Na pequena ilha onde triunfou uma revolução há 50 anos, novas reformas estão em curso, cujo impacto maior se dará no cotidiano dos trabalhadores cubanos. Diante do bloqueio econômico imposto pelo governo dos Estados Unidos, da caída do antigo bloco socialista, e da crise financeira global, Cuba começa a pôr em prática medidas de abertura econômica.
 
“Estamos fazendo uma atualização do nosso modelo de gestão visando a dar sustentabilidade ao nosso sistema, para continuar construindo o socialismo” explicou o secretário-geral da Central de Trabalhadores de Cuba (CTC), Salvador Valdez. “Queremos dar continuidade às conquistas da revolução: o pleno acesso ao emprego, em um sistema onde o trabalhador tem acesso a serviços como educação, saúde e cultura, além de obter uma aposentadoria segura”, completou.
 
De acordo com Valdez, todas essas medidas que o governo está implementando foram discutidas previamente na sociedade através de assembleias e, após críticas e sugestões, a proposta inicial foi modificada em 70%. “Ao movimento sindical e aos trabalhadores lhes corresponde uma papel protagônico de compromisso e participação nessas transformações”, disse.
 
Uma das medidas que representará um desafio aos trabalhadores é a abertura ao “trabalho por conta própria”. Agora, ao invés de todos os serviços serem de responsabilidade do Estado, alguns serão oferecidos através da iniciativa própria. “Essa abertura nos proporcionará fontes de emprego fora do Estado, assim, poderemos reordenar um grupo de trabalhadores que hoje trabalham na máquina estatal, liberando o Estado para encarregar-se de coisas essenciais e estratégicas para o país, como o turismo, a tecnologia, o transporte e a mineração” relatou Salvador. O dirigente também ressaltou que através dessa medida, o governo poderá arrecadar impostos para poder financiar e sustentar os programas que, até agora, proporcionaram benefícios para a população cubana desde a revolução.
 
 
https://www.alainet.org/es/node/152343
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