Câmbio fora de lugar
01/08/2013
- Opinión
Para situar a questão cambial é necessário conhecer a evolução que vem ocorrendo em decorrência das políticas cambiais que vêm sendo conduzidas pelo Banco Central (BC). O gráfico seguinte apresenta essa evolução desde 1980 até julho deste ano. Os valores estão convertidos para moeda de junho de 2013 pelo IPCA.
Há tendência declinante ao longo do tempo. Interessante notar: a) atingiu o máximo De R$ 9,29 em junho de 1985; b) com o advento do Plano Real sofreu forte apreciação caindo do nível de R$ 4,30 para R$ 3,00 permanecendo aí até a crise cambial do final de 1998, quando passou a flutuar oscilando entre R$ 4 e R$ 5; c) passou por outro pico em setembro de 2002, quando o PSDB usou terrorismo contra a candidatura de Lula à presidência, tendo alcançado R$ 7,56; d) a partir daí vem sofrendo com alguma interrupção, forte processo de apreciação, caindo para o nível de R$ 2 desde o final de 2009 e; e) com o anúncio do Fed (banco central americano) de que iria reduzir a emissão de dólares subiu para o nível atual de R$ 2,30. Nesse último nível se encontra vizinho ao patamar mínimo da série histórica.
Isso é o que vem reduzindo o crescimento pela queda das exportações e elevação das importações, elevando o déficit externo que atingiu US$ 72,5 bilhões (3,2% do PIB) nos últimos doze meses encerrados em junho e retirando competitividade das empresas sediadas no País.
Essa situação é devida à dominância da política monetária, que usa a âncora cambial para controlar a inflação. Essa âncora ocorre através da oferta ao capital especulativo internacional de juros Selic em nível muito acima do praticado internacionalmente, que está balizado pelo nível da inflação de cada país. Assim, na média dos países emergentes está por volta de 5% e nos países desenvolvidos chega a ser zero ou até negativo.
A atração ao capital especulativo internacional vem de longa data. Até o Plano Real o saldo acumulado dos investimentos de estrangeiros em títulos do governo era baixo. O plano visou atrair mais dólares com juros convidativos e o saldo foi crescendo até 2000, se estabilizando em US$ 110 bilhões até 2006. A partir daí continuaram crescendo até atingir US$ 200 bilhões ao final e 2012. E neste primeiro semestre cresceu US$ 11,7 bilhões, atraídos pela retirada da tributação de 6% do Imposto de Operações Financeiras (IOF).
O gráfico ilustra a evolução ocorrida com esse passivo financeiro.
Essa montanha de dólares está sendo remunerada pelo Tesouro Nacional com base na Selic. O gráfico seguinte apresenta a evolução ocorrida nos rendimentos das aplicações em títulos do governo pelo capital especulativo internacional.
Antes do Plano Real a renda das aplicações era inferior a US$ 1 bilhão por ano. Com o Plano Real há o salto para US$ 4 bilhões em 1995 e daí para a frente, com lucros financeiros na casa de US$ 10 bilhões anuais.
Esse é um dos custos dessa política danosa de atrair o capital especulativo internacional para segurar a inflação.
A ameaça de repatriação desse capital especulativo é o cutelo na garganta do governo.
O câmbio artificialmente apreciado cria forte barreira à competitividade interna com o produto estrangeiro e barreira maior à disputa pelo mercado internacional. Assim, crescem as importações em ritmo superior às exportações fazendo cair a cada ano o saldo da balança comercial (exportação menos importação).
O gráfico a seguir ilustra a evolução da balança comercial.
O mergulho da balança comercial em direção ao déficit vai agravar as contas externas, que, como apontado, bateu em US$ 72,5 bilhões (3,2% do PB) nos últimos doze meses encerrados em junho.
O câmbio de equilíbrio que poderá permitir zerar as contas externas se situa próximo a R$ 3/US$, conforme ilustra o gráfico seguinte que cruza o câmbio com as transações correntes que indicam o saldo das contas externas.
A política econômica que poderá reconduzir o País na rota do crescimento envolve satisfazer o aumento do consumo em curso preferencialmente pela empresa local. O impacto do componente externo no crescimento é positivo com a exportação e negativo com a importação. Assim, com o câmbio próximo a R$ 3/US$, melhora a competitividade local que passa a atender a expansão do consumo ao mesmo tempo que se abrem melhores perspectivas para exportar.
Para restaurar o câmbio do artificialismo imposto pelo BC é necessário deixar de cortejar o capital especulativo, retornando gradualmente a Selic ao nível da inflação, portanto, próximo a 5%, como estão fazendo os demais países, que procuram atravessar os rescaldos da crise de 2008.
Resta ver se o governo vai adotar essa nova política ou vai continuar atrelado ao fantasma da inflação, poderoso aliado do mercado financeiro que o usa para usufruir das elevadas taxas de juros da economia do Brasil.
Há tendência declinante ao longo do tempo. Interessante notar: a) atingiu o máximo De R$ 9,29 em junho de 1985; b) com o advento do Plano Real sofreu forte apreciação caindo do nível de R$ 4,30 para R$ 3,00 permanecendo aí até a crise cambial do final de 1998, quando passou a flutuar oscilando entre R$ 4 e R$ 5; c) passou por outro pico em setembro de 2002, quando o PSDB usou terrorismo contra a candidatura de Lula à presidência, tendo alcançado R$ 7,56; d) a partir daí vem sofrendo com alguma interrupção, forte processo de apreciação, caindo para o nível de R$ 2 desde o final de 2009 e; e) com o anúncio do Fed (banco central americano) de que iria reduzir a emissão de dólares subiu para o nível atual de R$ 2,30. Nesse último nível se encontra vizinho ao patamar mínimo da série histórica.
Isso é o que vem reduzindo o crescimento pela queda das exportações e elevação das importações, elevando o déficit externo que atingiu US$ 72,5 bilhões (3,2% do PIB) nos últimos doze meses encerrados em junho e retirando competitividade das empresas sediadas no País.
Essa situação é devida à dominância da política monetária, que usa a âncora cambial para controlar a inflação. Essa âncora ocorre através da oferta ao capital especulativo internacional de juros Selic em nível muito acima do praticado internacionalmente, que está balizado pelo nível da inflação de cada país. Assim, na média dos países emergentes está por volta de 5% e nos países desenvolvidos chega a ser zero ou até negativo.
A atração ao capital especulativo internacional vem de longa data. Até o Plano Real o saldo acumulado dos investimentos de estrangeiros em títulos do governo era baixo. O plano visou atrair mais dólares com juros convidativos e o saldo foi crescendo até 2000, se estabilizando em US$ 110 bilhões até 2006. A partir daí continuaram crescendo até atingir US$ 200 bilhões ao final e 2012. E neste primeiro semestre cresceu US$ 11,7 bilhões, atraídos pela retirada da tributação de 6% do Imposto de Operações Financeiras (IOF).
O gráfico ilustra a evolução ocorrida com esse passivo financeiro.
Essa montanha de dólares está sendo remunerada pelo Tesouro Nacional com base na Selic. O gráfico seguinte apresenta a evolução ocorrida nos rendimentos das aplicações em títulos do governo pelo capital especulativo internacional.
Antes do Plano Real a renda das aplicações era inferior a US$ 1 bilhão por ano. Com o Plano Real há o salto para US$ 4 bilhões em 1995 e daí para a frente, com lucros financeiros na casa de US$ 10 bilhões anuais.
Esse é um dos custos dessa política danosa de atrair o capital especulativo internacional para segurar a inflação.
A ameaça de repatriação desse capital especulativo é o cutelo na garganta do governo.
O câmbio artificialmente apreciado cria forte barreira à competitividade interna com o produto estrangeiro e barreira maior à disputa pelo mercado internacional. Assim, crescem as importações em ritmo superior às exportações fazendo cair a cada ano o saldo da balança comercial (exportação menos importação).
O gráfico a seguir ilustra a evolução da balança comercial.
O mergulho da balança comercial em direção ao déficit vai agravar as contas externas, que, como apontado, bateu em US$ 72,5 bilhões (3,2% do PB) nos últimos doze meses encerrados em junho.
O câmbio de equilíbrio que poderá permitir zerar as contas externas se situa próximo a R$ 3/US$, conforme ilustra o gráfico seguinte que cruza o câmbio com as transações correntes que indicam o saldo das contas externas.
A política econômica que poderá reconduzir o País na rota do crescimento envolve satisfazer o aumento do consumo em curso preferencialmente pela empresa local. O impacto do componente externo no crescimento é positivo com a exportação e negativo com a importação. Assim, com o câmbio próximo a R$ 3/US$, melhora a competitividade local que passa a atender a expansão do consumo ao mesmo tempo que se abrem melhores perspectivas para exportar.
Para restaurar o câmbio do artificialismo imposto pelo BC é necessário deixar de cortejar o capital especulativo, retornando gradualmente a Selic ao nível da inflação, portanto, próximo a 5%, como estão fazendo os demais países, que procuram atravessar os rescaldos da crise de 2008.
Resta ver se o governo vai adotar essa nova política ou vai continuar atrelado ao fantasma da inflação, poderoso aliado do mercado financeiro que o usa para usufruir das elevadas taxas de juros da economia do Brasil.
https://www.alainet.org/es/node/78196
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