Que pasará en Argentina?
27/11/2012
- Opinión
A despeito do que se dará, a Argentina parece dar um passo importante na direção de uma comunicação mais democrática
O dia 7 de dezembro está sendo chamado de 7D na Argentina. Nesta data, vence o prazo limite dado pela Suprema Corte para a medida cautelar que suspende a eficácia do artigo 161 da ‘Ley de Medios’ para o Grupo Clarín. Trocando em miúdos: a partir desta data, o maior grupo de mídia argentino deixa de estar protegido contra as medidas anticoncentração e terá que garantir o processo de ‘desinversión’, ou seja, se desfazer das licenças de televisão que têm em excesso ao permitido pela lei. O grupo tem 237 licenças de cabo e 25 de TV aberta, mas a lei só permite que cada operadora tenha 24 no cabo e 10 abertas.
As vozes mais críticas veem nessa medida um atentado à liberdade de expressão, mas para quem está acostumado com o funcionamento das medidas anticoncentração no capitalismo é muito difícil defender essa tese. Países europeus e os Estados Unidos têm leis tão rigorosas para a comunicação e para outros setores estratégicos, e isso é percebido como um fator que fortalece a competição, portanto benéfico para se ampliar a liberdade de expressão. Não é por acaso que diversos organismos internacionais, como OEA, Unesco e ONU apoiam os termos da lei.
É verdade que a campanha feita nos meios públicos contra o Clarin reforça uma polarização que ajuda a aumentar o ruído sobre o caso, especialmente fora do país. Mas também é verdade que o caso de maior concentração se dá justamente com o Clarín, portanto não há como aplicar a lei sem afetar o grupo.
Está sob discussão o que acontecerá propriamente no dia 7, mas o mínimo deverá ser a apresentação, pelo Clarín, de um plano de desinvestimento. No quadro mais acirrado, o governo já abriria um chamado para licitação das licenças. A despeito do que se dará, a Argentina parece dar um passo importante na direção de uma comunicação mais democrática. Resta agora o governo jogar o mesmo empenho na aplicação de outras medidas importantes da lei, como a garantia de um terço das frequências para entidades sem fins de lucro e o fomento a meios comunitários.
Artigo originalmente publicado na edição impressa 508 do Brasil de Fato
https://www.alainet.org/es/node/162933
Del mismo autor
- Virada política, Ocupa Política, Vamos e o abismo intergaláctico 13/11/2017
- Temer pilha as riquezas brasileiras, Lula atrai multidões no Nordeste e a esquerda busca seu rumo 31/08/2017
- Nossa Internet vai virar TV a cabo? 15/07/2013
- Joaquim Barbosa vê ausência de pluralismo na mídia brasileira 02/05/2013
- A mídia como exército regular 21/01/2013
- Que pasará en Argentina? 27/11/2012
- SIP versus ONU 23/10/2012
- FHC defende a regulação dos meios de comunicação 16/05/2012
- O controle remoto 22/03/2012
- Blogueiros debatem papel da internet 02/11/2011