A revolução brasileira
01/08/2002
- Opinión
A palavra revolução se encontra no limbo do discurso político. Mas ela
deve ser trazida ao mundo sub-lunar para dar sentido à presente situação
brasileira em tempos de eleição. Tomamos revolução no sentido que lhe
conferiu Caio Prado Jr. no seu clássico Revolução Brasileira(1966),
definição que deixa para trás a idéia convencional que associa revolução
com violência: "transformações capazes de reestruturarem a vida do Brasil
de maneira consentânea com suas necessidades mais gerais e profundas, e
as aspirações da grande massa de sua população que, no estado atual, não
são devidamente antendidas… algo que leve a vida do país por um novo
rumo". Elenquemos alguns dados que clamam por uma reestruturação social
do Brasil:
Em primeiríssimo lugar, o fato vergonhoso de que um terço da população se
encontra abaixo da linha da miséria, num pais que é um dos maiores
exportadores de grãos. Só esse dado macroscópico por si só justifica uma
revolução.
Em segundo lugar, a desigualdade que grita caninamente ao céu. Dados de
1999 dão conta de que 400 mil famílias ou seja 1% da população detêm 53,%
da riqueza nacional. Essa minoria não mostra humanidade para com as
outras 39,6 milhões de famílias. Mais que brasileira, essa minoria
sente-se transnacionalizada. Lá fora nos hotéis cinco estrelas tem
vergonha de ser brasileira.
Em terceiro lugar, a dívida externa impagável, sempre de novo renegociada
como agora.Para responder a essa dívida, o Governo deve se submeter aos
diatames do FMI. Caso contrário, não recebe capitais externos para
fechar suas contas (23 bilhões em 2001). O serviço dessa dívida subtraiu
dos cofres públicos em 2001 cerca de 106,9 bilhões de reais. Traduzindo:
equivale a retirar R$ 203.000 por minuto, 24 horas por dia, 365 dias no
ano. Destes 106,9 bilhões somente 44 bilhões são nossos, resultado de
aumento de impostos e de cortes nas políticas sociais Os restantes 62,9
bilhões de reais são novos empréstimos de fora. Tais distorções não
pedem um novo rumo?
Em quarto lugar, o custo social do Plano Real. Mantem estabilizada a
moeda com controle da inflação mas a preço de elevado custo social devido
aos altos impostos que restringem o crescimento econômico, engessando os
salários. É crescente o número dos excluidos.
Nas atuais eleições estão enfrentados estes dois projetos: o primeiro
quer a continuidade da modernização conservadora (porque não é social),
via inserção na globalização, tolerando as contradições mas com a
convicção de que lá na frente será bom para todos; o segundo quer a
mudança de eixo (seu aspecto revolucionário),fundando um novo pacto
social que resgate as dívidas sociais inatendidas, com a convicção de que
é possível mudanças estruturais com democracia.
O segundo projeto está recebendo a preferência do eleitorado. A reação
dos continuistas é criar uma blindagem política para o projeto da
modernização conservadora. Fazem-no obrigando o eventual vencedor a se
declarar fiel aos compromissos internacionais e a respeitar o jogo atual
da economia para que não seja substancialmente mudada. Mas a revolução é
necessária e há forças para fazê-la acontecer. Importa querê-la
decididamente.
* Leonardo Boff, Teólogo
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