Educação: ação política e solidária

25/02/2008
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Todo início de ano encontro professores animados com novas possibilidades que se configuram na escola. É uma animação que dura pouco quando encaramos o retorno do cotidiano escolar. As idéias que durante as férias foram se aninhando no desejo de uma escola diferente vão se confrontando com uma realidade de desilusão e desesperança diante do quadro da educação nacional. Começam os grandes deslocamentos sejam eles no interior do país ou nos grandes centros provocando viagens de duas ou mais horas no sentido casa-trabalho e mais no retorno. Começam as grandes jornadas de oito a doze horas de trabalho e logo na primeira semana as forças começam a se exaurir. Os desejos de uma nova metodologia esbarram em crianças que têm outras habilidades que ainda não conseguimos entender e aquelas que desejamos para dar continuidade a um projeto de educação estão aquém do necessário. Falo de crianças e adolescentes que ainda não dominam a leitura e a escrita, principalmente.

O que fazer então? Sempre afirmei que nossa postura diante da sociedade deve ser solidária e política: solidária na acolhida e política na ação. Se quisermos de fato uma sociedade diferente da que aí está nossa ação primeira é de acolhida. A escola deve ser solidária com os grupos de excluídos produzidos pela sociedade. Pensar a criança isolada da família e do seu contexto social nos levará a uma idealização do aluno impossível de ser encontrada. Nossos meninos e meninas desenvolvem na infância outras habilidades que não aquelas que, no nosso imaginário, são as definidoras do cidadão que desejamos ver adulto. Em geral se manifestam agressivos, têm informações ou experiências sexuais, manipulam bem o dinheiro e se comportam como mini-adultos em suas vestes, equipamentos e atitudes. Não dão importância à escola porque no seu meio o adulto assim age. Acolher e ser solidário com aquele professor ou professora novata que acaba de chegar à escola. Nós, em nossa crueldade, entregamos a eles as piores turmas ou os piores tempos dificultando um diálogo necessário com quem chega. Na outra ponta, criticamos os mais velhos que insistem em uma cartilha e uma metodologia que se acredita falha, mas que aprendemos por ela. Ou seja, fechamos o diálogo e somos pouco solidários com todos. Queremos inventar a roda todos os dias e cansamos. Logo caímos no isolamento, alheamento e desespero profissional.

Politicamente não temos sido a vanguarda da sociedade como deveríamos ser. Esquecemos que o futuro se faz na escola e não em outro lugar. É lá que a sociedade do futuro pode e deve ser modificada. É bem verdade que é o meio que faz o homem mas, o homem também faz o meio. A principal ação política de um professor é abrir os horizontes e mostrar outras possibilidades para a nova geração. Tornar um homo sapiens um verdadeiro humano só é possível com educação. Claro que é preciso materialidade, salários, tempos de estudo e reunião mas é preciso agir com o que temos e reagir pelo que não temos, simultaneamente. Os professores argelinos participaram do movimento de independência da Argélia com uma ação muito simples: ensinavam em árabe e não em francês, como exigido pela burocracia estatal. Numa ação coletiva vemos nossos sindicatos impotentes porque não comparecemos às nossas assembléias. Não temos sido solidários nem políticos: precisamos muito acolher e agir.

Dalvit Greiner


http://dalvitg.vilabol.uol.com.br/


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