A direita, o ódio à esquerda e aos latinoamericanos
- Opinión
A revista Veja de 13 de dezembro de 2006, cuja matéria central é Chavez não é brinquedo pretende fazer um ataque devastador à esquerda latino-americana.
Contundentemente derrotada nas eleições no Brasil; em pânico com as vitórias esmagadoras de Hugo Chaves, Evo Morales, Rafael Correa e Daniel Ortega; e assustada com a força eleitoral dos movimentos sociais no México e no Peru, desenvolve uma variante de sua estratégia conservadora: já que as esquerdas se tornaram um elemento dominante da realidade política latino-americana, há que se dividi-las. Separar a má esquerda da “boa esquerda” e, dentro desta, lhe isolar as más influências. O inimigo é apontado claramente: a esquerda nacionalista e “populista” que coloca a democracia e a vontade popular acima da lógica dos mercados. Chavez, “turbinado” pelo petróleo, com o qual pretenderia “exportar” o socialismo é o seu maior representante. A boa esquerda... a de “mente aberta”... é a que aceita a “sacralidade dos contratos”. O Presidente Lula, em quem a revista já estampou um pontapé no traseiro e acusou de ser detentor de um mandato pífio, justo na semana que seguiu a sua avassaladora eleição, é trazido momentaneamente ao purgatório para a “salvação”, desde que se separe das más influências, pois a revista não deixa dúvidas sobre a tarefa central: “os venezuelanos (sic!) já perderam a guerra contra Chávez. Ele precisa ser contido antes que consiga construir o socialismo e destruir mais países na América Latina”.
Movida por este espírito, a revista resolve atacar a Latinoamericana: enciclopédia contemporânea sobre América Latina e Caribe, coordenada por mim, Emir Sader, Ivana Jinkings e Rodrigo Nobile em projeto de quase 3 anos, que reuniu trabalhos de 123 intelectuais dos mais destacados da região, de amplo reconhecimento internacional, em 980 verbetes e 1450 páginas. Apesar de diversificada nas tendências e perspectivas de pensamento que orientam sua centena de autores, a Latinoamericana tem entre os seus “erros” o de não excluir a “má esquerda” de suas páginas e por isso é tratada como “energúmena” – ou em bom português, “possuída pelo demônio” – no Blog de um dos principais articulistas da Veja. Em seu ato de “exorcismo”, a revista elabora uma “resenha” anônima da mesma e a coloca deliberadamente na seção de humor. A enciclopédia é qualificada como o besteirol de Emir Sader, cuja complexidade é capaz de ser apreendida por qualquer um que tenha o Q.I ligeiramente superior aos chimpanzés e às llamas. Na gravura que ilustra a resenha, dezenas de chimpanzés entre livros e computadores são apresentados como os autores da Latinoamericana. Estes são acusados de se banquetearem com o patrocínio estatal para produzirem uma “piada petista”.
Elegantes, éticos e vaidosos, nossos críticos de Q.I superior cometem um primeiro equívoco: não sabem somar e multiplicar! Acusam os autores da enciclopédia de terem recebido 1.700 dólares por verbete, mas apresentam o custo total da Latinoamericana como o de 2 milhões e 23 mil reais, soma bastante inferior ao resultado da multiplicação! Mas como pode ser?! Em uma revista tão precisa e isenta?! Não saberão fazer operações básicas de matemática?! Ou será o hábito de publicar números de fontes ocultas e duvidosas, o que implica em resultados espantosos, como o de que Cuba é o último país na América Latina em consumo de calorias (sic!!)?!.
Dos 980 títulos, 80 dos quais ensaios de
Não poderíamos ter escolhido melhor caminho! Da mesma forma que a Africana – enciclopédia em que se inspirou a Latinoamericana – contribui para uma África livre de Apartheids, a nossa enciclopédia trilhará o mesmo caminho: o de uma América Latina – como imaginaram Bolívar e Martí – universal porque fundada na raça humana e livre dos estamentos, das exclusões e das oligarquias.
Doutor em sociologia (USP) e coordenador da Latinoamericana
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