Biden e o New Deal

Como financiar essas propostas? Com as soluções óbvias, antes politicamente inviáveis, hoje em dia cada vez mais próximas da concretização: tributação sobre grandes fortunas e ganhos financeiros,

29/04/2021
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A velha luta de classes assumiu feições diferentes nas democracias ocidentais. Desde o pós-guerra há um movimento pendular entre dois atores: o grande capital financeiro e a cidadania. No meio fica a economia real, subdividida entre grandes grupos monopolistas globais e empresas nacionais de menor porte.

 

As políticas pró-mercado privilegiam desregulação total, livre fluxo de capitais, restrições a todo gasto que retorne para a população, desmonte das políticas públicas em saúde e educação – campos considerados preferenciais para o capital privado.

 

No pós-guerra, as políticas social-democratas propunham criação do chamado estado de bem-estar social, garantindo a universalização da saúde, da educação, previdência.

 

Desde o século 19, as grandes crises globais foram decorrência da radicalização do pêndulo em favor do capital financeiro. O livre fluxo de capitais impediu o desenvolvimento de países periféricos; a ausência de princípios básicos de direito ao trabalho criou multidões de desassistidos nas grandes metrópoles.

 

As grandes crises de fins do século 19 foram decorrência direta do predomínio absoluto do capital financeiro e da desregulação. Explodiram na 1a Guerra. Não se tiraram lições do conflito e sobreveio a segunda grande crise, de 1929.

 

O Ocidente foi salvo pelo New Deal, de Franklin Delano Roosevelt, com sua política de solidariedade nacional e de gastos públicos voltados para a geração de emprego e renda. A demora da Europa em perceber os novos tempos levou à derrocada da democracia e ao aparecimento de regimes totalitários e genocidas, como o nazismo e o fascismo.

 

Seguiu-se a 2a Guerra e, aí, seus ensinamentos frutificaram. Houve uma reorganização das instituições multilaterais e a definição de regras expressas para coibir os abusos do capital financeiro e a desestabilização das moedas nacionais.

 

O modelo acabou nos anos 70, com o advento da era Reagan, Thactcher, a desvinculação do dólar do padrão ouro. Seguiu-se uma enorme guerra ideológica, na qual os mercados cooptaram a academia para a legitimação de suas propostas. A idéia básica era a de que, dando vantagens totais aos grandes grupos, eles produziriam o desenvolvimento que beneficiaria o conjunto.

 

Longe vão os tempos em que Henry Ford sabia que a melhoria dos salários, inclusive de seus funcionários, era fundamental para fortalecer o mercado interno, permitindo vender mais carros.

 

O plano Biden

 

Dou essa imensa volta para comentar o discurso história de Joe Biden, ontem, anunciando os pontos centrais do que ele chama de reconstrução do país. É a reedição do New Deal de Roosevelt, medidas consistentes de apoio aos vulneráveis, apeloas à solidariedade nacional, o uso do conceito de disputa de Nação – com a China – como foram de unir os americanos.

 

São curiosos os desígnios da história. No Partido Democrata, Biden sempre estava no campo da direita. Ontem, foi acusado de ser mais “esquerdista” que a esquerda do partido. Joga-se na esquerda a pecha de desejar a melhoria da vida da população, a recuperação da economia e do emprego, a universalização de direitos básicos, o comprometimento do orçamento para temas sociais.

 

Com tais inimigos, se continuar no ritmo político atual Biden assegurará uma longa permanência dos democratas no poder.

 

Suas propostas incluem um pacote de ajuda econômica de US$ 1,9 trilhão, mais US$ 4 trilhões na construção da infraestrutura, dentro do conceito de economia verde. Haverá apoio a programas de assistência infantil, melhoria do salário mínimo.

 

Além das verbas, Biden propõe a recriação do chamado “sonho americano”, o conjunto de valores que sustentou o soft power americano – embora sempre acompanhado da diplçomacia das baionetas. Propôs um tratamento digno aos imigrantes, que vêm atrás do “sonho americano”, a defesa das mulheres, dos LGBTQ, das mudanças climáticas, implementação da justiça racial, entre outras teses civilizatóriuas.

 

Enquanto Paulo Guedes, em evento fechado, fazia a defesa da saúde privada, Biden pedia ao Congresso ações para reduzir os preços de medicamentos e expandir os benefícios do Medicare – o plano de saúde popular criado por Barack Obama.

 

Como financiar essas propostas? Com as soluções óbvias, antes politicamente inviáveis, hoje em dia cada vez mais próximas da concretização: tributação sobre grandes fortunas e ganhos financeiros,

 

29 de abril de 2021

https://jornalggn.com.br/editoria/economia/biden-e-o-new-deal-um-discurso-historico-por-luis-nassif/

 

 

https://www.alainet.org/es/node/212051
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