Famílias são despejadas com truculência em Minas Gerais

18/05/2009
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Após vários dias de pressão e ameaças, a Polícia Militar de Minas Gerais despejou, na última segunda-feira (18), cerca de cem famílias de quatro acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que estavam na área da fazenda Ariadnópolis, no municicípio de Campo do Meio, no sul do estado.

As famílias pertenciam aos acampamentos Sidney Dias, Irmã Dorothy, Tiradentes e Rosa Luxemburgo. Além destes, outros seis acampamentos com 300 famílias resistem na propriedade de seis mil hectares, onde funcionava uma usina de cana-de-açúcar.

Violência

Nem mesmo as crianças, que entregaram flores aos puderam impedir a truculência durante o despejo. Segundo o MST, os policiais incendiaram e destruíram as plantações com patrolas e tratores, além de terem matado, a tiros, os cães das famílias. Sílvio Netto, da coordenação do MST, relata a agressão sofrida no local.

“Foi um dia vergonhoso para a história de Minas Gerais. Noventa e sete famílias foram expulsas e quatro acampamentos destruídos. Não temos como calcular a quantidade de lavouras que foram destruídas com fogo, com veneno e com maquinário. As famílias estão aterrorizadas. Campo do Meio está em estado e sítio, as famílias estão impedidas de circular no município. São três barreiras cercando o latifúndio. Um aparato policial com mais de 200 homens", conta.

Durante a ação, o sem terra José Inocêncio foi preso porque insistiu em recolher um saco de mandioca para levar antes que o trator da polícia destruísse o mandiocal.

O vereador de Campo do Meio, Camilo Lelis Fernandes tentou entrar em um dos acampamentos para acompanhar o despejo, mas foi impedido pelos PMs.

Reforma agrária

Sílvio Netto lamenta a produção perdida dos acampamentos justamente em um cenário de crise alimentar. Somente na área do Acampamento Tiradentes, os sem terra estavam na iminência de colher cerca de 1800 sacos de feijão, de acordo com um laudo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). De acordo com o integrante do MST, a ação é uma prova de que a reforma agrária foi abandonada no Brasil.

“A única saída para o conflito é a reforma agrária, a assinatura imediata do decreto de desapropriação por interesse social das terras da usina Ariadnópolis. Está na mão do governo Lula, da Casa Civil. O processo está aprovado jurídico e tecnicamente.
Só não faz se não quiser", declara.

Apoio

Em nota, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Minas Gerais repudiou a ação policial, classificada pela entidade como "covarde" e "contra a dignidade humana".

"Nós da Comissão Pastoral da Terra hipotecamos nossa irrestrita solidariedade aos Sem Terra do MST e, com indignação, repudiamos mais esta covarde ação contra a dignidade de centenas de camponeses empobrecidos. Lamentamos com veemência a truculência da Polícia e condenamos o Presidente Lula como o grande irresponsável pela não realização da Reforma agrária no nosso País", afirma o texto.

Muitos dos sem terra estavam acampados no local há 11 anos, e esse já é o sexto despejo que enfrentam. As famílias despejadas foram recebidas nos outros acampamentos do MST na área ou em assentamentos. Cerca de 40 famílias foram para o Assentamento 1º do Sul, na ex-fazenda Jatobá.  Depois de ser desapropriada, a área se tornou um exemplo da reforma agrária, produzindo 1600 sacas de café por ano, 1200 litros de leite por dia e gerando mais de 180 empregos diretos.

(Com informações da Radioagência NP e da CPT-MG)

http://www3.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/familias-sao-despejadas-com-truculencia-em-minas-gerais

https://www.alainet.org/pt/active/30457
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