Estado de exceção, golpe de Estado, ditadura e fascismo judicial
- Opinión
Introdução
A história social, política, econômica e cultural da República Velha (1889-1930) é caracterizada por um miríade de conflitos sociais, haja vista as grandes greves insurrecionais protagonizadas pelo movimento operário revolucionário nos idos de 1907, 1910, 1917, 1920, 1922, as Revoltas ou guerrilhas de Boa Vista no Tocantins (1892-1894, 1907-1909); as Revoltas da Armada (1893-1894), a Revolução Federalista do Rio Grande do Sul (1893-1895), as Guerras (“messiânicas” e populares contra o latifúndio) de Canudos ( 1893-1897) e do Contestado (1912-1916), a Revolta da Vacina ocorrida nos subúrbios do Rio de Janeiro (1904), a Revolta da Chibata (1910), a Sedição de Juazeiro (1914), A Insurreição dos Anarquistas no Rio de Janeiro (1918), a “Revolução Libertadora” (1923), etc.; rebeliões que antanho foram orquestradas, ora pelo proletariado militante, que nos dizeres do anarquista espanhol Anselmo Lorenzo, fora insuflado por concepções socialistas, anarquistas ou comunistas, ora por frações ou corporações associadas às camadas médias da sociedade e (ou) às oligarquias, tais como as engendradas por militares tenentistas da Revolta dos Dezoito do Forte de Copacabana (1922), atormentados pelas abstrações ou fantasmas da “Sagrada Família” liberal-positivista e republicana.
Efervescências sociais cujos inconscientes político, social, maquínico, estético, esquizoanalítico e estrutural, ancoram-se num intenso antagonismo na relação capital versus trabalho, postulando a constituição de uma “axiomática [mortuária]” (DELEUZE; GUATTARI, 2008), quer dizer, uma solução, inclusive militar, a da via prussiana, do capital e de sua “forma-mercadoria” (MARX, 1996), o Estado moderno oligárquico-burguês, que apresenta, e também representa, a conjunção de extratos da “burguesia nacional” com o imperialismo (naquele momento) euronorteamericano na construção de uma amálgama de “tecnologias de poder” para a constituição da governamentalidade, modulada através da forma (ou seria da fôrma) da “política das oligarquias” sob a narrativa ou a fictio políticoideológica e positivista da “Ordem e Progresso”, recopilada como certos princípios e métodos de “racionalização” do exercício do governo, consoante o logos do metabolismo ampliado do capital; requestando o uso do “Aparato Repressivo de Estado” (ALTHUSSER, 1970), principalmente o aparelho policial-militar das Forças Armadas, contra opositores políticos e estratos da classe trabalhadora, em campanhas com o objetivo de esmagar movimentos, organizações, vilas e povoados de trabalhadores rurais e urbanos que, acoimados de messiânicos e (ou) apedeutos, estiveram imbuídos de “devires histéricos” (LACAN, 1992) ou libertários, periclitando o todo poderoso deus capital, arrojando perspectivas laicas de afirmação da vida humana e da constituição do comum, tais como as ocorrências nos sobrecitados arraiais de Canudos e do Contestado, que ansiavam pela instauração de paraísos [milenaristas] na terra.
1. O estado de exceção no Brasil, ontem, no regime do Mal. de Ferro e hoje, no período pós-democrático
Segundo Salvadori de Decca (1997), o romance Triste fim de Policarpo Quaresma (2008) constituiu um dos primeiros relatos sobre os massacres republicanos, ao pincelar sobre um dos mais variados períodos conturbados da história social brasileira, sob o epíteto da “República da Espada” (1889-1894), descrito pelas exações da governamentalidade do Estado brasileiro “chefiada” pelo Presidente Floriano Peixoto (1891-1894), o Marechal de Ferro (PRP), quem instaurou um estado de sítio e, por conseguinte, um estado de exceção, onde o fato ou a força transformou-se em direito, adquirindo força-de-lei, e o direito foi suspenso, perdendo a sua força, sendo eliminado de fato; assim, produzindo uma lacuna jurídica e uma indiscernibilidade entre o factum e o jus, atenuados mutuamente.
Processo historicamente indestrinçável de uma “ditadura comissária” (AGAMBEN, 2004), que resultou na consolidação da Constituição da Primeira República, promulgada em 1891, mediante o exercício de um poder soberano, isto é, “aquele quem decide um estado de exceção” (SCHMITT, 2009), caracterizado por um poder nu ou violento, usado para arrebentar os seus adversários políticos, tais como os Almirantes Custódio de Melo e Saldanha da Gama na Segunda Revolta da Armada (1893-1895). Esses ameaçaram bombardear o Palácio do Itamaraty, inclusive utilizando-se do terrorismo de Estado e, consequentemente, da repressão brutal contra a vida nua dos corpos matáveis e insacrificáveis dos fluxos e contingentes de trabalhadores, no período sócio-histórico considerado, neste romance específico.
Inicialmente, consideramos necessário descrever a situação sócioeconômica das habitações das variadas seções que compõem o proletariado, caracterizando o “Personagem coletivo do excluído” (DELEUZE; GUATTARI, 2008) da vida nua ou o homo sacer circunscrito em bolsões de pobreza nos subúrbios do Rio de Janeiro e, portanto, nas periferias do Brasil e do sistema-mundo, onde residem milhares (e, até mesmo, milhões e bilhões de trabalhadores, dependendo da escala com a qual trabalhamos) de “heróis anônimos”, sejam homens, mulheres, crianças, idosos, brancos, pretos, pardos, indígenas etc; pessoas que configuram alteridades dos mais diversos matizes e “tipos ideais” weberianos, muitas delas dignas e laboriosas, arrimos de família, tais como o nosso célebre violonista, Ricardo Coração dos Outros (amigo leal da protagonista Major [por consideração] Quarema), conhecido “pela sua habilidade em cantar modinhas e tocar violão”. Dessa forma, confabulando uma multitud de alteridades que exercem as mais diversas atividades de (sobre)vivência com o propósito de conseguirem a satisfação das necessidades sociais mais básicas da existência humana, ou seja, aquelas fisiológicas segundo a hierarquia das necessidades ou a pirâmide de Maslow; o que para nós constrói um anelo de imanência com a potência do (baixo)ventre que configura uma “religião da carne”, assinalada por devires coletivos e materialistas, que se movimentam em torno do eixo de uma filosofia imbuída do valor-afeto das potências de variação da práxis, conforme podemos antever no fragmento abaixo.
[...] olha-se acolá [nos subúrbios] e dá-se com uma choupana de pau-a-pique, coberta de zinco ou mesmo palha, em torno da qual formiga uma população; adiante [...] uma velha casa de roça, com varanda e colunas de estilo pouco classificável [...] as casas de cômodos (quem as suporia lá!) constituem um [...] bem inédito. Casas que mal dariam para uma pequena família, são divididas, subdivididas, e os minúsculos aposentos assim obtidos, alugados à população miserável da cidade. Aí, nesses caixotins humanos, é que se encontra a fauna menos observada da nossa vida, sobre a qual a miséria paira [...] Não se podem imaginar profissões mais tristes e mais inopinadas da gente que habita tais caixinhas. Além dos serventes de repartições, contínuos de escritórios, podemos deparar velhas fabricantes de rendas de bilros, compradores de garrafas vazias, castradores de gatos, cães e galos, mandingueiros, catadores de ervas medicinais, enfim, uma variedade de profissões miseráveis que as nossas pequena e grande burguesias não podem adivinhar. Às vezes num cubículo desses se amontoa uma família, e há ocasiões em que os seus chefes vão a pé para a cidade por falta do níquel do trem. (LIMA BARRETO, 2008, p. 65-66)
Assim como se diz no ditado popular, “nada como dantes no quartel de Abrantes”. A questão social, trespassada pela relação capital versus trabalho, é uma temática universal, necessária e conspícua, deslindada pelos estudos sócio-culturais mais circunspectos da modernidade, nas ciências humanas e sociais, do mesmo modo que aqueles empreendidos por E. P. Thompson, Raymond Williams, Frederic Jameson, Terry Eagleton, Edward Said, dentre muitos vários outros, conforme aludimos. Persiste ou “in-siste em ser simbolizada” ou destramada pela “lituraterra” (LACAN, 1992), que inscreve a imanência-povo ou o povo porvir, pleno de povo ou demos, ravinando a pauta da folha do “estado de natureza” ou o subdesenvolvimento, a fim de liberar a potência da “palavra muda-tagarela” (RANCIÈRE, 2009) ou o “devir histérica” (LACAN, 1992) da imanência do “trabalho vivo” que circunscreveria a potência do pai (pater) e, enfim, diz a ele: goza (trabalhe) você! Seja o mesmo, “oligarquia nacional”, chefe de Estado, imperialismo ou corporocracia.
A questão social, outrora, fora singularmente abordada pelo escritor revolucionário Frederic Engels, em A situação da classe trabalhadora na Inglaterra (2008), quem confeccionou uma cartografia do inferno dos subúrbios e uma “sociologia das ausências” ou das mais variadas carências das e nas periferias, presentificando-se no Brasil contemporâneo, outrossim mediante fenômenos associados à desigualdade social, à pobreza e à miséria. Ademais dos processos de gentrificação induzidos pelo capital corporativo imobiliário nos grandes centros urbanos e, até mesmo, por intermédio da militarização dos morros e das favelas, através das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP’s), onde a governação dessas territorialidades é entregue pelos Governadores (e por Prefeitos) aos Comandantes da Polícia Militar, ao revés de materializar-se em equipamentos públicos e políticas sociais substantivas, pois a militarização do trabalho (vivo) pavimenta a ordem (social) necessária para o progresso (do capital)!
Posteriormente no decurso da trama, o jovem idealista Coração dos Outros é arrastado à força pelos recrutamentos em massa florianistas e transformado em “bucha de canhão” do “Batalhão Cruzeiro do Sul” pela “pandilha republicana”, comandada por um séquito de oficiais (e civis) oportunistas, arrivistas e carreiristas, com o propósito de debelar a pavorosa Segunda Revolta da Armada. Lima Barreto nos conta que militares das mais variadas patentes, principalmente aqueles das mais baixas, estiveram “contentes” e “prazenteiros” pelo ensejo de estenderem o seu despotismo sobre uma grei de civis, muitos deles embevecidos pela sacrílega e nefanda religião políticoideológica do positivismo na Primeira República, que endossava toda uma vicissitude de crimes em proveito da manutenção do status quo, segundo podemos entrever nos seguintes extratos:
Havia simples marinheiros; havia inferiores; havia escreventes e operários de bordo. Brancos, pretos, mulatos, caboclos, gente de todas as cores e todos os sentimentos, gente que se tinha metido em tal aventura pelo hábito de obedecer, gente inteiramente estranha à questão em debate, gente arrancada à força aos lares ou à calaçaria das ruas, pequeninos, tenros, ou que se haviam alistado por miséria; gente ignara, simples, às vezes cruel e perversa como crianças inconscientes; às vezes, boa e dócil como um cordeiro, mas, enfim, gente sem responsabilidade, sem anseio político, sem vontade própria, simples autômatos nas mãos dos chefes e superiores que a tinham abandonado à mercê do vencedor. (LIMA BARRETO, 2008, p. 154-155)
Os militares estavam contentes, especialmente os pequenos, os alferes, os tenentes e os capitães. Para a maioria, a satisfação vinha da convicção de que iam estender a sua autoridade sobre o pelotão e a companhia, a todo esse rebanho de civis; mas, em outros muitos havia sentimento mais puro, desinteresse e sinceridade. Eram os adeptos desse nefasto e hipócrita positivismo, um pedantismo tirânico, limitado e estreito, que justificava todas as violências, todos os assassínios, todas as ferocidades em nome da manutenção da ordem, condição necessária, lá diz ele, ao progresso e também ao advento do regime normal, a religião da humanidade, a adoração do grão-fetiche, com fanhosas músicas de cornetins e versos detestáveis, o paraíso enfim, com inscrições em escritura fonética e eleitos calçados com sapatos de sola de borracha!... Os positivistas discutiam e citavam teoremas de mecânica para justificar as suas ideias de governo, em tudo semelhantes aos canatos e emirados orientais. (ibid., p. 102-103)
Na crônica O problema vital (1919), Lima Barreto se apropria de uma série de trabalhos de renomados médicos de sua época, com vistas a asseverar que a população dos campos era afligida por diversas moléstias que a alquebravam fisicamente, tais como a papeira, a opilação, as febres, o bócio, a maleita etc.; apontando serem necessárias várias medidas de saneamento dessas regiões interioranas. Ao dissertar sobre a miséria geral dos trabalhadores rurais, constatou que eles também eram abalroados por uma alimentação insuficiente, afora o mau vestuário e a ausência de calçado adequado, residindo na tradicional cabana de sapê, que era construída com paredes de taipa e estaria condenada. Remontando a história de tal construção, verificou que ela se originava na propriedade agrícola da fazenda de rasgo latifundiário, sendo constituída através do influxo do regime de trabalho escravo, salvaguardando a sua permanência de longa duração e, consequentemente, o antagonismo entre o capital e o trabalho, que substancializava-se numa porção de latifúndios improdutivos dos coronéis e, mais ainda, numa multidão de trabalhadores sem-terra pauperizados, em linhas gerais retratados como na situação que se segue na obra:
[Felizardo e dona Chica] Tinham dois filhos, mas que tristeza de gente! Ajuntavam à depressão moral dos pais uma pobreza de vigor físico e uma indolência repugnante. Eram dois rapazes: o mais velho, José, orçava pelos vinte anos; ambos inertes, moles, sem força e sem crenças, nem mesmo a da feitiçaria, das rezas e benzeduras, que fazia o encanto da mãe e merecia o respeito do pai. Não houve quem os fizesse aprender qualquer coisa e os sujeitasse a um trabalho contínuo. De quando em quando, assim de quinze em quinze dias, faziam uma talha de lenha e vendiam ao primeiro taverneiro pela metade do valor; voltavam para casa alegres, satisfeitos, com um lenço de cores vivas, um vidro de água-de-colônia, um espelho, bugigangas que denunciavam ainda neles gostos bastante selvagens. [...] raramente lá [na casa de Quaresma] apareciam; e, se o faziam, era porque de todo não tinham o que comer. Levavam o descuido da vida, a imprevidência [...] Eram, entretanto, capazes de dedicação, de lealdade e bondade, mas o trabalho continuado, todo o dia, repugnava-lhes à natureza, como uma pena ou um castigo. Essa atonia da nossa população, essa espécie de desânimo doentio, de indiferença nirvanesca por tudo e todas as coisas, cercam de uma caligem de tristeza desesperada a nossa roça e tira-lhe o encanto, a poesia e o viço sedutor de plena natureza. [...] Tudo aí dorme, cochila, parece morto [...] (ibid., p. 48)
O que mais a impressionou [Olga] no passeio foi a miséria geral, a falta de cultivo, a pobreza das casas, o ar triste, abatido da gente pobre. [...] tinha dos roceiros ideia de que eram felizes, saudáveis e alegres. Havendo tanto barro, tanta água, por que as casas não eram de tijolos e não tinham telhas? Era sempre aquele sapê sinistro e aquele "sopapo" que deixava ver a trama de varas, como o esqueleto de um doente. Por que, ao redor dessas casas, não havia culturas, uma horta, um pomar? Não seria tão fácil, trabalho de horas? E não havia gado, nem grande nem pequeno. Era raro uma cabra, um carneiro. Por quê? Mesmo nas fazendas, o espetáculo não era mais animador. Todas soturnas, baixas, quase sem o pomar olente e a horta suculenta. A não ser o café e um milharal, aqui e ali, ela não pôde ver outra lavoura, outra indústria agrícola. Não podia ser preguiça só ou indolência. Para o seu gasto, para uso próprio, o homem tem sempre energia para trabalhar. As populações mais acusadas de preguiça, trabalham relativamente. [...] Seria a terra? Que seria? E todas essas questões desafiavam a sua curiosidade, o seu desejo de saber, e também a sua piedade e simpatia por aqueles párias, maltrapilhos, mal alojados, talvez com fome, sorumbáticos!... [...] Olga encontrou o camarada cá embaixo, cortando a machado as madeiras mais grossas; Anastácio estava no alto, na orla do mato, juntando, a ancinho, as folhas caídas. [...] —Então trabalha-se muito, Felizardo? —O que se pode. [...] —Você, por que não planta para você? [...] —Terra não é nossa... E "frumiga"?... Nós não "tem" ferramenta... isso é bom para italiano ou "alamão", que governo dá tudo... Governo não gosta de nós... [...] Pela primeira vez notava que o self-help do Governo era só para os [inter]nacionais; [...] os outros todos [...não contam com...] o apoio dos patrícios. E a terra não era dele? Mas de quem era então, tanta terra abandonada que se encontrava por aí? Ela vira até fazendas fechadas, com as casas em ruínas... Por que esse acaparamento, esses latifúndios inúteis e improdutivos? (ibid., p. 84-85)
No arremate da abordagem dos problemas rurais, Barreto, nesse artigo publicado na Revista Contemporânea, não despreza a variável médica no que tange as mazelas que afligem as nossas populações, ressaltando que o problema é “de natureza econômica e social”. Para ele, precisamos combater o regime capitalista na agricultura, dividir a propriedade agrícola, delegar a propriedade da terra a quem efetivamente a cava e a planta, ao invés do “doutor vagabundo e parasita”, que vive na “Casa Grande”, seja no Rio, São Paulo ou em qualquer lugar (LIMA BARRETO, 1919). Solução que se conserva atualíssima, nos dias de hoje!
Ainda recobrando a questão agrária, candente no enredo, o Major Quaresma, orientado por um ideário (proto)nacional-desenvolvimentista, uma vez que a ideologia do nacional-desenvolvimentismo remonta ao período Pós-Segunda Guerra, referenciando-se ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), criado no Governo interino de Café Filho (PSP), em 1955, adquire uma pequena propriedade rural, o rancho Sossego, com vistas a empreender projetos agrícolas e ensaiar sobre a fertilidade das terras do país, encontrando diversos percalços na produção e distribuição de alimentos, inclusive as pragas da lavoura, como a formiga saúva. Da mesma forma, ele se embaraça nas teias da “política das oligarquias”, no âmbito do Município brasileiro, muito bem apresentada por Nunes Leal em Coronelismo, enxada e voto (2012), tropeçando em fenômenos sociais (e sociológicos), tais como o coronelismo, as eleições de cabresto e o voto do bico de pena. Como se recusa a participar da realpolitik, sofre inúmeras exações do Estado, nas esferas municipal e estadual, o que nos oportuniza medir a virulência de mazelas, tais quais o “patriarcalismo”, o “coronelismo”, o “mandonismo”, o “familismo político”, o “clientelismo”, etc; “axiomáticas” (DELEUZE; GUATTARI, 2008) ou soluções do capitalismo atrasado brasileiro que grassam sobre e (ou) estriam de maneira a cooptar as redes de relações e interações sociais que con-volvem o Aparelho de Estado nas esferas municipais, estaduais e federal, como na sequência:
—[...] Preciso de um pequeno obséquio seu [Quaresma]. [...] as eleições se devem realizar por estes dias. A vitória é "nossa". Todas as mesas estão conosco, exceto uma... Aí mesmo, se o major quiser [...] —Tenho aqui uma carta do Neves, dirigida ao senhor. [...] é melhor [...responder] que não houve eleição... [...] —Absolutamente não. [...o doutor] Campos não deu mostras de aborrecimento [...] na quinta-feira, [...] [Policarpo] foi surpreendido com a visita [de um agente municipal...]. Em virtude das posturas e leis municipais [...] o Senhor Policarpo Quaresma, proprietário do sítio "Sossego" era intimado, sob as penas das mesmas posturas e leis, a roçar e capinar as testadas do referido sítio que confrontavam com as vias públicas. O major ficou um tempo pensando. Julgava impossível uma tal intimação. Seria mesmo? Brincadeira... Leu de novo o papel, viu a assinatura do doutor Campos. Era certo... Mas que absurda intimação esta de capinar e limpar estradas na extensão de mil e duzentos metros, pois seu sítio dava de frente para um caminho e de um dos lados acompanhava outro na extensão de oitocentos metros —era possível!? A antiga corvéia!... Um absurdo! Antes confiscassem-lhe o sítio. [...] A luz se lhe fez no pensamento... Aquela rede de leis, de posturas, de códigos e de preceitos, nas mãos desses regulotes, de tais caciques, se transformava em potro [...] em instrumento de suplícios para torturar os inimigos, oprimir as populações, crestar-lhes a iniciativa e a independência, abatendo-as e desmoralizando-as. Pelos seus olhos passaram num instante aquelas faces amareladas e chupadas que se encostavam nos portais das vendas preguiçosamente; viu também aquelas crianças maltrapilhas e sujas, d'olhos baixos, a esmolar disfarçadamente pelas estradas; viu aquelas terras abandonadas, improdutivas, entregues às ervas e insetos daninhos; viu ainda o desespero de Felizardo, homem bom, ativo e trabalhador, sem ânimo de plantar um grão de milho em casa e bebendo todo o dinheiro que lhe passava pelas mãos —este quadro passou-lhe pelos olhos com a rapidez e o brilho sinistro do relâmpago; e só se apagou de todo, quando teve que ler a carta que a sua afilhada lhe mandara (LIMA BARRETO, 2008, p. 95-96).
No Brasil contemporâneo, o “sindicato de ladrões do MDB/PSDB/DEM (et relíquia caterva)” que ascendeu à Presidência da República, por intermédio de um golpe [brando] de Estado, “supostamente rematado” em Agosto de 2016, desmontou, nesse mesmo ano, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), estrangulando uma série de políticas sociais orientadas para o setor rural, no período que corresponde 2016 a 2018, inclusive focalizando empreendimentos em Economia Solidária, tais como o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), o Mais gestão, o PRONAF etc. A redução no orçamento para o ano de 2018 respeitante às políticas de agricultura familiar foram de até 99%, por exemplo, esgrimindo os seguintes cortes de verbas: a) 86.7% em verbas destinadas ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), b) 86.2% respeitante às ações de promoção na educação no campo, c) 69% concernente aos programas de desenvolvimento e infraestrutura de assentamentos, d) 85.2% tangendo à assistência técnica e extensão rural voltados à reforma agrária, e) 62.5% quanto ao reconhecimento e indenização de territórios quilombolas, f) 89.5% em organização da estrutura fundiária, g) 40% no PAA, h) 43.4% respeitante à assistência técnica à agricultura familiar, i) 73.7% na promoção e fortalecimento da agricultura familiar, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), promovendo um aumento de 26% nos conflitos no campo, onde estão a maioria dos assassinatos concentrados na região da Amazônia legal (BRASIL DE FATO; REDE BRASIL ATUAL, 2017).
Havemos de ressaltar que os escroques amontoados no poder estão a alargar o estado de exceção judicial (e policial) na atual “República bananeira” que o país se tornou, nesse período caracterizado como pós-democrático, onde vigora um regime ultraneo(anarco)liberal, instalado após o golpe de Estado. Com a submissão do país à ditadura do capital financeiro internacional que emana de Wall Street, a “lumpen-burguesia” nacional (ALVES, 2017), ou seja, uma burguesia subserviente aos interesses do imperialismo norteamericano (incluindo-se o imperialismo europeu ocidental, sionista e o capital corporativo) procura compensar a “queda tendencial das taxas médias de lucro” (MARX, 1996), “superexplorando” a força de trabalho do proletariado ou “precariado” nacional (BRAGA, 2017), de maneira a instituir “novos aparatos jurídico-legislativos”, tais como a contrarreforma trabalhista (Lei 13467/2017) e a terceirização geral do trabalho (Lei 4330/2004) que influenciam sobremaneira nas condições socioeconômicas e existenciais dos trabalhadores do campo, flexibilizando o conceito de trabalho análogo ao de escravo (Portaria 1119/2017), inclusive derriscando o nome de escravagistas, inscritos na “lista suja” do Ministério do Trabalho e mesmo erodindo a seguridade social do trabalhador rural (FUNRURAL), por intermédio da anistia, desoneração e refinanciamento da dívida de sonegadores fiscais do agronegócio, atualmente orçada em mais R$ 10 bilhões, ou mesmo ameaçando extrair o “campesinato vernáculo” da Previdência Social (PEC 287/2016). (BRASIL DE FATO, 2017)
Anteriormente aventamos que, sob os augúrios da República da Espada, o governo de Marechal Floriano instituiu um poder soberano que implantou uma ditadura comissária, permitindo-o utilizar do aparato policial-militar do Estado moderno-burguês da República Velha, para esboroar com os seus opoentes políticos, inclusive altos oficiais da Marinha de Guerra que articularam a Segunda Revolta da Armada e contribuíram para a Revolução Federalista. Essa ditadura nasceu como um produto do conluio infausto entre a “oligarquia nacional” e o “imperialismo significante” (SOARES, 2014), nesse momento, queremos dizer, hierarquicamente, imperialismos europeu ocidental (enfatizando-se a componente britânica) e norteamericano, sem excluir as grandes corporações associadas ao capital transnacional. Conúbio que permitiu a consolidação da Constituição republicana, mediante o sacrifício de sangue da vida nua da imanência-povo nos altares do capital, consoante os ditirambos de um poder soberano, enfim, um “poder nu” (RUSSEL, 2015), violento, que naquele período socioeconômico e histórico, delineava uma societas ou estruturas de soberania, que decidiam o direito de vida e (ou) morte do rebanho humano.
Policarpo Quaresma, pode ser caracterizado no enredo como um “homem cordial” (HOLANDA, 1995), no sentido etimológico de remissão ao coração, pois a todo momento ele opõe a “emoção” ou os ideários associados ao nacional-patriotismo, onde poderíamos entrever um “niilismo ativo” (NIETZSCHE, 2004) ou criativo, uma perspectiva afirmativa do futuro para o “excluído coletivo” brasileiro, assinalada por um conjunto de medidas e ações (proto)nacional-desenvolvimentistas, que se contrapõem à razão ou logos, mais especificamente, à “razão instrumental” (CHAUÍ, 2010) ou ao “tanque da história”, que marcha triunfante segundo a lógica da acumulação do capital, podendo ser representada também pelo arquétipo da “jaula de ferro weberiana”, apresentada como inexorável ou a razão da história hegeliana que se dirige ao autodesenvolvimento do “espírito absoluto”. Major Quaresma se apresentou embevecido de um entusiasmo patriota-nacionalista e, até mesmo, ufanista que, naquele momento, cria hipostasiar-se numa defesa do florianismo, por isso combatera militares revoltosos em favor da Res Publica, “reduzida ao Leviatã republicano”, matando-se ou queimando-se em “nome-do-pai” (LACAN, 1992), ou seja, do poder soberano, uma representação da colusão oligárquico-imperialista, nas aras sacrossantas do capital (trans)nacional.
Após o período de supressão dos insurretos é tornado carcereiro na Ilha das Cobras. Os líderes dos sublevados, vários oficiais de altas patentes e crias das oligarquias regionais, em sua maioria são anistiados enquanto os demais, amiúde soldados e (ou) proletários pobres, são arrastados ao cárcere, sendo cruelmente requisitados para um “massacre à turca” na baía da Guanabara ou no Boqueirão e (ou) fuzilados sumariamente na referida Ilha. O “Major Quaresma” intercede com veemência pela vida nua de “homens anônimos” que ele antevia equivocados, porém francos e patriotas, não obstante a religião infanda do positivismo, uma expressão máxima da racionalidade formal-instrumental do capital naquele momento, e (ou) violados no seu vir-a-ser humano genérico, junto ao führer, sendo imediatamente considerado subversivo, “um traidor!” e “um bandido!”, incontinenti sequestrado ao calabouço e igualmente executado na Ilha das Cobras. Pouco antes de morrer, ele faz uma (auto)crítica da vida diretamente vivida, aparentemente cônscio do que seria o “mito da pátria burguesa”, a política das oligarquias, a condição social dos trabalhadores na República Velha e a “República dos Bruzundangas”, como vislumbramos a seguir:
Policarpo aceitou com repugnância o papel de carcereiro, pois na ilha das Enxadas estavam depositados os marinheiros prisioneiros. Os seus tormentos d'alma mais cresceram com o exercício de tal função. Quase os não olhava; tinha vexame, piedade e parecia-lhe que dentre eles um conhecia o segredo de sua consciência. [...] entre os moços, que eram muitos, se não havia baixo interesse, existia uma adoração fetíchica pela forma republicana, um exagero das virtudes dela, um pendor para o despotismo que os seus estudos e meditações não podiam achar justos. Era grande a sua desilusão. Os prisioneiros se amontoavam nas antigas salas de aulas e alojamentos dos aspirantes. Havia simples marinheiros; havia inferiores; havia escreventes e operários de bordo. Brancos, pretos, mulatos, caboclos, gente de todas as cores e todos os sentimentos, gente que se tinha metido em tal aventura pelo hábito de obedecer, gente inteiramente estranha à questão em debate, gente arrancada à força aos lares ou à calaçaria das ruas, pequeninos, tenros, ou que se haviam alistado por miséria; gente ignara, simples, às vezes cruel e perversa como crianças inconscientes; às vezes, boa e dócil como um cordeiro, mas, enfim, gente sem responsabilidade, sem anseio político, sem vontade própria, simples autômatos nas mãos dos chefes e superiores que a tinham abandonado à mercê do vencedor. [...] A noite chegava e Quaresma continuava a passear na borda do mar, meditando, pensando, sofrendo com aquelas lembranças de ódios, de sangueiras e ferocidade. A sociedade e a vida pareceram-lhe coisas horrorosas, e imaginou que do exemplo delas vinham os crimes que aquela punia, castigava e procurava restringir. Eram negras e desesperadas, as suas ideias; muita vez julgou que delirava. (LIMA BARRETO, 2008, p. 154-155)
Sem atinar do que se tratava, levantou-se e foi ao encontro do visitante [o oficial do Itamarati]. [...] A vasta sala estava cheia de corpos, deitados, seminus, e havia todo o íris das cores humanas. Uns roncavam, outros dormiam somente; e, quando Quaresma entrou, houve alguém que em sonho, gemeu —ai! Ambos [Quaresma e o emissário do Itamarati] tiveram medo de falar. O oficial despertou um dos prisioneiros e disse para as praças: "Levem este". Seguiu adiante e despertou outro: —"Onde você esteve?" "Eu" —respondeu o marinheiro —"na Guanabara"... "Ah! patife" acudiu o homem do Itamarati... "Este também... Levem!"... Os soldados condutores iam até à porta, deixavam o prisioneiro e voltavam. O oficial passou por uma porção deles e não fez reparo; adiante, deu com um rapaz claro, franzino, que não dormia. Gritou então: "Levante-se!" O rapaz ergueu-se tremendo. — "Onde esteve você?" perguntou. —"Eu era enfermeiro", retrucou o rapaz. —"Que enfermeiro!" fez o emissário. "Levem este também"... —[...] deixe-me escrever à minha mãe, pediu o rapaz quase chorando. —Que mãe! respondeu o homem do Itamarati. Siga! Vá! E assim foi uma dúzia, escolhida a esmo, ao acaso, cercada pela escolta, a embarcar num batelão que uma lancha logo rebocou para fora das águas da ilha. Quaresma não atinou de pronto com o sentido da cena e foi, após o afastamento da lancha, que ele encontrou uma explicação. Não deixou de pensar então por que força misteriosa, por que injunção irônica ele se tinha misturado em tão tenebrosos acontecimentos, assistindo ao sinistro alicerçar do regime... A embarcação não ia longe. [Iria...] Para o Boqueirão... (ibid., p. 156-157)
[Quaresma] Fora preso pela manhã, logo ao erguer-se da cama; [...] Por que estava preso? Ao certo não sabia; o oficial que o conduzira, nada lhe quisera dizer; e, desde que saíra da ilha das Enxadas para a das Cobras, não trocara palavra com ninguém, não vira nenhum conhecido no caminho [...] atribuía a prisão à carta que escrevera ao presidente, protestando contra a cena que presenciara na véspera. [...] Aquela leva de desgraçados a sair assim, a desoras, escolhidos a esmo, para uma carniçaria distante, falara fundo a todos os seus sentimentos; pusera diante dos seus olhos todos os seus princípios morais; desafiara a sua coragem moral e a sua solidariedade humana; e ele escrevera a carta com veemência, com paixão, indignado. [...] naquela masmorra, engaiolado, trancafiado, isolado dos seus semelhantes como uma fera, como um criminoso, sepultado na treva, sofrendo umidade, misturado com os seus detritos, quase sem comer... [...] Era de conduta tão irregular e incerta o Governo que tudo ele podia esperar: a liberdade ou a morte, mais esta que aquela. (ibid., p. 157-158)
2. Notas sobre o golpe de Estado atual no país
O estado de exceção e o terrorismo de Estado foram tecnologias de poder exercidas pelo “governo dos vivos” (FOUCAULT, 2010) do Mal. de Ferro, permitindo-o destroçar a Segunda Revolta da Armada que, na obra em questão, alceia o seu vértice com a execução brutal de Policarpo Quaresma, uma alegoria cuja quintessência representa a imanência do povo porvir, isto é, um povo pária, bastardo, caracterizado por uma multidão atravessada por devires minoritários, conforme nos apresenta a obra de Gilles Deleuze, Franz Kafka. Por uma literatura menor (2012), ao aduzir uma metáfora que representa a encarnação do (proto)nacional-desenvolvimentismo, da soberania do Estado e do povo brasileiros sacrificados nos altares transcendentes da oligarquia e do imperialismo, naquele momento, imperialismo significante. Um estado de exceção que também se consubstancia no período contemporâneo em que vivemos, onde o “olho de deus” ou o “verdadeiro soberano”, enfim, o rosto com quem devemos nos haver é o “imperialismo inscrito no regime de signos pós-significante” (SOARES, 2014), ou seja, jeraquicamente, já o descrevemos, abordando a fusão entre os imperialismos norteamericano, europeu ocidental, sionista e o capital corporativo transnacional, ressaltando-se o capital financeiro, na composição e supremacia do capital internacional que, em colusão com setores nefastos da burguesia (anti)nacional estabelece um estado de exceção, acionando um condomínio jurídico-burocrático, midiático, parlamentar e policial autoritário, que pro-moveu o impeachment da gestão petista, encabeçada pela Presidenta Dilma Roussef, conforme bem nos indica, outrossim, a obra: Golpe en Brasil. Genealogía de una farsa (2016), coescrita por 23 intelectuais, a miúdo, associados ao Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO).
Essa governança, apesar de assinalada pelo conciliacionismo de classes com a “burguesia nacional” (e, talvez por isso mesmo...) trouxe alguns ganhos sociais à imanência-povo, ao construir um “pacto nacional” que, posteriormente, foi rompido pela oligarquia, caracterizando o que um setor da intelligentsia vernácula aponta como um “fim de ciclo da administração petista”, em razão do reflexo da crise financeira mundial do subprime de 2008 (cujo epicentro fora os USA) sob a economia nacional. A partir desse momento, a burguesia experimentou uma queda tendencial das taxas médias de lucro anual, redarguindo com a acentuação da “superexploração laboral” do precariado ou do trabalhador brasileiro imbuído de parcos direitos, a coerção do mercado (trans)nacional para o desmonte do Estado e a privatização do patrimônio público governamental, afora a destruição dos direitos sociais e econômicos dos trabalhadores, mediante a instauração de um governo ultraneo(anarco)liberal subimperialista, submisso ao imperialismo norteamericano, à New York Stock Exchange e à bancada do boi, da bíblia e da bala (BBB) que atualmente perfaz 366 parlamentares no Congresso, alvitrando uma “reversão neocolonial” (SAMPAIO JR., 2015), demarcada pela reprimarização da infraestrutura econômica brasileira que experiencia um agudo processo de desindustrialização, restringindo o PNB industrial a cerca de 8% do PIB nacional (SUL 21, 2017), arruinando os setores petrolífero, (petro)químico, naval, construção civil, da carne etc; de modo a (re)centrar-se no agronegócio, na exportação de petróleo bruto e no extrativismo, consequentemente, promovendo altas taxas de desocupação que abeiram a 12.2% da população e totalizam 12.7 milhões de desempregados (G1, 2017).
Na nossa concepção, a personagem histórica do Mal. de Ferro, quem supostamente instaura o poder soberano, é também uma caricatura do imperialismo significante dentro de um capitalismo mundial integrado, já que a política das oligarquias permitira uma rentabilidade ou mais-valia ampliada do capital financeiro internacional em relação àquela do Império brasileiro (1822-1889). Como exemplo do que estamos a tratar, segundo Levy (1980), na República da Espada iniciada por Deodoro e continuada por Floriano, temos um conjunto de políticas econômicas denominadas “Encilhamento”, pautadas em créditos livres e farta emissão monetária, estruturadas e (ou) gerenciadas tendo em vista à industrialização perante os capitais financeiro e industrial, acarretando desenfreada especulação financeira em todos os mercados e forte alta inflacionária, devido ao forte atrelamento da economia brasileira aos rentistas com capitais na Bourse Parisiense, na City Londrina e em Wall Street; aos financistas, como o conselheiro Mayrink e aos barões da haute finance, liderados pelos Rotschild.
O paralelo que (per)fazemos à personagem Floriano, no estado de exceção da República Velha, não seria, hoje, o Presidente golpista Michel Temer (MDB/SP), nem mesmo o narco-Senador Federal e “sócio do golpe” (ATTUCH, 2016), Aécio Neves (PSDB/MG), mas o Juiz Federal de 1ª instância, Sérgio Moro (SM), da “Bruzundanga” ou “Guantánamo de Curitiba” (ROSÁRIO, 2016), diga-se de passagem, com jurisprudência no país inteiro, pasmem! (BRASIL 247; O CAFEZINHO, 2016). É ele quem está no topo da hierarquia do golpe de Estado palaciano, seguido pela “Doutora” (sem doutorado) Raquel Dodge, Procuradora Geral da República (PGR), logo, “Chefa” do Ministério Público Federal (MPF), identicamente, cargo de Temer. Enquanto o primeiro se tornou uma narrativa mítica de “herói nacional”, um “cavaleiro cruzado” ou um “santo dos pés-de-barro” anticorrupção, a segunda foi considerada uma “bruxa” pelo seu homônimo anterior no cargo, Rodrigo Janot, igualmente golpista, seguindo, outrossim, adelgaçada diante dos holofotes midiáticos dos “trinta Berlusconis” (VIOMUNDO, 2013) ou barões do oligopólio midiático nacional, sucursais de grandes corporações transnacionais de medias, tais como a Time Life, a BBC and so on; ambos denunciados por variados jornalistas do gabarito de Glenn Greenwald, em sucessivas reportagens (THE INTERCEPT, 2016).
Abrimos um parêntese, a fim de discorrer um pouco mais sobre a personagem SM. Filho de Dalton Moro, professor universitário egresso do ARENA, partido situacionista que encarnava a truculência dos generais verde-olivas, anticomunistas e prol-imperialistas norteamericanos, no período sócio-histórico da ditadura civil-militar-empresarial brasileira (1964-1985) e fundador do PSDB em Maringá (PR). Marido de uma advogada do lobby das grandes corporações norteamericanas da indústria do petróleo e gás (Big Oil) contra os interesses da Petrobras. Estudou pós-graduação (stricto sensu) ou recebeu treinamento em think tanks estadunidenses, tais como a Harvard Law School, o International Visitor Leadership Program do Departamento de Estado Norteamericano (DEA) e instituições supostamente responsáveis pela prevenção e combate à lavagem de dinheiro. Segundo consta na base de dados do Wikileaks e em diversos petardos produzidos pelo consórcio de jornalistas investigativos (inter)nacionais, ele é especialista na operação Mani Pulite (Mãos Limpas), uma megaoperação jurídico-midiática e policial deflagrada em 1992 por Procuradores italianos, liderados pelo Promotor Antonio di Pietro (tornando-se posteriormente um político do conservador Italia dei Valori, IdV...) que promoveria o suposto combate à corrupção e à lavagem de dinheiro, atuando sistematicamente junto à “indústria cultural” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985). Isso resultou em quase 3000 mandados de prisão, encerrando os cinco maiores partidos da democracia italiana, a saber, o PCI, o PSI, a Democracia Cristã, o Social-Democrata e o Liberal, de modo a instaurar um vácuo político (jurídico), ideológico e cultural, ocupado por “Aparelhos Privados de Hegemonia” (CARTA MAIOR; VIOMUNDO; GGN, 2015-2016), em sentido gramsciano, como grandes corporações de mídia, que acarreou no desmoronamento de direitos sociais dos trabalhadores italianos, inclusive no desmonte de movimentos sociais e sindicatos, ao culminar na eleição do magnata “Citizen Kane”, Silvio Berlusconi, prócer responsável por alguns dos maiores casos de corrupção na “democracia italiana” da e na atualidade. (GLOBAL RESEARCH; ALAINET; RESEAU VOLTAIRE, 2015-2016)
No caso brasileiro, o aparato comparável à mani pulite italiana é a Operação Lava Jato (OLJ), co-envolvendo a Justiça, o Ministério Público (MPF) e a Polícia Federal, mobilizando agentes com forte orientação político-ideológica e neoliberal-conservadora, além de formação, instrumentalização, coligações institucionais e pendor “norteamericano”, numa força-tarefa encetada em 2014 e considerada pelo MPF, como a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que houve e há atualmente no país. No entanto, um operativo fora-da-lei, consoante a União dos Advogados Criminalistas brasileiros (UNACRIM), “uma aberração jurídica dentro de um contexto de naturalização da exceção judiciária”, segundo a Doutora em Direito Internacional e a Profª da Faculdade de Direito da UFRJ, Carol Proner; um aparelho que “retoma práticas da tortura no regime militar”, consoante o advogado integrante da Frente Brasil de Juristas pela Democracia (FBJD), Ney Strozake; um dispositivo que “fortalece o estado policial e de exceção judiciário”, conforme o Presidente do Conselho Executivo da Associação dos Juízes para a Democracia (AJD), André Augusto Salvador Bezerra; e ainda, “tem características da Inquisição”, chancela, de maneira categórica, o internacionalmente renomado juspositivista crítico e teórico do garantismo italiano, Luigi Ferrajoli. (CALOTI, 2017)
Outrora considerado o epicentro “do epicentro do golpe brando de Estado”, a OLJ tem combalido a economia nacional, arrasando a indústria do petróleo que, até 2015, era responsável, direta e indiretamente, por até 33% do PIB brasileiro e demais indústrias correlatas, bem como a petroquímica, a naval, a construção civil, a da carne etc (CAFEZINHO, 2015-2017); arruinando inclusive o Estado do Rio de Janeiro, que atualmente sofrega uma crise fiscal terrível, em escala maior que a República Federativa in totum, de maneira a desempregar mais de 4 milhões de trabalhadores nacionais (VERMELHO; CARTA CAPITAL, 2017) e impactar, somente em 2015, numa redução de R$ 187,2 bilhões, ou seja, 3,4% do PIB brasileiro (FIESP, 2015).
A partir de 2015, o epicentro do fascismo judicial focalizado na Lava Jato (LJ) tem inundado e permeado outros mais setores do Poder Judiciário. Em 2016, o “MPF brasileiro”, reduzido a um apêndice subimperialista do Ministério Público de Washington, “orquestrou” uma reunião com os MPs do cone sul dos países latino-americanos e exportou este “operativo de golpe de Estado” como parte de um “Plan Condor judicial” (ZAFFARONI, 2017), a fim de perfazer regime change, ou seja, uma mudança de regime que destituísse a política e os governos de centroesquerda, afora chantagear, “torturar” por intermédio de conduções coercitivas ou mesmo prisões políticas arbitrárias e, destarte, “endireitar” parlamentares, autoridades públicas (bem como o reitor da UFSC, Luiz Cancelier, “suicidado pela LJ”), setores da burguesia vernácula-periferizada, inclusive vinculados aos interesses oligarquia, de modo a justapô-los aos desígnios do imperialismo norteamericano na América do Sul. Como resultados, temos várias mudanças de regimes: na Argentina, com a eleição do fascista-mafioso e neoliberal Mauricio Macri - PRO (a Presidenta anterior, Cristina Kirshner - PJ, foi alvo da OLJ); no Peru, com o ascenso de Pedro Kuczynski - PPK (este, atualmente, aliou-se ao ex-Presidente terrorista, Alberto Fujimori - FP, para se livrar da LJ, “endireitando” ainda mais a sua governança neoliberal); no Equador, com Lenin Moreno (AP) governando com o programa político da direita (o seu ex-vice que é “realmente de esquerda”, Jorge Glas, foi enclausurado pela OLJ); etc
Além do SM, outros “cavaleiros do apocalipse”, dentro e fora da Lava Jato, isto é, dentro dessa retórica que aventamos de expansão do cortazo ou do golpismo ecoado da superestrutura judical, têm exsurgido para combater a “política”, no lato sentido da transformação da sociedade, justiça social, e da soberania do Estado nacional. Thaméa Danelon, Procuradora da República, endossou a “tese do patrimonialismo” contra o papel do Estado investidor e promotor do desenvolvimento social; Marcelo Bretas, Juiz Federal da 7ª Vara Federal Criminal do RJ, criminalizou o Vice-Almirante Othon Pinheiro, segundo maior cientista militar vernáculo, pai do programa nuclear brasileiro e inventor de patentes na mesma área; Luis Roberto Barroso, Ministro do STF, advogou pela privatização da UERJ e, por conseguinte, das Universidades públicas brasileiras, defendendo um modelo de financiamento privado, tal qual o norteamericano, ressonando assim com o discurso do Banco Mundial; etc.
Tornando à “figura floriana” do Juiz Sérgio Moro, dentro da dinâmica da radicalização do golpe de Estado e do fascismo judicial no Brasil contemporâneo, em Julho de 2017, esse condenou o semelhante ao Policarpo Quaresma, o ex-Presidente Luis Inácio Lula da Silva (popularmente conhecido como Lula) a 9,5 anos de prisão, por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá (G1, 2016), elucubrados por “provas indiciárias”, a partir da “tese do power point” da OLJ, esgrimida pelo Procurador da República, Deltan Dalagnol, onde o ex-Presidente Lula seria “o comandante máximo do esquema de corrupção na Petrobras [e no Brasil]” (ESTADÃO, 2016). Condenação posteriormente reafirmada pelos Desembargadores do TRF-4, com um maior apenamento, 12 anos e 1 mês, em Janeiro de 2018, a fim de evitar a prescrição do “crime de Lula”, sem também acrescentar quaisquer provas, usando o “Domínio do Fato [midiático?!]”, dispositivo construído pelo jurista alemão, Claus Roxin, para condenar as altas autoridades nazistas por crimes de responsabilidade, assim como o genocídio judaico, a contragosto do mesmo, já “não vale para a corrupção” (UOL, 2018).
Supostamente Lula cometera “Lavagem de dinheiro sem dinheiro” (JUSTIFICANDO; CONJUR, 2018), recebendo “propriedade por atribuição de imóvel”, instituto que não existe nem no Direito brasileiro [nem no transnacional, talvez...], consoante os juristas José R. Batochio e Juarez C. dos Santos. Este último, um expoente da criminologia radical mundial. Diga-se de passagem, o supositício “triplex do Lula”, supostamente “recebido como propina da OAS Engenharia”, até pouco tempo, esteve registrado como propriedade da referida construtora e, recentemente, também, em Janeiro de 2018, a Juíza Federal Luciana Oliveira da 2ª Vara de Execução de Tributos Extrajudiciais do Distrito Federal, determinou a penhora do imóvel pertencente à mesma, a fim de saldar as suas dívidas com os seus credores, em razão de falência, bem assim atribuída à persecução da Lava Jato. (O SÃO GONÇALO; CAUSA OPERÁRIA, 2018)
Antanho como hoje (e agora), devido ao golpe em marcha, processualmente, o que periga é a imanência-povo a ser imolada nos sacrifícios de carne e sangue, nas aras excelsas do capital corporativo e financeiro internacional, que massacra a imanência da soberania nacional e do patrimônio do Estado brasileiro, amealhado com o concurso do sangue, do suor e do trabalho de nosso devir povo à “metafísica da ascendência” (SOARES, 2014) e, por conseguinte, ao entreguismo das oligarquias corruptas e apátridas, que como dissemos e reiteramos, estão mancomunadas com o “imperialismo coletivo” (AMIN, 2015) e a corporocracia transnacional, trabalhando incessantemente para a “privatização radical” dos nossos recursos pátrios, tal como aventa o artigo de opinião, ‘Golpe legal’ abre caminho para ‘privatizações radicais’no país (THE NATION, 2016).
Bem como transcorreu, outrora em Maio de 1997, a privatização fraudulenta da maior parte das ações da CVRD, na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), por uma bagatela em relação ao seu valor de capital e, depois, em Outubro de 2017, a privatização de 8 grandes áreas do pré-sal brasileiro que contém 12 bilhões de barris de petróleo de altíssima qualidade, conjeturando perdas de aproximadamente R$ 500 bilhões em arrecadação para os cofres públicos da União (BRASIL 247, 2017); o governo golpista com 97% de rejeição da população (AGÊNCIA BRASIL, 2017), preparou 238 projetos de privatizações nas três esferas do Estado, federal, estadual e municipal, a fim de entregar as nossas riquezas ao imperialismo pós-significante (ESQUERDA DIÁRIO, 2018), destacando-se a Eletrobras, que custou cerca de R$ 500 bilhões para ser constituída e pode ser desnacionalizada por apenas R$ 12 bilhões (ESTADÃO; HILDEGARD ANGEL, 2017), ou seja, por aproximadamente 2,4% de seu valor de capital. Em epítome, todo um patrimônio nacional está a ser frequentemente alienado com o respetivo enriquecimento criminoso de agentes políticos, operadores vários da burguesia [trans]nacional e seus asseclas, na “noite de horrores neoliberal”, como indicou o ex-Presidente do Equador, Rafael Correa (AP), na obra, Equador: Da noite neoliberal à Revolução Cidadã (2015), referindo-se aos acontecimentos na década de 1990, na América Latina. Para nós, um “conteúdo [social] recalcado” (FREUD, 1996) que retorna, in-sistindo e persistindo em (re)volver a nossa realidade social brasileira num “mito de Sísifo” ou numa “vida de Jó”.
Conclusões:
Na nossa acepção, a figura do Marechal Floriano, em sua quintaessência, representa a alegoria do imperialismo significante, na República Velha e o do póssignificante, na Nova República, enquanto Policarpo Quaresma representa a da imanência povo, o devir povo ou o povo porvir que se insurge em um “devir histérica” (LACAN, 1992), retomando-se o discurso da histérica, dentre os quatro discursos lacanianos no Seminário XVIII (1992), periclitando as relações despóticas entre o senhor (soberano, capital, imperialismo) e o escravo (homo sacer, vida nua, trabalho vivo) que grita basta! Recusando-se ao gozo (no trabalho) do escravo para satisfazer o “mais-de-gozar” (LACAN, 1992) ou mais-valia do mestre, sob o estado de sítio da ditadura do capital (trans)nacional (transcendência) sobre o trabalho (imanência) na periferia do sistema-mundo, instaurando um “fascismo” contra as alteridades que compõem um excluído coletivo, tiranizado pelo império da civilização burguesa nos trópicos ou tupiniquim.
Da mesma forma, a execução de Policarpo Quaresma nos calabouços da Ilha das Cobras a mando do Mal. de Ferro, no estádio hodierno, representa a alegoria da injusta condenação, porque sem provas, do ex-Presidente Lula, pelo Juiz Federal Sérgio Moro, reincidida na 2ª instância pela tríade de Desembargadores oligarcas, no TRF-4. Mais ainda, representa a condenação dos resquícios de dignidade, soberania e autodeterminação do nosso povo, derriscando o programa (neo)nacional-desenvolvimentista outrora encampado pela governança de centroesquerda petista, não socialista, no sentido marxiano e marxista da concepção e do projeto da sociedade e do Estado brasileiro, apesar de necessário, para a constituição de um Estado moderno, na periferia do sistema-mundo.
A “dissolução de Policarpo”, no período ulterior em que (sobre)vivemos (sobreviveremos?!), institui um processo de “reversão neocolonial” (MARTINS, 2016), que redunda na desindustrialização do país, no chafurdamento do Estado brasileiro no atoleiro (do logos) do subdesenvolvimento e da dependência econômica, dentro da divisão internacional do trabalho, num sistema-mundo onde vige um capitalismo mundial integrado, submetido à hybris ou aos dictates do imperialismo pós-significante. Ao focalizarmos na “reprimarização da economia brasileira” (OURIQUES, 2016), cada vez mais centrada no agronegócio, no extrativismo e na exportação de petróleo bruto, melhor dizendo, em produtos de baixo valor agregado, o Estado-nação e o povo pátrio se assujeitam cada vez mais ao “fascismo depravado” do imperialismo norteamericano, que decreta, como “palavra de ordem” (DELEUZE; GUATTARI, 2002) para a realidade brasileira, a assunção aos três coronelismos.
O coronelismo do capital financeiro internacional, representado “organicamente” (GRAMSCI, 1968) pelo PSDB, o do capital industrial e das federações de comércio, retratado pelo PMDB e o do agronegócio, figurado pelo DEM. Os dois últimos tutelados pelo primeiro, o capital financeiro cuja mais-valia se realiza, neste contexto, sobre a exportação das commodities do agronegócio, do extrativismo e da exportação do petróleo bruto. Realiza-se também sobre a acumulação primitiva que o capital corporativo do centro metaboliza na periferia, mediante o saque dos recursos minerais e estratégicos, inclusive através da apropriação do patrimônio bioecológico; sobre a sobreexploração do trabalho de um precariado que, no limite, tende a reduzir-se ao trabalhador escravo, por uma oligarquia provinciana, periférica, pré-moderna, subimperialista, embebida por um “ethos páthico de senhorio da casa-grande que se dirige à senzala”, portanto atrasadíssima, assim como a bancada do boi, da bíblia e da bala (BBB), que dispõe de 366 parlamentares e que, outrossim, com o obséquio da canalha instalada nos outros dois “pátrios poderes”, o Executivo e, pernosticamente o Judiciário, estão a esbandalhar o Estado nacional, queimando o patrimônio público nacional e a rasgar os direitos sociais de nossas populações.
Finalmente, ao analisarmos o romance Triste fim de Policarpo Quaresma (2008), partimos de uma perspectiva materialista, histórica, geográfica, progressiva-regressiva, heurística e, portanto, dialética, a fim de excogitar sobre a realidade e o inconsciente social da Primeira República brasileira (1889-1930), en-focando a relação capital versus trabalho. O estado de exceção permanente, ontem, no regime da República da Espada (1889-1894), é o mesmo, hoje, vigendo no período do pós-golpe de Estado contra a gestão petista (2003-2016), ao discernir um período pós-democrático, designado por um fascismo judicial e policial que se alastra, cada vez mais, dentro da superestrutura jurídico-política e administrativa do Estado e da sociedade brasileira, de forma a engendrar um estado de exceção da transcendência do capital contra a imanência do trabalho vivo. Assim reverberando uma ditadura do capital, enfaticamente financeirizado, sobre o trabalho, do imperialismo norteamericano e da oligarquia brasileira contra a imanência (devir) povo, o personagem coletivo do excluído, o povo do porvir. Sobreviveremos nós, o comum-povo, aos achaques da “máquina de destruição e morte” do “Espírito Absoluto” do ultraneo(anarco)liberalismo norteamericano?!
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Vinícius de Aguiar Caloti
Mestrando em Humanidades, especialista em educação e ensino religioso, cientista
social, licenciando em filosofia e professor da escola pública brasileira.
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