Em Brasília, movimentos lutam pela saída de Arruda

10/12/2009
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Divulgação de esquema de propinas motiva diversas manifestações de rua e estudantes ocupam Câmara por seis dias
 
Movimentos sociais promoveram uma série de ações nas ruas de Brasília durante os primeiros dias deste mês. Eles partem da compreensão de que sem luta social será impossível concretizar o impeachment do governador do Distrito Federal (DF) José Roberto Arruda (DEM) e de seu vice, Paulo Octávio (DEM), assim como a cassação de dez deputados distritais. Junto com empresários, sete secretários de estado e outros quatro ex-funcionários do alto escalão do governo do DF, eles estão envolvidos num esquema de pagamento de propina revelado pela Polícia Federal no dia 27 de novembro.
 
Rejane Pitanga, presidente da Central Única dos Trabalhadores do Distrito federal (CUT-DF), conta que, logo após a divulgação das denúncias, foi realizada uma plenária e lançado o Movimento contra a Corrupção. Deste, fazem parte, além da CUT, outras centrais como a CTB, a CGTB e a Conlutas, nove partidos políticos e estudantes, entre outras organizações. Até o dia 8, a articulação havia feito panfletagens com carros de som nas principais feiras e na rodoviária do Distrito Federal e preparava um grande ato para o dia 9.
 
Rejane lembra que foi com a população rua fazendo pressão “que a gente mudou o cenário do país no processo de impeachment do [Fernando] Collor, na luta pelas Diretas Já, na luta contra a ditadura, enfim, é mobilização social, é nisso que a gente está investindo no movimento contra a corrupção”.
 
Mas a mobilização que provocou maior repercussão foi a ocupação, realizada entre os dias 2 e 8, da Câmara Legislativa do DF encampada por estudantes. Paíque Duque Lima, graduado recentemente em antropologia e membro da comissão de comunicação do Movimento Fora Arruda e Toda a Máfia (que organizou a ação), avalia que a ocupação gerou um tensionamento que fez diversos setores sociais se posicionarem a respeito do escândalos.
 
Segundo o movimento, Arruda pressionou a juíza Junia de Souza Antunes a executar a reintegração de posse da Câmara. O governador ainda teria pago e pressionado funcionários comissariados a irem ao parlamento no dia 8 para hostilizar a militância e defendê-lo. Paíque acredita que isso faz parte do balanço positivo da ocupação. “Primeiro, ficou claro que a Câmara é inimiga. Além disso, o Arruda se mobilizou para tirar a gente de lá, ele se mostrou, teve que se expor. É uma ação de quem está desesperado, está jogando com as últimas forças que tem e que são ilegais”, observa.
 
A corrupção
 
O escândalo envolvendo os principais nomes da administração do DF e seus aliados começou a ser revelado no dia 27 de novembro, quando a PF deflagrou a operação Caixa de Pandora. Nos dias seguintes, sucederam-se vídeos do governador, secretários e deputados distritais recebendo dinheiro no gabinete do secretário de Relações Institucionais, delegado Durval Barbosa. O ex-policial era alvo de investigação em 37 processos e, através da delação premiada, aceitou filmar seus “aliados” em troca de uma pena mais branda.
 
Junto às imagens, a PF apreendeu documentos, notas fiscais, anotações, planilhas e mais de R$ 650 mil que expõem uma quadrilha, supostamente chefiada pelo próprio Arruda, de distribuição de propinas destinadas à aprovação de projetos importantes na Câmara e favorecimento em licitações.
 
Desde Roriz
 
Para Rejane, o esquema revelado pela PF é a continuação da iniciada na gestão anterior, de Joaquim Roriz (1999-2006, quando era do PMDB. Em 2009, ele se filiou ao PSC para concorrer novamente ao governo distrital). “Ele iniciou isso. Loteou Brasília, fez um governo populista, clientelista, fisiológico, corrupto”, critica.
 
Paíque acrescenta que a “máfia” de Arruda representa um novo grupo, criado pela burguesia imobiliária local, técnicos administrativos e agentes neoliberais, responsáveis pela captação de recursos externos. Roriz teria um estilo mais coronelista e truculento, enquanto Arruda acabou eleito com base na proposta de “modernização” do Estado em direção a um modelo mais “enxuto”.
 
“Ele seguiu a cartilha neoliberal: estabelece um processo de corrupção no estado para poder implementar seus projetos políticos. Assim, a corrupção, o dinheiro, foi para aprovar o Plano Diretor de Ordenamento Territorial, que é para abrir toda a cidade para a especulação imobiliária. 'Coincidentemente', o vice-governador é um dos maiores empresários imobiliários da região. E assim foi com outros projetos, [a construção do bairro de alto padrão] Setor Nordeste, a política dos transportes etc”, analisa Paíque.
 
Fonte: Brasil de Fato
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