Retrospectiva da economia em 2014

18/12/2014
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 Aparentemente o ano de 2014, caracterizado pela campanha eleitoral de uma eleição presidencial em dois turnos, teria demarcado uma disputa entre dois projetos econômicos: o “social-desenvolvimentismo” da dupla Lula e Dilma e o projeto neoliberal do ex-presidente Fernando H. Cardoso, plenamente recalibrado pelo candidato Aécio Neves. Mas os sinais emitidos pela presidente Dilma ao es­colher sua equipe econômica e as tarefas a que esta equi­pe se pôs a anunciar e executar, demonstram que o tercei­ro turno da eleição presidencial, movido por campanhas de mídia e “Operação Lava Jato”, praticamente selaram a sorte do “social-desenvolvimentismo”.
 
A bem da verdade, o crescimento da economia já come­çara a declinar desde o início do primeiro mandato da pre­sidente Dilma (2011-2014) – entre 1,6% e 1,7% de incre­mento em média anual, a depender do último resultado.
 
Por sua vez, no período anterior – dos dois mandatos do presidente Lula – os trunfos do crescimento (a mé­dia no segundo mandato esteve em 4,1% ao ano) estive­ram associados àquilo que hoje é motivo de crise: forte expansão do comércio exterior, com especialização em bens primários.
 
O ano de 2014 sintetiza três características, até certo ponto comuns ao mandato inteiro: a) baixo crescimento, b) elevação do desequilíbrio externo (o “déficit” em Conta Corrente com o Exterior pula de pouco mais de 50 bilhões de dólares no primeiro biênio para mais de 80 bilhões no segundo biênio), c) tensões inflacionárias no nível do teto da meta oficial de inflação.
 
Mas se o crescimento econômico tem sido baixo, mesmo assim houve forte pressão às importações de manufatura­dos e também nos “serviços” pagos ao capital estrangeiro, daí o agravamento do déficit na Conta-Corrente.
 
Por outro lado, com a posse do ministro Joaquim Levy, o governo delineia uma transição ao projeto derrotado na eleição presidencial, que passa por um acerto de con­tas prévio com o sistema financeiro, de caráter rentis­ta. Não há horizonte de crescimento imediato (primei­ro biênio), mas sim metas de “superávit” primário anun­ciadas, retomada da elevação dos juros pelo Banco Cen­tral e um programa de cortes da despesa pública, prece­dido por balões de ensaio dos candidatos a sacrifício – “pensões”, “seguro desemprego” e “auxílio doença”, es­colhidos a dedo para promover revisão de regras supos­tamente generosas no sistema de direitos da Previdência Social. Quanto ao SUS e sua demanda por provisão de recursos adicionais – Emenda Popular – Saúde mais 10 – seu destino é o arquivo.
 
Com relação aos acertos de conta imediatos com o sis­tema financeiro, anunciados pelo ministro Levy ou exe­cutados pelo Banco Central destacam-se: 1- as metas de superávit primário, sem truques contábeis; 2- a volta do ciclo da elevação da taxa básica de juros,praticada no fi­nal de novembro; 3- encerramento do ciclo de provisão de recursos do Tesouro ao BNDES, baseados em expan­são da Dívida Pública Bruta. Essa forma de financiar a in­fraestrutura e os setores prioritários para crescer, com­binada com uma tentativa de redução de juros básicos e fortalecimento dos bancos públicos, caminho seguido no primeiro governo, está definitivamente cancelada pe­la “nova política econômica”.
 
Em síntese, transitar do “social-desenvolvimentismo” em crise para o neoliberalismo duro e puro não aponta ru­mos para superação dos problemas reais do primeiro go­verno – baixo crescimento com intensificação do desequi­líbrio externo; mas antecipa tendências de piora na de­sigualdade, de que aparentemente tínhamo-nos vacina­do recentemente. Toda essa transição ocorrerá em clima de forte instabilidade política, expressa pela permanente ameaça de pedido de impeachment da presidente, mani­pulado ostensivamente pelos setores derrotados, desde os dias seguintes ao final do segundo turno eleitoral.
 
- Guilherme Costa Delgado é doutor em Economia pela Unicamp e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.
 
17/12/2014
 
https://www.alainet.org/es/node/166249
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