Congresso aprova referendos sobre a Constituição
29/02/2008
- Opinión
O Parlamento boliviano aprovou, na noite de quinta-feira (28), o referendo aprobatório sobre a nova Constituição e o dirimidor a respeito do artigo que trata do latifúndio. A sessão do Congresso se deu em meio a um cerco do edifício iniciado na terça-feira (26) pelos principais movimentos sociais do país, que exigiam justamente a aprovação das duas consultas, marcadas para o dia 4 de maio.
Mais de dois terços dos parlamentares compareceram, quorum suficiente para o início da plenária. Alguns congressistas opositores presentes, em número reduzido, tentaram bloquear o desenvolvimento da sessão, enquanto outros foram impedidos de entrar no Parlamento pelos manifestantes pró-governo – duas congressistas chegaram a ser xingadas e agredidas. Tais fatos fizeram com que a aprovação dos referendos fosse chamada de “ilegal”, “autoritária” e “antidemocrática” pela oposição.
Já os apoiadores do presidente Evo Morales afirmaram que a sessão foi legítima, uma vez que a maioria do povo queria as consultas, mas os opositores desejavam travar o processo, em nome de interesses oligárquicos. O Chefe-de-Estado promulgou, na manhã desta sexta (29), as leis de convocatória.
“Esforços”
“Fizemos todos os esforços para encontrar um acordo, mas, como resposta, recebemos um rechaço brutal. Agora, o povo é quem deve definir com seu voto se aprova ou rechaça a nova Constituição Política do Estado”, afirmou o vice-presidente boliviano e presidente do Congresso, Álvaro García Linera, após a conclusão da sessão legislativa.
Desde a última semana, governo e oposição discutiam, no âmbito do Congresso, a compatibilização da nova Carta Magna com os estatutos autonômicos – lançados em dezembro pelos departamentos de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija (chamados de meia-lua), em resposta à aprovação da Constituição. No entanto, o diálogo pouco avançou, ao mesmo tempo em que teve início o cerco dos movimentos sociais ao Parlamento. Na quarta-feira (27), as organizações haviam dado um prazo de 24 horas para a aprovação dos referendos.
A consulta dirimidora deveria ter sido aprovada até o dia 15 de janeiro, de acordo com uma resolução da Assembléia Constituinte. O texto da nova Constituição foi ratificado em detalhe no dia 9 de dezembro, em Oruro. A aprovação geral, no entanto, se deu em 24 de novembro, sem a presença da maior parte da oposição e em um colégio militar de Sucre, enquanto, do lado de fora, ocorriam duros enfrentamentos entre a polícia e defensores da capitalidade para a cidade. Três manifestantes morreram. A oposição lista esses acontecimentos para chamar de ilegal a nova Carta Magna.
Autonomias
A sessão de quinta-feira deveria continuar a buscar saídas para a crise política. No entanto, como sugestão de um congressista do Movimiento Al Socialismo (MAS, partido no governo), mudou-se a ordem do dia e passou-se a aprovar a convocação aos referendos.
Durante a sessão, o legislativo aprovou também uma lei interpretativa sobre um parágrafo da Lei de Referendos, ficando determinado que a faculdade de convocar consultas departamentais é exclusiva do Congresso, “enquanto não existam governos departamentais conformados por órgãos executivos e deliberantes elegidos por voto popular”. Em 2005, houve, pela primeira vez, eleição para governador departamental, mas ainda não foram formados órgãos legislativos nos departamentos.
Os departamentos de Beni e Santa Cruz já haviam chamado referendos sobre seus estatutos autonômicos e não pretendem cancelá-los. O primeiro está marcado para 1º de junho, enquanto o segundo, assim como os referendos constitucionais, também para o dia 4 de maio. Tarija e Pando também esperam convocar as suas consultas em alguns dias.
Latifúndio
No caso do referendo dirimidor do artigo 398 da nova Constituição, a população deverá decidir se uma propriedade de terra deverá ter, no máximo, cinco mil ou dez mil hectares. O texto constitucional proíbe o latifúndio, considerando-o como “a propriedade improdutiva da terra, a terra que não cumpra com a Função Econômica e Social, a exploração da terra que aplica um sistema de servidão, semi-escravidão ou escravidão na relação laboral, ou a propriedade que sobrepassa a superfície máxima estabelecida na lei”. A consulta dirimidora refere-se exatamente à “superfície máxima” citada.
A reação da oposição veio imediatamente. O governador de Santa Cruz, Rubén Costas, afirmou que a aprovação dos referendos no Congresso responde ao desespero do governo ao ver fracassar sua tentativa de querer ser totalitário. Já os congressistas de partidos de oposição como o Poder Democrático Social (Podemos) e o Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR) chamaram para um desacato à decisão do Parlamento. “O único que lhes interessa [governistas] é se perpetuarem no poder, e o que fizeram é um ato ilegal que não deve ser acatado pelo povo e que não será reconhecido”, protestou Órcar Ortiz, senador do Podemos.
Igor Ojeda,
Correspondente do Brasil de Fato em La Paz (Bolívia)
Mais de dois terços dos parlamentares compareceram, quorum suficiente para o início da plenária. Alguns congressistas opositores presentes, em número reduzido, tentaram bloquear o desenvolvimento da sessão, enquanto outros foram impedidos de entrar no Parlamento pelos manifestantes pró-governo – duas congressistas chegaram a ser xingadas e agredidas. Tais fatos fizeram com que a aprovação dos referendos fosse chamada de “ilegal”, “autoritária” e “antidemocrática” pela oposição.
Já os apoiadores do presidente Evo Morales afirmaram que a sessão foi legítima, uma vez que a maioria do povo queria as consultas, mas os opositores desejavam travar o processo, em nome de interesses oligárquicos. O Chefe-de-Estado promulgou, na manhã desta sexta (29), as leis de convocatória.
“Esforços”
“Fizemos todos os esforços para encontrar um acordo, mas, como resposta, recebemos um rechaço brutal. Agora, o povo é quem deve definir com seu voto se aprova ou rechaça a nova Constituição Política do Estado”, afirmou o vice-presidente boliviano e presidente do Congresso, Álvaro García Linera, após a conclusão da sessão legislativa.
Desde a última semana, governo e oposição discutiam, no âmbito do Congresso, a compatibilização da nova Carta Magna com os estatutos autonômicos – lançados em dezembro pelos departamentos de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija (chamados de meia-lua), em resposta à aprovação da Constituição. No entanto, o diálogo pouco avançou, ao mesmo tempo em que teve início o cerco dos movimentos sociais ao Parlamento. Na quarta-feira (27), as organizações haviam dado um prazo de 24 horas para a aprovação dos referendos.
A consulta dirimidora deveria ter sido aprovada até o dia 15 de janeiro, de acordo com uma resolução da Assembléia Constituinte. O texto da nova Constituição foi ratificado em detalhe no dia 9 de dezembro, em Oruro. A aprovação geral, no entanto, se deu em 24 de novembro, sem a presença da maior parte da oposição e em um colégio militar de Sucre, enquanto, do lado de fora, ocorriam duros enfrentamentos entre a polícia e defensores da capitalidade para a cidade. Três manifestantes morreram. A oposição lista esses acontecimentos para chamar de ilegal a nova Carta Magna.
Autonomias
A sessão de quinta-feira deveria continuar a buscar saídas para a crise política. No entanto, como sugestão de um congressista do Movimiento Al Socialismo (MAS, partido no governo), mudou-se a ordem do dia e passou-se a aprovar a convocação aos referendos.
Durante a sessão, o legislativo aprovou também uma lei interpretativa sobre um parágrafo da Lei de Referendos, ficando determinado que a faculdade de convocar consultas departamentais é exclusiva do Congresso, “enquanto não existam governos departamentais conformados por órgãos executivos e deliberantes elegidos por voto popular”. Em 2005, houve, pela primeira vez, eleição para governador departamental, mas ainda não foram formados órgãos legislativos nos departamentos.
Os departamentos de Beni e Santa Cruz já haviam chamado referendos sobre seus estatutos autonômicos e não pretendem cancelá-los. O primeiro está marcado para 1º de junho, enquanto o segundo, assim como os referendos constitucionais, também para o dia 4 de maio. Tarija e Pando também esperam convocar as suas consultas em alguns dias.
Latifúndio
No caso do referendo dirimidor do artigo 398 da nova Constituição, a população deverá decidir se uma propriedade de terra deverá ter, no máximo, cinco mil ou dez mil hectares. O texto constitucional proíbe o latifúndio, considerando-o como “a propriedade improdutiva da terra, a terra que não cumpra com a Função Econômica e Social, a exploração da terra que aplica um sistema de servidão, semi-escravidão ou escravidão na relação laboral, ou a propriedade que sobrepassa a superfície máxima estabelecida na lei”. A consulta dirimidora refere-se exatamente à “superfície máxima” citada.
A reação da oposição veio imediatamente. O governador de Santa Cruz, Rubén Costas, afirmou que a aprovação dos referendos no Congresso responde ao desespero do governo ao ver fracassar sua tentativa de querer ser totalitário. Já os congressistas de partidos de oposição como o Poder Democrático Social (Podemos) e o Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR) chamaram para um desacato à decisão do Parlamento. “O único que lhes interessa [governistas] é se perpetuarem no poder, e o que fizeram é um ato ilegal que não deve ser acatado pelo povo e que não será reconhecido”, protestou Órcar Ortiz, senador do Podemos.
Igor Ojeda,
Correspondente do Brasil de Fato em La Paz (Bolívia)
http://www.brasildefato.com.br
https://www.alainet.org/pt/active/22489
Del mismo autor
- No mundo onde cresci, protestar contra violações é ser de esquerda 30/01/2014
- São Paulo: caminho livre para a especulação imobiliária 21/08/2012
- Esquerda paraguaia nunca esteve num melhor momento, diz Lugo 02/08/2012
- Izquierda paraguaya nunca estuvo en un mejor momento, dice Lugo 02/08/2012
- Manifestantes denunciam “captura” da ONU por corporações 20/06/2012
- Urbanista condiciona sustentabilidade nas cidades ao controle público do uso do solo 18/06/2012
- Atingidos pela Vale' decidem reforçar ações para 'desmascarar' mineradora 17/06/2012
- FSM: Movimentos sociais definem duas datas de luta comum para 2011 10/02/2011
- Clima é pretexto para a apropriação da vida na Terra, dizem especialistas 09/02/2011
- Na universidade-sede do FSM, a vida segue 07/02/2011
Clasificado en
Clasificado en:
