O que defendem Pedro Castillo e seu partido
Com vitória inesperada no primeiro turno das eleições peruanas, Castillo agora disputa a preferência com Keiko Fujimori
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As eleições presidenciais e do Congresso do Peru, realizadas no último domingo (11), aponta como resultado um segundo turno entre os candidatos Pedro Castillo (Peru Livre), mais à esquerda, e Keiko Fujimori (Força Popular), filha do ex-ditador Alberto Fujimori, que comandou o país durante toda a década de 1990. Ambos agora se preparam para a disputa do segundo turno, que está marcado para o dia 6 de junho.
Se Keiko é conhecida por ser a continuidade da direita fujimorista, Castillo não é muito conhecido fora do Peru, e mesmo na pesquisas de intenção de voto ele mal aparecia entre os melhor colocados. O partido pelo qual disputou o pleito, o Peru Livre, também não é muito evidente fora do país.
Ao comemorar o primeiro lugar na disputa de domingo, Castillo afirmou que "a mudança e a luta acabam de começar", além de reafirmar seu compromisso de estabelecer uma aliança com "o mesmo e verdadeiro povo peruano" para preservar suas raízes.
Mas quem é Pedro Castillo?
Castillo, de 51 anos, é professor primário na região andina de Cajamarca, ao norte do país, de onde é originário. Ele ganhou notoriedade a partir de 2017, quando liderou uma grande greve nacional de professores que parou as aulas por três meses para exigir melhor remuneração e a eliminação das avaliações de desempenho dos professores.
Na mobilização, Castillo liderou uma facção dissidente do tradicional Sindicato Único de Trabalhadores da Educação do Peru (Sutep) e foi acusado pela direita de ter ligações com o Movimento pela Anistia e Direitos Fundamentais (Movadef), o braço político do grupo armado Sendero Luminoso, o que ele sempre negou.
Candidato pela primeira vez à presidência do país nesta eleição, ele começou passando do ensino para a política em 2002, quando concorreu a prefeito de Anguía e, em 2005, se tornou membro do comitê de Cajamarca do partido Peru Possível (PP), do então presidente Alejandro Toledo (2001-2006). Este mandatátio ficou conhecido por seu governo neoliberal, que o afastou do apoio popular, e, em 2019, foi preso nos Estados Unidos sob a acusação de corrupção.
Após se desfiliar do PP, Castillo mudou para o movimento Peru Libre, liderado por Vladimir Cerrón, ex-governador de Junín que afirma ser um marxista e mariateguista e que agora foi condenado por corrupção, e hoje lidera o Peru Livre como secretário-geral nacional.
Na atual eleição presidencial, Castillo ficou conhecido por sempre usar um chapéu de palha e carregar um lápis, e por apresentar propostas como fechar o Congresso e por ter ido até o centro eleitoral votar montado em uma égua.
Com um início de campanha sem figurar entre os primeiros colocados, o líder sindical cresceu nas pesquisas de intenção de voto nas semanas anteriores ao pleito. O aumento de eleitorado é apontado como vindo de um setor de eleitores de esquerda que não aceitou Verónika Mendoza, a candidato progressista do bloco Juntos pelo Peru.
Seu discurso radical e populista tem como propostas um "Estado socialista", uma lei de "regulação da mídia" e aumento do orçamento da educação de 3,5% para 10% do produto interno bruto (PIB), este último para investir em infraestrutura, melhores salários aos professores e em um programa contra o analfabetismo.
Durante a campanha eleitoral, ele também advertiu que, se chegasse ao poder, o Congresso seria fechado se não aceitasse uma Assembleia Constituinte para substituir a Constituição de 1993, que surgiu após o "autogolpe" de Alberto Fujimori (1990-2000), pai da sua rival na disputa pelo segundo turno.
O que pensa o partido Peru Livre?
Fundado em 2007 como Movimento Político Regional Peru Livre, a sigla pela qual se candidatou Castillo foi formalizada como organização nacional em 2012, e possui o nome Peru Livre desde 2019. Segundo sua autodefinição, o partido tem "princípios claros": é "democrático, descentralista, internacionalista, inclusivo, soberano, humanista e anti-imperialista".
Além dos princípios, o Peru Livre é uma sigla que se coloca como "marxista-leninista-mariateguista" e defende reformas "totais" em relação à política fiscal e tributária peruana e propõe a "nacionalização dos recursos estratégicos" da nação.
"É o partido que, com sua prática, pode convencer que nem tudo é utopia, que também existem realidades. Conquistando objetivos que a educação oficial, religião e mídia nos transmitiram que eram aspirações impossíveis e que apenas uma sociedade dividida em classes era garantia de competitividade e avanço social", diz o partido.
O partido também propõe a destituição do Tribunal Constitucional do país, por considerar que o órgão é uma força aliada às elites, e uma nova Constituição que seja "solidária, humanista, salvadora e nacionalizadora". "A nova Constituição deve ser elaborada por meio de uma Assembleia Constituinte, a mesma que deve concluir no desmantelamento do neoliberalismo e capturar o novo regime econômico do Estado", afirma o partido.
No plano econômico, o Peru Livre defende uma agenda que classifica como "economia popular com mercados", no qual pretende estabelecer que essa gire "em torno dos interesses do povo".
A entidade ainda "condena" ingerências "imperialistas e neocoloniais", censurando "abertamente" o Grupo de Lima, organização fundada em 2017 por iniciativa do governo peruano sob a justificativa de "denunciar a ruptura da ordem democrática na Venezuela". O Grupo de Lima é formado por 13 países.
O Peru Livre defende que a saúde no país deve ser um direito garantido constitucionalmente ao povo, no qual o Estado "subsidie aos mais pobres" e que aponte para um único sistema de saúde de qualidade.
No atendimento especializado, o Peru Livre também se posiciona em relação à interrupção voluntária da gravidez. No país, o aborto é legal quando põe em perigo a vida da mulher e quando é necessário para proteger a sua saúde. Assim, o partido afirma que "respeita" a legislação peruana que contempla atualmente o método, afirmando que o "Estado socialista garante os direitos das mulheres". No entanto, o partido diverge ao apontar que "discorda do aborto usado como uma espécie de método contraceptivo".
Em consonância, Castillo tem se manifestado, repetidamente, contra o foco na igualdade de gênero na educação, assim como nos direitos sociais, tais como casamento igual entre pessoas do mesmo sexo. Sobre a questão do aborto, ele disse que, embora não concorde, ele a encaminharia para a Assembleia Constituinte para decidir.
*Com informações do Página 12, teleSUR e Opera Mundi.
Edição: Vivian Fernandes
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