E Agora, Dilma? É hora de lutar, é hora de resistir!
Socialismo ou Globalização
Sepultando a transição conservadora, a abertura de um novo ciclo democrático no Brasil, que pressuponha o fortalecimento do Estado e o ativismo da sociedade civil, depende do avanço do bloco histórico progressista, da reforma política e da democratização da mídia. Sua derrota pode significar a volta com toda força do modelo neoliberal, que ataca empregos, direitos sociais e a própria democracia, ao flertar com o golpismo e o autoritarismo.
Onda Conservadora
Em São Paulo, a onda antipetista contra o governo deu uma demonstração de força.
Foi a primeira manifestação de massa orquestrada pela oposição de direita depois de 1964.
Não será a última: temperada pelo ódio de classe, esse posicionamento muda o caráter da luta entre os partidos e as classes sociais que disputaram as eleições de 2014.
Sob animação da Rede Globo, amplos setores da classe média saíram às ruas e defenderam a derrubada do governo eleito pela maioria. Defendendo o golpe militar, o impeachment ou a renúncia, contaram com o apoio do poder econômico dentro e fora do Brasil, dos principais meios de comunicação, dos partidos de direita, inclusive de deputados da própria base aliada.
Não podemos permitir que nossa base social seja contaminada, polarizada e manipulada por essa onda, Dilma precisa dar respostas imediatas às expectativas de seus eleitores e da sua base social.
Enfrentar a Direita, a Estagnação Econômica e a Corrupção
Considerando uma correlação de forças desfavorável no Estado e as debilidades das esquerdas e dos setores populares na sociedade, para sair do cerco econômico, político e ideológico, o governo Dilma deve defender a Constituição e as instituições republicanas, deve mediar o aperto monetário e o ajuste fiscal junto com a retomada das atividades da Petrobrás e deve lutar contra o financiamento empresarial de campanha.
Nessa linha, Lula e o PT precisam fazer autocrítica no plano da ética pública diante da sociedade e devem convocar os setores progressistas para reagir, apoiando o enfrentamento do governo contra a direita, a estagnação e a corrupção e confrontando os adversários na disputa institucional e no movimento de massas.
Para ter êxito neste confronto, junto com movimento sindical, social e estudantil, os partidos do campo democrático-popular e socialista precisam se abrir para a sociedade, superando o sectarismo e priorizando o debate estratégico sobre o socialismo e sobre a universalização dos direitos sociais, sem perder de vista a superação de suas fragilidades teóricas e organizativas na atual correlação de forças.
Apostar no Crescimento com Inclusão social
As ações do governo não podem desmobilizar os setores progressistas e sua base popular de apoio. Confiança na economia se conquista protegendo a estabilidade da moeda e da balança de pagamentos, mas também se alcança combatendo a recessão.
No longo prazo, precisamos superar o tripé macroeconômico em busca de um novo ciclo de desenvolvimento nacional assentado na Petrobrás e no pré-sal, na indústria de transformação, na infraestrutura, no dinamismo do mercado interno e externo, na agricultura familiar, na universalização das políticas sociais e na sustentabilidade ambiental.
Mas, no curto prazo, o governo deve - em caráter de urgência - rever os cortes orçamentários na educação, saúde e moradia, extinguir o fator previdenciário no cálculo para aposentadoria (sem elevação da idade mínima), garantir o aumento sustentável do salário mínimo, negociar a redução do ICMS da cesta básica com os estados, repactuar a Medida Provisória do auxílio-doença, do seguro-desemprego e do abono salarial, subsidiar o diesel e a tarifa da energia elétrica para a baixa-renda, criar o imposto sobre heranças e aumentar a alíquota da Cofins que incide sobre o setor financeiro.
Resposta do Campo Democrático, Popular e Socialista à Desestabilização Midiática
Diante da ofensiva imperialista empreendida por Washington contra os governos eleitos democraticamente na América Latina, a associação estratégica entre Mercosul e União Euro-asiática será um mecanismo decisivo na defesa da soberania nacional e do governo Dilma.
Se a direita derruba Dilma ou a põe de joelho, perde o PT, perde o conjunto da esquerda, perde o Brasil. Ganha o retrocesso, o projeto da globalização neoliberal apoiado pelos oligopólios da mídia contrários à democratização da comunicação, que fere de morte a democracia participativa e que favorece a conformação de um Estado completamente subordinado aos interesses do capital financeiro.
Personagem menor nesta disputa histórica, neste congresso nacional conservador, o PMDB é o fiel da balança para a aprovação dos projetos do governo. No entanto, a natureza patrimonialista e fisiológica da sua hegemonia precisa ser fustigada pelo bloco progressista no Estado e na sociedade.
Desse modo, no plano da governabilidade institucional, é fundamental o governo abrir diálogo permanente com a sociedade civil organizada, bem como abrir canais de negociação com a base aliada e com setores da oposição em torno do programa vitorioso nas eleições presidenciais.
Agenda Positiva
Apesar dos erros de seu primeiro governo e dos atropelos da sua heróica campanha eleitoral, pesa sobre Dilma a condensação de crises que se arrastam historicamente na sociedade brasileira e que não foram resolvidas nem encaminhadas durante os governos de Lula.
Os desafios serão gigantescos para sedimentar o caminho das reformas estruturais, mas é imperioso acumular força para reverter os baixos índices de popularidade e para melhorar as expectativas da economia diante da nossa base social.
A temperatura dos protestos na rua vai determinar a possibilidade de reconstrução da base aliada no Congresso e nos ministérios, mas o fim do financiamento empresarial de campanha no Supremo Tribunal Federal, a operação lava-jato e as CPIs da Petrobrás e do HSBC podem favorecer uma recomposição em direção às aspirações do bloco progressista.
A mobilização popular organizada pela CUT, MST e UNE deu o tom da resistência na atual conjuntura, superando a ênfase institucional, conciliatória e despolitizada do “reformismo fraco” do lulismo. Para enfrentar a estagnação econômica e a corrupção, o bloco progressista tem o desafio de construir um programa mínimo para sustentar o governo contra a direita e para pressioná-lo à esquerda no parlamento, nas ruas e na internet.
Agora só falta Dilma se identificar com sua própria história de luta pela democracia e pelo socialismo.
Carlos Ocké é economista e membro do conselho consultivo do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes)
Créditos da foto: Roberto Stuckert Filho / PR
23/03/2015