Afirma Conceição
"Congresso mostra a força e potencial político da Reforma Agrária Popular"
20/02/2014
- Opinión
O 6° Congresso Nacional do MST, que ocorreu entre 10 a 14 de fevereiro, em Brasília, demarca a consolidação de um novo programa agrária do Movimento que pretende nortear a organização da produção no campo brasileiro, a chamada Reforma Agrária Popular.
Segundo Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, “o 6° Congresso não apenas pautou nossa proposta de Reforma Agrária Popular à presidenta Dilma ou para o governo, mas principalmente para nossa base e para a sociedade. Agora, nos cabe o desafio de fazê-la avançar com o conjunto da classe trabalhadora.”
Conceição ressalta ainda a importância da base acampada e assentada no processo, tanto de preparação para a realização do congresso quanto da construção e consolidação da proposta de Reforma Agrária Popular para o campesinato brasileiro.
Confira a entrevista:
Como você avalia o 6° Congresso Nacional do MST?
Podemos destacar três elementos cruciais desse momento após dois anos de debate e preparação com o conjunto do MST para realizarmos esse congresso.
Primeiro a comemoração dos 30 anos do MST, que concretizamos pela mística da luta em duas grandes mobilizações: a ocupação do MEC com 750 Sem Terrinhas, quando lutaram contra o fechamento das Escolas do Campo e por melhores condições na Educação do Campo; e a Marcha pela Reforma Agrária Popular, com 16 mil Sem Terra nas ruas de Brasília.
Também passamos por uma avaliação sobre as construções do MST ao longo desses 30 anos, e aprofundamos nossa discussão sobre os principais inimigos do campesinato: o agronegócio, as transnacionais e o latifúndio.
Nessa mesma linha, refletimos sobre nossa capacidade de pautarmos a Reforma Agrária na sociedade. O resultado desse processo é a consolidação do debate sobre a Reforma Agrária Popular. O que estamos propondo é mais do que uma política distributivista de terras. É uma proposta que representa uma nova organização da propriedade fundiária que perpassa pela mudança na organização da produção no campo.
E por fim, destacamos os desafios da classe trabalhadora para o próximo período. O congresso cumpriu com a tarefa de recompor um bloco histórico e político, no sentido de transpor o bloqueio que temos enfrentado e pautar novos temas.
Você acredita que a audiência com a presidenta colocou a Reforma Agrária na pauta do governo?
A Marcha parou o STF e fez com que a presidenta nos recebesse, assim como a ação dos Sem Terrinha fez com que o ministro da educação os recebesse.
Porém, acreditamos que o 6° Congresso não apenas pautou nossa proposta de Reforma Agrária Popular à presidenta Dilma ou para o governo, mas principalmente para nossa base e para a sociedade. Agora, nos cabe o desafio de fazê-la avançar com o conjunto da classe trabalhadora.
Qual a importância do apoio demonstrado ao MST pelas várias entidades e organizações na luta pela Reforma Agrária?
Durante o 6° Congresso realizamos um ato político em defesa da Reforma Agrária e contamos com a presença de vários representantes do campo popular que se solidarizam e se somam à proposta da Reforma Agrária Popular.
Foi extremamente significativo o fato de estarem presentes no mesmo espaço e em busca de um projeto em comum, basicamente todas as forças de esquerda do país, e que em muitos outros momentos tem dificuldade de se acertarem em relação a outras pautas. Isso demonstra a força e o potencial político que a pauta da Reforma Agrária tem para as organizações da classe trabalhadora.
Somado a isso, há a demonstração de que o modelo do agronegócio não atende aos interesses da classe trabalhadora brasileira, e que o acúmulo de forças é necessário para a construção de uma nova sociedade que reconhece e afirma a identidade camponesa como um referencial de desenvolvimento para o campesinato brasileiro.
A luta que temos aqui no Brasil é similar à de outros países que vieram demonstrar seu apoio?
Sem dúvida a nossa luta é muito similar a dos países que aqui estiveram conosco. Afinal de contas, o agronegócio e as transnacionais exploram os recursos naturais e minerais em todo mundo.
As consequências tanto para os que vivem no campo quanto na cidade, se agravam a cada dia. Por isso a identificação dos camponeses de todo o mundo com a nossa luta e com a nossa proposta política de construir a Reforma Agrária Popular, um projeto que distribua terra, produza alimento saudável e que proporcione oportunidades para a juventude se manter no campo. E ressaltamos que a participação das mulheres nesta construção é parte fundamental deste processo.
Como você avalia esse momento na perspectiva organizativa do Movimento?
Fundamental para nossa organicidade interna, uma vez que optamos por um formato de organização não partidário e que constrói uma linha política centralizada por meio de discussões coletivas.
A vida real tem contradições e para resolvê-las é preciso organização. Como movimento social do campo, o MST acredita na luta de massa como elemento central para enfrentarmos o capital.
Esse objetivo concreto se refletiu no Congresso a partir da consolidação do debate massivo da Reforma Agrária Popular, realizado com militância e com nossa base acampada e assentada durante todo o período de preparação desse momento.
Além disso, ressaltamos a importância da disposição e organização de mais de 2 mil militantes Sem Terra na preparação e condução diária do 6° Congresso. Foi um processo amplo, construído com a participação de 16 mil delegados, mais 750 Sem Terrinhas e 250 delegados internacionais numa estrutura com 40 mil metros quadrados. Sem dúvida foi um dos maiores congresso camponês do mundo.
Tivemos toneladas de alimentos vindos de assentamentos. Isso reflete a proposta do Movimento em produzir alimentos saudáveis e sua viabilidade?
Não apenas mostra que ela é viável como demonstra na prática a construção da Reforma Agrária Popular, com produção de alimentos sem venenos voltados para o abastecimento do mercado interno e que promova geração de emprego e renda.
Portanto, a feira da Reforma Agrária durante o 6° Congresso demonstra ainda mais que a democratização da terra é urgente e necessária.
Quais as perspectivas de luta para o próximo período?
Com a proposta da Reforma Agrária Popular, temos o desafio de nos mobilizar junto à classe trabalhadora para consolidar as grandes jornadas de lutas unificadas em torno do projeto popular para o Brasil.
Seguiremos com as ocupações de latifúndios, das transnacionais, dos perímetros irrigados e vamos produzir mais alimentos para garantir a soberania alimentar de nosso país.
Segundo Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, “o 6° Congresso não apenas pautou nossa proposta de Reforma Agrária Popular à presidenta Dilma ou para o governo, mas principalmente para nossa base e para a sociedade. Agora, nos cabe o desafio de fazê-la avançar com o conjunto da classe trabalhadora.”
Conceição ressalta ainda a importância da base acampada e assentada no processo, tanto de preparação para a realização do congresso quanto da construção e consolidação da proposta de Reforma Agrária Popular para o campesinato brasileiro.
Confira a entrevista:
Como você avalia o 6° Congresso Nacional do MST?
Podemos destacar três elementos cruciais desse momento após dois anos de debate e preparação com o conjunto do MST para realizarmos esse congresso.
Primeiro a comemoração dos 30 anos do MST, que concretizamos pela mística da luta em duas grandes mobilizações: a ocupação do MEC com 750 Sem Terrinhas, quando lutaram contra o fechamento das Escolas do Campo e por melhores condições na Educação do Campo; e a Marcha pela Reforma Agrária Popular, com 16 mil Sem Terra nas ruas de Brasília.
Também passamos por uma avaliação sobre as construções do MST ao longo desses 30 anos, e aprofundamos nossa discussão sobre os principais inimigos do campesinato: o agronegócio, as transnacionais e o latifúndio.
Nessa mesma linha, refletimos sobre nossa capacidade de pautarmos a Reforma Agrária na sociedade. O resultado desse processo é a consolidação do debate sobre a Reforma Agrária Popular. O que estamos propondo é mais do que uma política distributivista de terras. É uma proposta que representa uma nova organização da propriedade fundiária que perpassa pela mudança na organização da produção no campo.
E por fim, destacamos os desafios da classe trabalhadora para o próximo período. O congresso cumpriu com a tarefa de recompor um bloco histórico e político, no sentido de transpor o bloqueio que temos enfrentado e pautar novos temas.
Você acredita que a audiência com a presidenta colocou a Reforma Agrária na pauta do governo?
A Marcha parou o STF e fez com que a presidenta nos recebesse, assim como a ação dos Sem Terrinha fez com que o ministro da educação os recebesse.
Porém, acreditamos que o 6° Congresso não apenas pautou nossa proposta de Reforma Agrária Popular à presidenta Dilma ou para o governo, mas principalmente para nossa base e para a sociedade. Agora, nos cabe o desafio de fazê-la avançar com o conjunto da classe trabalhadora.
Qual a importância do apoio demonstrado ao MST pelas várias entidades e organizações na luta pela Reforma Agrária?
Durante o 6° Congresso realizamos um ato político em defesa da Reforma Agrária e contamos com a presença de vários representantes do campo popular que se solidarizam e se somam à proposta da Reforma Agrária Popular.
Foi extremamente significativo o fato de estarem presentes no mesmo espaço e em busca de um projeto em comum, basicamente todas as forças de esquerda do país, e que em muitos outros momentos tem dificuldade de se acertarem em relação a outras pautas. Isso demonstra a força e o potencial político que a pauta da Reforma Agrária tem para as organizações da classe trabalhadora.
Somado a isso, há a demonstração de que o modelo do agronegócio não atende aos interesses da classe trabalhadora brasileira, e que o acúmulo de forças é necessário para a construção de uma nova sociedade que reconhece e afirma a identidade camponesa como um referencial de desenvolvimento para o campesinato brasileiro.
A luta que temos aqui no Brasil é similar à de outros países que vieram demonstrar seu apoio?
Sem dúvida a nossa luta é muito similar a dos países que aqui estiveram conosco. Afinal de contas, o agronegócio e as transnacionais exploram os recursos naturais e minerais em todo mundo.
As consequências tanto para os que vivem no campo quanto na cidade, se agravam a cada dia. Por isso a identificação dos camponeses de todo o mundo com a nossa luta e com a nossa proposta política de construir a Reforma Agrária Popular, um projeto que distribua terra, produza alimento saudável e que proporcione oportunidades para a juventude se manter no campo. E ressaltamos que a participação das mulheres nesta construção é parte fundamental deste processo.
Como você avalia esse momento na perspectiva organizativa do Movimento?
Fundamental para nossa organicidade interna, uma vez que optamos por um formato de organização não partidário e que constrói uma linha política centralizada por meio de discussões coletivas.
A vida real tem contradições e para resolvê-las é preciso organização. Como movimento social do campo, o MST acredita na luta de massa como elemento central para enfrentarmos o capital.
Esse objetivo concreto se refletiu no Congresso a partir da consolidação do debate massivo da Reforma Agrária Popular, realizado com militância e com nossa base acampada e assentada durante todo o período de preparação desse momento.
Além disso, ressaltamos a importância da disposição e organização de mais de 2 mil militantes Sem Terra na preparação e condução diária do 6° Congresso. Foi um processo amplo, construído com a participação de 16 mil delegados, mais 750 Sem Terrinhas e 250 delegados internacionais numa estrutura com 40 mil metros quadrados. Sem dúvida foi um dos maiores congresso camponês do mundo.
Tivemos toneladas de alimentos vindos de assentamentos. Isso reflete a proposta do Movimento em produzir alimentos saudáveis e sua viabilidade?
Não apenas mostra que ela é viável como demonstra na prática a construção da Reforma Agrária Popular, com produção de alimentos sem venenos voltados para o abastecimento do mercado interno e que promova geração de emprego e renda.
Portanto, a feira da Reforma Agrária durante o 6° Congresso demonstra ainda mais que a democratização da terra é urgente e necessária.
Quais as perspectivas de luta para o próximo período?
Com a proposta da Reforma Agrária Popular, temos o desafio de nos mobilizar junto à classe trabalhadora para consolidar as grandes jornadas de lutas unificadas em torno do projeto popular para o Brasil.
Seguiremos com as ocupações de latifúndios, das transnacionais, dos perímetros irrigados e vamos produzir mais alimentos para garantir a soberania alimentar de nosso país.
- Iris Pacheco, para Página do MST
Foto: Talles Reis
https://www.alainet.org/es/node/83335
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