O modo "neo-socialista" de se comunicar e o velho jeito de se fazer política
03/06/2013
- Opinión
Terminou neste primeiro domingo de junho a Conferência Vox 2013, realizada pela ONG Novo Jeito e patrocinada por generosos 180 mil reais oriundos da Prefeitura da Cidade do Recife. Segundo os organizadores, o evento teria como público-alvo 320 alunos do nono ano da rede pública municipal de ensino e o objetivo de mobilizar e engajar os jovens recifenses, levando-os a pensar e agir de maneira diferente em nossa cidade.
Embora boa parte dos palestrantes trouxesse no seu currículo experiências importantes resultantes dos empreendimentos sociais que capitaneiam, alguns maus exemplos já observados antes merecem ser destacados em tal iniciativa.
Embora boa parte dos palestrantes trouxesse no seu currículo experiências importantes resultantes dos empreendimentos sociais que capitaneiam, alguns maus exemplos já observados antes merecem ser destacados em tal iniciativa.
O pior de todos localiza-se na “genial” ideia de fazer com que a intervenção do Governador Eduardo Campos, que encerrou a conferência, assumisse a aparência de uma entrevista coletiva, concedida a um grupo de alunos de alguns cursos de Jornalismo das Instituições de Ensino Superior de Pernambuco. Ideia inovadora não fossem os critérios estabelecidos para a seleção dos estudantes e das perguntas, com destaque para o último deles:
“As perguntas formuladas devem ser (...) submetidas à comissão organizadora. As mesmas estarão sujeitas à aprovação. A não aprovação implicará na substituição da pergunta por outra da mesma instituição feita por aluno indicado pela mesma”.
Estamos, aqui, diante de um caso exemplar de emprego de eufemismo para que não seja dito que a pergunta do aluno deveria passar pelo crivo da censura. Fecha-se, assim, o circuito responsável pela perfeita harmonização entre “um velho modo de fazer política” e “uma antiga modalidade de assistencialismo”, harmonização esta potencializada pelo aliciamento de setores do chamado terceiro setor pelo poder público – uma relação promíscua que certamente não foi abordada no decorrer da conferência em questão.
“As perguntas formuladas devem ser (...) submetidas à comissão organizadora. As mesmas estarão sujeitas à aprovação. A não aprovação implicará na substituição da pergunta por outra da mesma instituição feita por aluno indicado pela mesma”.
Estamos, aqui, diante de um caso exemplar de emprego de eufemismo para que não seja dito que a pergunta do aluno deveria passar pelo crivo da censura. Fecha-se, assim, o circuito responsável pela perfeita harmonização entre “um velho modo de fazer política” e “uma antiga modalidade de assistencialismo”, harmonização esta potencializada pelo aliciamento de setores do chamado terceiro setor pelo poder público – uma relação promíscua que certamente não foi abordada no decorrer da conferência em questão.
Bela lição para os futuros jornalistas, não?
Como se já não fosse questionável o fato do governador e do prefeito, responsável pelo único patrocínio visível do evento, aparecerem como figuras de destaque entre os palestrantes convidados (no facebook da ONG, é dito que a fala do governador foi “o momento mais esperado” do segundo dia do evento), padrinho e afilhado do campo político “neo-socialista” assumiram posição protagonista numa conferência que pode muito bem se passar por mais um espaço de propaganda do grupo que, cada vez mais, vem se pautando pelo uso abusivo de mecanismos de cooptação que perpetuam a tradição do adesismo governamental e reproduz um dos piores traços da nossa cultura política patrimonialista.
Ao que parece, os dois gestores pretendem alcançar o público jovem lançando mão do “novo jeito” de fazer marketing com o dinheiro do contribuinte. De fato, um “remendo de pano novo em vestido velho”, como afirmou certa feita Raymundo Faoro: uma prática muito distante do ideal de comunicação pública e que, diga-se, não tem nada de republicano, muito menos de algo que possa levar a nossa juventude a um “agir diferente”...
Como se já não fosse questionável o fato do governador e do prefeito, responsável pelo único patrocínio visível do evento, aparecerem como figuras de destaque entre os palestrantes convidados (no facebook da ONG, é dito que a fala do governador foi “o momento mais esperado” do segundo dia do evento), padrinho e afilhado do campo político “neo-socialista” assumiram posição protagonista numa conferência que pode muito bem se passar por mais um espaço de propaganda do grupo que, cada vez mais, vem se pautando pelo uso abusivo de mecanismos de cooptação que perpetuam a tradição do adesismo governamental e reproduz um dos piores traços da nossa cultura política patrimonialista.
Ao que parece, os dois gestores pretendem alcançar o público jovem lançando mão do “novo jeito” de fazer marketing com o dinheiro do contribuinte. De fato, um “remendo de pano novo em vestido velho”, como afirmou certa feita Raymundo Faoro: uma prática muito distante do ideal de comunicação pública e que, diga-se, não tem nada de republicano, muito menos de algo que possa levar a nossa juventude a um “agir diferente”...
- Marco Mondaini é Historiador e Professor da Universidade Federal de Pernambuco.
- Ivan Moraes Filho é jornalista e integrante do Centro de Cultura Luiz Freire.
- Ivan Moraes Filho é jornalista e integrante do Centro de Cultura Luiz Freire.
https://www.alainet.org/es/node/76504