Sobre o aquecimento da luta de classes e as “credenciais” da esquerda
14/07/2013
- Opinión
As mobilizações do último período revelam, entre outras coisas, que as “credenciais” dos partidos e movimentos criados na etapa anterior de lutas não são reconhecidas pela nova geração das classes trabalhadoras. A ruptura da continuidade das lutas dos anos 1980 e a primeira metade dos 90 faz-se sentir no aquecimento das lutas durante o último ano, que tiveram a expressão mais espetaculosa nas manifestação contra os aumentos das passagens e contra os gastos da Copa. As organizações criadas na outra etapa, e que permaneciam em compasso de espera, olham para este reacender das lutas com apreensão. Reclamam da despolitização ou a desorganização das novas camadas e olham para elas com uma desconfiança só superada pela desconfiança dessas novas camadas com relação às organizações tradicionais. A confiança se constrói na luta comum, não é automática, pelo programa, pelo discurso e nem pela cor das bandeiras.
Aliás, essa desconfiança precisa ser percebida como saudável nas novas e também nas velhas gerações, depois do comprometimento dos governos do Partido dos Trabalhadores, partido surgido nas lutas da etapa anterior, com o projeto de expansão do capital no que se deu em chamar: neodesenvolvimentismo. Mas mesmo partidos e movimentos organizados que não deixaram de lutar nesta última etapa, não se tornaram referência para esta grande massa de trabalhadores e trabalhadoras que agora se lança ao conflito. As “credenciais” não servem. É necessário estarem presentes nas lutas atuais sem partir do pressuposto de que serão dirigidas por esses partidos e movimentos organizados, o que inclui as organizações sindicais. As mobilizações de dia 11 de julho são uma clara demonstração disso. Rompeu-se o vínculo orgânico das organizações com a grande massa. O que é compreensível, uma vez que houve um arrefecimento das lutas todos esses anos. Alguns confundem organicidade com organização e, inclusive, organização com aparato.
De pouco serve o aparato se não houver organicidade. É preciso reconstruí-la. E isso não será feito sem enraizamento no cotidiano das classes trabalhadoras e nas suas novas lutas. É uma grande insensibilidade achar que a frente única da classe trabalhadora vai se dar pelo simples acordo entre as organizações pela retomada das velhas bandeiras. Da pauta amarelada das classes trabalhadoras. A pauta só pode ser reconstruída junto às novas gerações a partir das lutas atuais. A restituição das pautas, independentemente das lutas, só aumenta o estranhamento entre a esquerda organizada e essas novas gerações. Para se colocar pautas mais gerais e audaciosas é preciso uma organização que só pode avançar a partir de lutas, e conquistas, mais imediatas, que vão alimentar a confiança nas próprias forças e nas novas articulações da classe. Isso está colocado para todos. Alguns já perceberam, outros ainda precisam “acordar” para as novas tarefas.
- Silvia Beatriz Adoue é professora da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Araraquara.
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