Se aproxima de eleição histórica

28/02/2008
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Fernando Lugo, candidato favorito, pode romper domínio do Partido Colorado e implementar um programa de desenvolvimento nacional com programas sociais para a maioria pobre do Paraguai

Ainda que as atenções internacionais estejam voltadas para as prévias nos Estados Unidos, é aqui do lado do Brasil que as urnas poderão anunciar um resultado histórico em 20 de abril. Faltando pouco mais de 50 dias para as eleições presidenciais no Paraguai, são cada vez mais fortes os sinais de que o Partido Colorado deixará o poder, após seis décadas.
 
As últimas pesquisas publicadas pelos principais diários de circulação nacional apontam vitória do ex-bispo Fernando Lugo, candidato da Alianza Patriótica para el Cambio (APC), uma convergência de oposição que reúne movimentos e partidos que vão da esquerda à direita. Na mais recente, realizada pela empresa Consummer Intelligence SA (COIN) publicada pelo jornal Última Hora, Lugo aparece com 37,9% das intenções de voto. O general Lino Oviedo, libertado pela justiça paraguaia para prejudicar a campanha de Lugo, aparece com 29,7%, enquanto a candidata oficial, Blanca Ovelar, está com 26,9%.
 
Outras pesquisas divulgadas nas últimas semanas apontam resultados semelhantes, exceto pela alternância entre Blanca e Oviedo na segunda posição. Como não há segundo turno nas eleições no Paraguai, os dados apontam para uma vitória de Lugo, salvo se o Partido Colorado utilizar o seu know-how em fraudes eleitorais.
 
Suspeitas permanentes

Não existe confiança nos organismos gestores das eleições, tendo em vista que as autoridades do Tribunal Superior Eleitoral respondem diretamente ao presidente Nicanor Duarte. Mas hoje o mundo ou, pelo menos, a América do Sul, está de olho nas eleições no Paraguai. E eles sabem das conseqüências de uma eventual fraude, avalia Gerardo Rolón Pose, presidente do Partido Democrático Cristiano (PDC), agremiação de centro-esquerda que integra a aliança em torno de Lugo.

Para garantir a lisura do processo eleitoral, os dirigentes da APC esperam colocar até 50 mil pessoas para cuidar cada uma das 15 mil mesas eleitorais que funcionarão no dia 20 de abril. "A possibilidade de fraude existe, mas estamos tomando todas as medidas necessárias para evitar que a fraude prospere. Queremos mobilizar a maior quantidade possível de cidadãos para controlar as mesas eleitorais", explica o chefe do setor de imprensa campanha de Lugo, Ausberto Rodriguez.

Fernando Lugo se mantém na frente na maioria das pesquisas desde que renunciou ao sacerdócio, no Natal de 2006, para concorrer à presidência. Sua vantagem só foi abalada após um acordo entre o presidente Nicanor Duarte e Lino Oviedo, que permitiu ao ex-general sair da prisão, em setembro do ano passado, onde cumpria pena pela tentativa de golpe de Estado em 1996. A estratégia de Nicanor de tirar votos de Lugo se mostrou acertada, apenas naquele momento.

"A nossa vantagem era muito alta, mas Oviedo polarizou muito dos votos, porque criou toda uma mística de político perseguido. Mas, rapidamente, a cidadania se deu conta que esta liberdade foi produto de um acordo com o governo", avalia Rodriguez. O presidente paraguaio pode entrar para a história como o homem que fez o Partido Colorado cair do poder. O alto índice de rejeição a seu governo, marcado por diversas denúncias de corrupção, prejudica a candidata oficial, Blanca Ovelar, que aparece menos do que o próprio presidente. Tanto que os assessores da ex-ministra da Educação pedem que ela se afaste dele.

Divisão histórica

Nicanor também é o principal responsável por um dos maiores rachas entre os colorados no período da transição democrática do país, após ter fraudado as internas que conduziram Blanca Ovelar à candidatura, em janeiro. Com isso, muitos dos seguidores do ex-vice-presidente Luis Castiglioni, rival interno de Nicanor e pré-candidato pelo Partido Colorado, deixaram de apoiar a candidatura oficial.

"A divisão interna entre os colorados está em níveis nunca vistos", afirma Gerardo Rolón Pose. Nicanor tenta recuperar alguns dissidentes, promovendo farta distribuição de cargos públicos, mas não está surtindo efeito. "As pessoas que apoiaram a candidatura de Castiglioni, segundo as pesquisas, não estão dispostas a votar em Blanca Ovelar", explica o dirigente do Partido Democrático Cristão, que não acredita que uma eventual reconciliação colorada possa reverter a situação. "O abraço colorado ainda pode ocorrer, mas não na medida necessária para reverter o mau desempenho da candidata oficialista", diz.

Para o jornalista Alfredo Cantero, editor de política do diário ABC Color, Lugo também tem boas condições de vencer porque conta com votos no interior do país, reduto colorado e oviedista. "É a primeira vez que um candidato da oposição tem uma penetração tão forte no interior do país. Antes, as outras candidaturas não tinham essa penetração, principalmente no campesinato. Lugo tem muita força no interior, já deu duas voltas no país desde que começou a campanha. E fez alianças com organizações camponesas e sociais, o que foi importante para sua sustentação", explica.

- Daniel Cassol, Especial para o Brasil de Fato de Assunção (Paraguai)
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