Junho: Querétaro a sexta estela (O PAN e o México da mudança. Parte 1: sim, meu querido, aqui dizer "um imbecil de direita" é uma redundância, e dizer "um corrupto de direita" é um projeto de país)

11/02/2003
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Para chegar na metade do calendário, a mão e o olhar se unem. Juntos contemplam um mês, JUNHO, e uma palavra, QUERÉTARO. Querétaro. Quase um milhão e meio de habitantes em 2000, segundo o INEGI e mais de 25 mil maiores de cinco anos que falam línguas indígenas. Indígenas otomíes-hñahñus, mazahuas, nahuas, pames, huastecos, zapotecos, totonacas e purépechas sobrevivem em terras onde quem manda são o racismo e a prepotência e onde a estupidez tem status de programa de governo. Junho. Querétaro. A pedra é de novo uma nova nuvem branca. Voa alto. Não por temer a estupidez canina que despacha no palácio do governo. É para melhor apreciar o que acontece aqui. Querétaro é um dos melhores exemplos do que o Partido de Ação Nacional pode fazer... bom, é melhor dizer "desfazer", como governo. A nuvem chega até à chamada "Serra Gorda". De cima, localiza Toluquilla, chamado também de "Pico do Jorobado", e repousa num dos dois jogos de bola que aí estão. Do mesmo modo que em Ranas, perto daqui, as terras do Pico do Jorobado abundam em sulfureto vermelho de mercúrio ou cinébrio, que naqueles tempos era muito apreciado na América Central porque era um símbolo de vida e era chamado "sangue da terra". Daqui a nuvem pode ver a comunidade camponesa "La Veracruz", que a cada 15 dias envia uma comissão à cidade capital do estado, Querétaro, para dar acompanhamento jurídico a uma ação que tem contra o INAH. A razão é que o INAH expropriou vários hectares destes queretanos e pretende pagá-los na base de 20 centavos por hectare. Sim, 20 centavos. O leitor trate de encontrar como escrever o símbolo dos centavos no computador ou numa máquina de escrever (inclusive, haverá quem me lembre como se escreve a mão", ou, melhor ainda, trate de viver com uma indenização de 20 centavos. Além disso, os camponeses dos arredores de Toluquilla reivindicam que sejam eles mesmos a trabalharem, explorarem e conservarem esta região. Mas Querétaro, a capital, é um lugar onde governam a intolerância e o racismo. Em outubro do ano passado, integrantes do grupo Kurinit denunciaram perante a Comissão Estadual de Direitos Humanos que o delegado do Centro Histórico do município de Querétaro, Francisco Javier Contreras Rancel, proibiu-lhes de praticar suas danças em praça pública com o argumento de que "davam uma aparência ruim à imagem urbana" da capital. Também os grupos punks são hostilizados pelo "bom governo" queretano. Mas esta turma passa muito longe de ficar intimidada, continua em sua cultura e resistência, e se vincula a outros movimentos e grupos. É que Querétaro não é só a imagem patética do PAN no governo, é também, e sobretudo, a imagem esperançosa de uma resistência que tem muitos nomes e rostos: União das Mulheres Indígenas e Camponesas de Querétaro (UMIC), Unidade Cívica Felipe Carrillo Puerto, Associação Nacional das Mulheres Organizadas em Rede de Querétaro, Associação Nacional dos Produtores de Bovinos e Caprinos Delegacia de Querétaro, Frente Independente das Organizações Sociais, Associação Queretana Independente de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos AC. Nesta cidade há uma colônia chamada "Nueva Realidad". A colônia indígena é conhecida porque as manifestações e a luta por estas terras foram lideradas pelos membros do conselho indígena da Frente Independente de Organizações Sociais (FIOS na época, hoje FIOZ), apesar da detenção de seus líderes em 1998, e das tentativas de divisão, em "Nueva Realidad" vem se tentando o resgate de manifestações culturais que ainda acontecem em suas comunidades de origem (município de Amealco). Desta forma, são incentivados grupos que têm a ver com o resgate das festas, dos trajes, da música e, com os pesquisadores da Universidade Autônoma de Querétaro, da preservação e divulgação da língua oral e escrita. A falta de atenção para com as demandas sociais e o caráter repressor cada vez mais descarado do governo têm propiciado a iniciativa de uma rede incipiente de organizações e grupos da sociedade civil que giram em torno dos direitos humanos. Faz- se necessário enfrentar o elevado grau de repressão e impunidade das várias autoridades e corpos policiais. Este estado descaradamente repressor e cínico não se dirige somente às organizações ou grupos independentes, também os membros dos partidos de oposição têm apresentado denúncias. Ordens de prisão guardadas para amedrontar, acompanhamento de atividades públicas e até privadas, ameaças telefônicas, danos a casas e carros, retenção de recursos e falta de verbas (como no caso da Universidade Autônoma de Querétaro), "coças" estimuladas pelas próprias autoridades, são alguns exemplos do "estado de direito" promovido por Ação Nacional. Tanto entre os camponeses, como entre os operários, há um enorme descontentamento. A falta de incentivos e programas de auxílio à produção, a migração para os Estados Unidos, os altos índices de desemprego (negados pelos dados oficiais) e as poucas oportunidades de trabalho são uma constante. Além disso, a utilização dos programas de governos e de obras "entregues" a empresas de funcionários públicos ou familiares tem gerado mal-estar. Os meios de comunicação e os deputados que têm feito as denúncias são cooptados ou ameaçados. São fortes os rumores sobre o envio de cheques do governador à Assembléia Legislativa para bloquear a informação ou aprovar iniciativas do executivo. Enquanto isso, no Centro de Readaptação Social (CERESO) de San José el Alto, dois zapatistas civis, Sergio Gerónimo Sánchez e Anselmo Robles, transformam sua prisão em resistência. Estes dois homens só continuam presos pela soberba do cachorro que late no palácio do governo. A nuvem sobe para apreciar melhor o que acontece na casa do Poder. Aí está a capital de Querétaro, governada pelo famoso Firuláis Loyola. A história deste recusado do elenco de atores do filme 101 Dálmatas ("é cinzento demais", disseram os produtores) é digna de constar na memória do Partido de Ação Nacional e em sua plataforma de governo. "(...) No processo [eleitoral] de 1997, o PAN aposta tudo em ganhar a capital do estado, pois considera inalcançável o cargo de governador. Por isso, para o município de Querétaro, apresenta o seu candidato mais forte, Francisco Garrido Patrón, e para o governo do estado lança alguém de pouca conta, um verdadeiro neófito nas questões políticas e pouco agraciado em inteligência e senso comum, Ignácio, Loyola Vera, engenheiro agrônomo saído do Tecnológico de Monterrey, e cujos laços políticos até o momento eram mais de corte priista do que panista, pois o próprio Loyola é casado com uma prima irmão de Fernando Ortiz Anara (que foi candidato pelo PRI ao governo do estado no mesmo pleito de Loyola) e, de acordo com alguns jornalistas, Ignácio Loyola militou numa organização priista durante a sua juventude. Passadas as eleições se divulgam os resultados e o PAN não ganha só a prefeitura de Querétaro voltando a ganhar a de San Juan Del Rio, como ganha também o governo do estado; o mais surpreso disso tudo, é o próprio Loyola..." (Rúben Lugo Sánchez, "Poder e Videocracia no México, o caso Querétaro". Terceiro Congresso Virtual de Antropologia 2002. "Cidade Arqueológica" www.naya.org.ar). O triunfo de Ação Nacional realmente mudou o cenário deste estado. Sim, agora Querétaro e San Juan del Rio estão cheios de outdoors anunciando os "grandes feitos" do PAN, ou seja, vasos de barro e cestos de lixo! As besteiras do Firuláis Loyola já são lendas de exportação. Em setembro de 2001, o "senhor governador" fez o que parecia impossível: surpreender o México e o mundo com uma descoberta que já é programa de governo nas administrações panistas. Demonstrando que é homem, perdão, cachorro de palavra, Loyola declarou, numa transmissão de rádio do programa "Avances", quanto segue: "Vou lembrar aos amigos que me ouvem, aos muitos jornalistas que me perguntaram sobre quanto ia ganhar no caso de chegar a ser governador, eu disse que iria ganhar 20 por cento mais do que estaria ganhando o diretor da empresa que melhor paga no estado e na verdade estava bem atrás. Mas pelo menos como último ponto eu vou cumprir este compromisso de campanha, e digo a vocês o tanto que seu amigo vai fazer, porque vou me desdobrar. Acredito que já cumpri e que demonstrei que posso ganhar, se um diretor de empresa ganha esta quantia, eu acredito que o governador deve ganhar mais como prometi na minha campanha". (Notimex, 24 de setembro de 2001). O Firuláis (que deveria estar num circo porque um cachorro que faz contas é sempre uma atração) fez seus cálculos e anunciou: 360 mil Pesos mensais. Condescendente, sublinhou: "360 mil Pesos, menos os descontos, provavelmente fique com uns 200 mil, mas também não é muito (...), nenhum outro político tem mais responsabilidade do que este servidor e há sim alguns que ganham mais e de mão cheia". "Ganham mais?" Quem escreve isso não é um cachorro, mas se arrisca a fazer contas: 200 mil Pesos mensais limpos, ao cambio de 10 Pesos por um dólar, são 20 mil dólares mensais, que somam algo em torno de 240 mil dólares por ano (sem contar adiantamentos, bonificações e sei lá eu quantas coisas mais, mas o Firuláis as conhece). No estudo "Os salários dos altos funcionários no México a partir de um quadro comparativo", dos pesquisadores do CIDE, Laura Carillo Anaya e Juan Pablo Guerrero A., aponta-se que, em 2002, o presidente dos Estados Unidos tinha um salário limpo de 243 mil e 600 dólares anuais. De tal forma que este é o tamanho do Loyola, que ganharia quase o mesmo tanto que Bush (creio eu que é por ter o mesmo coeficiente intelectual) e mais do que ganham juntos os presidentes de Argentina, Brasil, Chile e Espanha. A "modéstia" do Firuláis não pára por aí. Para um evento de 15 dias, Loyola gastou 63,9 milhões de Pesos na construção do "Ecocentro Expositor" (mais conhecido como "egocentro"). A licitação da obra fede. A Assembléia Legislativa detectou que a construção foi entregue a Oliver SA de CV sem concorrência alguma. Aos questionamentos, o Firuláis respondeu que foi pelo bem do povo. Na cidade de Querétaro, que em época de chuvas sofre inundações, o governo panista gastou 210 mil Pesos, mas não em melhorar a rede de esgoto, mas sim em comprar um veículo anfíbio que, obviamente, não serve pra nada (Cfr. Rúben Lugo Sánchez, Op. Cit.). Na capital do estado, se promove o "México da Mudança" que o PAN quer. A instalação de postos de controle policiais em pleno centro as cidade (violando a constituição que, oh que paradoxo!, foi aprovada aqui), junto com a exibição de policiais de "elite" em motocicletas e luxuosas patrulhas, que têm a nobre missão de cuidar de empresários e turistas, definem claramente o projeto panista de nação. Para ajudar a governar, nada como a família. O irmão do governador é sócio da filial local da TV Asteca e, com algumas rádios e alguns jornais, as "cachorradas" de Loyola são rapidamente ocultadas. Mas, ainda assim, há quem não se deixa controlar. A que segue é uma nota de Reforma, que valeu ao correspondente deste jornal o roubo do seu carro no interior de sua casa: "Suspeitam de desvio de recursos por parte de Loyola. Sublinham que o enriquecimento do atual governador de Querétaro é inexplicável. Por Fernando Paniagua/Grupo Reforma. Querétaro. México (30 de janeiro de 2003). O deputado estadual independente, Marco Antonio León Hernández, revelou que o governador Ignácio Loyola Vera comprou, para as obras de construção de sua casa, mármore importando da França a um custo de 6 milhões de Pesos, razão pela qual se suspeita de um provável enriquecimento ilícito. Entrevistado pelo noticiário local, Enlace, Leon Hernández garantiu (...): «Aí vai um dado preciso e concreto que tenho em minhas mãos e que a seu momento terei de dizer: nestes dias chegou pra ele da França um carregamento de mármore por uma quantia de 6 milhões de Pesos», disse". (Grupo Reforma. Serviço de Informação). E antes, em outubro, saiu a seguinte nota sobre uma espécie de castelo que ele constrói para si às escondidas: "À imagem e semelhança de Los Pinos,Loyola constrói uma casa. Francisco Flores Hernández, El Financiero, quarta-feira 2 de outubro. Com o objetivo de construir a sua casa de campo, o governador Ignácio Loyola Vera invadiu 20 hectares de terras ejidais na comunidade de Ajuchitlancito, no município de Pedro Escobedo, denunciaram ejidatários do lugar. Apesar da expropriação da qual foram objeto, os inconformes informaram que 20 ejidatários foram intimados pelo governador Ignácio Loyola Vera, sob a acusação de expropriarem 100 hectares de terreno. Em coletiva de imprensa, Bráulio Álvares Botello, a nome dos 216 ejidatários atingidos, mostrou documentos que confirmam a propriedade destes, relatou que apesar da inquietação dos moradores por estar sabendo da enorme casa a ser construída, não lhes foi permitido o acesso e pessoas não identificadas só os informaram que os terrenos supostamente invadidos pertencem ao governador Ignácio Loyola Vera". E isso não é tudo. Em julho de 2001, em meio ao grande estardalhaço pelo grupo de espionagem descoberto no estado do México, o Firuláis reconheceu que realizava, como parte da "segurança do estado", o mesmo tipo de espionagem. Diante das denúncias públicas, a PGR interveio intimando-o a depor e ao negar-se lhe enviarem um questionário que, de acordo com alguns meios de informação locais, ele respondeu por escrito. Até agora a PGR se negou a tornar públicas as respostas. Para resumir: Loyola é tão popular que, contra ele, há só oito processos políticos pendentes. O Firuláis é um fenômeno isolado em Ação Nacional? Parece que não. Seus atrevimentos de reizito e suas corruptelas se repetem em deputados, senadores, governadores e prefeitos deste partido político. Diego Fernández de Cevallos está aí para confirmá-lo. Todo o debate sobre o fato de que a luta no PAN é entre os doutrinários (seguidores de Manuel Gómez Morín) e os Bárbaros do Norte é uma farsa. Hoje, em Ação Nacional não há ninguém que realmente reivindique o pensamento de Gómez Morín. E depositaram o estudo e a sistematização do pensamento de Gómez Morín em Rodriguez Prats (senador plurinominal do PAN por Tabasco e artífice da manutenção do PRI no governo deste estado), que até 1993 foi dirigente do PRI no estado. Este senhor, conhecido pela total ausência de ideologia panista e que foi integrado às fileiras do PAN por Fernández de Cevallos, escreveu um libelo com o título: "A grande herança doutrinária do PAN". Ele é (supostamente) o encarregado de formar os quadros políticos do PAN no "ideário" de Gómez Morín. Tempos atrás, isso provocou o desgosto de José Angel Conchello, que saiu enojado de um destes cursos de "formação" repreendendo a direção panista por colocar um recém-chegado nesta tarefa. A única e verdadeira doutrina do PAN atual é a religião do poder e do dinheiro. Tem sido este o processo que veio se formando já há vários anos. Neste processo, uma pessoa tem sido chave: Diego Fernández de Cevallos. Ele tem conseguido, numa resposta da deusa Kali, ter seus braços colocados nos homens e mulheres do dinheiro, na classe política de todos os partidos, nos governadores de todos os partidos, nos setores fáticos da igreja, com seus congêneres, os chefes do narcotráfico, e, também, no interior do PAN. Diego Fernández de Cevallos (Cidade do México, 1942) começou sua carreira política vinculado ao grupo de extrema direita universitária, MURO, fundado por Abascal pai. Este grupo de inspiração fascista foi utilizado pelas autoridades universitárias, até antes de 1966, como instrumento de repressão e controle interno da universidade. Durante 1968, era dirigente da juventude panista e quis aparentar uma suposta proximidade ao movimento, que não foi além de algumas declarações. Quando Pablo Emilio Madero foi dirigente do PAN, Diego foi congelado e por alguns anos sua estrela se eclipsou. Foi resgatado por Luis H. Alvarez e à sua sombra começou a construir seu poder pessoal. Do ponto de vista pessoal, ele herda a carteira de clientes de Manuel Gómez Morín (todos homens muito poderosos). Aqui inicia uma relação com os donos do dinheiro que será sua plataforma de lançamento. Após um breve enfrentamento com Carlos Castillo Peraza, Cevallos se torna o chefe do PAN, controlando a parte fundamental da sua estrutura burocrática, com uma carteira de clientes que se aproveitam de informações privilegiadas para ganhar processos contra o Estado, com o controle de setores importantes dos senadores e deputados de outros partidos (não se deve esquecer que quando a contra-reforma indígena foi aprovada na base do "Fast Track", o deputado do PRI Rocha Cordeiro se enquadrou e disse aos panistas presentes: "Digam ao chefe Diego que está servido"). Os priistas já chamam Diego Fernández de Cevallos só de "Chefe". Nos círculos das procuradorias têm encontrado um apelido mais adequado para ele que, além do mais, o retrata melhor: La Coyota (apelido que ele deve detestar, pois sempre se deu ar de muito "machinho"). Alguns exemplos que evidenciam o tráfico de influências de La Coyota: o caso da empresa Del Valle que ganhou uma ação contra a Fazenda pelo pagamento do IVA, argumentando que o seu produto era um suco natural e que as frutas estavam isentas do IVA. O incrível é que a "justiça" obriga a Fazenda a devolver o IVA a dita empresa por vários anos. Mas acontece que este IVA não foi pago pela empresa, mas sim pelos consumidores, e, contudo, se decide devolver este dinheiro à empresa. Quem era o representante jurídico desta empresa? Diego Fernández de Cevallos. Quanto embolsou La Coyota? Cerca de um milhão e seiscentos mil Pesos. A família Ramos Millán ganha uma disputa de terras contra o Ministério da Reforma Agrária, o que significa que esta instância deve pagar uma quantia superior a todo o seu orçamento para o ano. Quem era o seu representante jurídico? Diego Fernández de Cevallos. Quanto para La Coyota? Um milhão, duzentos e catorze mil Pesos. Se somarmos a isso o que ele leva pelo resgate do banco Atlântico-Bital (uns 13 milhões de Pesos), teríamos que La Coyota, o "chefe" dos priistas, embolsou tranqüilamente mais de 15 milhões de Pesos. (Dados extraídos de "Dinheiro". Enrique Galván Ochoa. La Jornada, 12 de julho de 2002). Além disso, La Coyota Fernández de Cevallos comprou 20 hectares de terra localizados diante do Novo Aeroporto Intercontinental de Querétaro, que o seu cachorro, o Firuláis Loyola, constrói. Por estas terras, La Coyota pagou "somente" um milhão e quinhentos mil Pesos (Notimex, 2 de agosto de 2002), ou seja, algo assim como 75 mil Pesos por hectare (uma "pequena" diferença em relação aos 20 centavos por hectare que pagaram aos camponeses de Toluquilla, Querétaro). O Senhor dos Céus, Amado Carrillo, está internado no hospital Santa Elena. Supostamente morre nesta clínica depois de uma lipoaspiração. Quem é o representante jurídico deste hospital? Diego Fernández de Cevallos. Quanto levou pela "recomendação" e quanto pela "morte" do narcotraficante? È um mistério. O próprio chefe do narcotráfico foi velado numa funerária cujo representante jurídico é Fernando Gómez Mont (sócio e filho adotivo de Fernández de Cevallos). Alguns anos atrás, a PGR apontou que a Financiadora Anáhuac (naquela época, propriedade do filho de Miguel de la Madrid e de seu sobrinho) foi acusada de ser um lugar para a lavagem de dinheiro do narcotráfico. Seu representante jurídico? Diego Fernández de Cevallos. Estes são alguns dos "clientes" de La Coyota. Esta carteira de clientes tornou-o um dos homens mais ricos do México, sem que os refletores sejam apontados para a sua fortuna e suas falcatruas de advogado. De Carlos Salinas de Gortari em diante, parece que o objetivo de Fernández de Cevallos tem sido o de ser o segundo homem mais importante do país, sem ser presidente do México, ou seja, sem os incômodos que isso implica. La Coyota foi peça- chave para tirar a pressão social contra Salinas de Gortari, promovendo a queima das cédulas eleitorais de 1988; foi quem esboçou a idéia de que "Salinas era um presidente ilegítimo que poderia se legitimar com suas ações", ainda que tenha sido outro a expressá-la. Foi o encarregado de promover e votar todas as iniciativas políticas e econômicas do salinismo que desmantelaram a riqueza nacional e a entregaram nas mãos de um punhado de aventureiros que, da noite pro dia, se tornaram ultramilionários (todos clientes de La Coyota). Ao mesmo tempo, conseguiu introduzir vários de seus peões no poder priista, desta forma, Fernando Gómez Mont foi assessor de Ernesto Zedillo para a mudança na lei sobre todo o sistema judiciário, sobretudo no que diz respeito a aposentar uma boa parte dos velhos juízes da Suprema Corte de Justiça. A surpresa para os deputados e senadores do PAN foi que quando foram discutir a lei, do outro lado da mesa estava o seu correligionário, Gómez Mont. Quando foram se queixar com Fernández, este simplesmente sorriu disfarçadamente. Outro de seus peões, Fauzi Hamdan, também foi assessor de Zedillo, enquanto era deputado estadual do DF. Mais recentemente, veio à tona a importância que este indivíduo teve entre "os Amigos de Fox". A questão seria saber para quem ele trabalhou. Hoje em dia, ninguém, nem sequer o IFE, tem tanta informação sobre "os Amigos de Fox" como Fernández de Cevallos. Daí a reação virulenta de Lino Korrodi. Ele soube que Diego soube e sabe que sabe e não quer ser o bode expiatório dos conflitos (Tragédias? Farsas?) palacianos. Um palpite gratuito ao IFE e à PGR: investiguem a relação Hamdan- Fernández de Cevallos e a relacionem com "os Amigos de Fox" (aconselho o uso e máscaras, pois o que encontrarão não cheirará nada bem). Não seria arriscado pensar que Fernández de Cevallos quer reinstalar no país uma reedição do Callismo (ou "cevallismo"). Um poder fático atrás do trono. Um poder a serviço dos homens e das mulheres do dinheiro, com uma corte que o adula ou que, fingindo-se oposição, não é outra coisa a não ser o seu bobo- da-corte. Em última instância, este indivíduo é o retrato vivo e fiel do sistema político mexicano. Se numa época foi isso que significou Saturnino Cedillo, em seguida Gonzalo N. dos Santos, posteriormente Rúben Figueroa e Carlos Hank González, hoje, de colarinhos brancos e ternos Armani, em seu Jaguar de bancos de couro, o sistema político mexicano é desenhado por um indivíduo de baixa qualidade chamado: Diego Fernández de Cevallos, vulgo La Coyota.I O Firuláis Loyola e La Coyota Fernández de Cevallos não são todo o PAN. Mas são os mais escandalosos rebentos da amostra que Ação Nacional oferece como programa de governo. Porque a corrupção e a imbecilidade não geram só dinheiro para aqueles que se "doutoram" neles, mas também se tornam uma forma de fazer política, a do "governo da mudança". Esgrimindo uma estúpida intolerância, de mãos dadas com a direita católica e com argumentos "filosóficos" de revista de salão de beleza, o PAN já é governo. Carlos Monsivais, talvez o analista mais lúcido e contundente do avanço da direita no México, no deserto (para a crítica política) da mídia de 2000, sobre o que seria do país com ele, então, "governo da vitória cultural" (ou, também, "governo de centro-esquerda" para os promotores do "voto útil"), e, hoje, "governo da mudança". Com Jenaro Villamil, na já desaparecida coluna Por mi madre, bohemios, Monsivais dissecava naquela época o cadáver do sistema político mexicano e o que via naquele tempo é agora terror quotidiano nas terras mexicanas. A seguir, alguns exemplos do que encontrou nos dias da euforia da "mudança": - "Convidarei para a minha equipe de trabalho as melhores pessoas de Aguascalientes. Não me importa de que partido sejam, não me importa de que religião sejam, só não vamos convidar bichas". Prefeito eleito de Aguascalientes, Luis Armando Reynoso Fermat, dias antes de tomar posse em 1998. Citado pelo líder priista Armand López Campa. Nota de Mario Luis Ramos Rocha, Página 24, 26 de agosto de 2000. - "Quem é o culpado de um estupro? Culpada é a criança que vai nascer? Então por que vão matá-la? Que capem o estuprador". (Mas se as medidas mais eficazes forem as preventivas, que o façam antes que ele estupre alguém). Bispo Onésimo Cepeda. Nota de Diego Padillo, Unomásuno, 7 de setembro de 2000. - "As autoridades ligadas à educação do governo panista da Baixa Califórnia aprovaram um regulamento que, entre outras coisas, proíbe, nas escolas secundárias, o uso de maquiagem, minissaias ou sapatos com saltos modernos, para evitar a depravação moral (claro, o salto obriga ao meneio, o meneio provoca o tenteio, o tenteio desemboca no ateu. A R.). Os garotos não podem se apresentar de cabelo cumprido, já que isso infringe o princípio formador dos bons hábitos da escola secundária". (Companheiros do voto útil, a história lhes dá razão antes do tempo). Nota de Alberto Cornejo, La Jornada 21 de setembro de 2000). - "A escultura de Sebastián para receber o novo milênio e fomentar a arte urbana (Sic, que se congela em pose de admiração) é tão importante como a água potável numa colônia" (Menos, porque a água potável carece de forma artística durável). Governador do PAN Eduardo Rosales, num debate sobre o orçamento do monumento de Sebastián, citado por Juan José Doñan, Público, 30 de setembro de 2000. De início, segundo o PAN de Guadalajara, o projeto não custaria um centavo ao município, pois seria bancado pelos patrocinadores, e seria através de concurso. Em seguida, se notificou que seria entregue diretamente a Sebastián por "seu grande prestígio" e porque "não ia cobrar pelo seu trabalho" e se não havia sido levada em consideração a opinião dos moradores de Guadalajara era porque "a autoridade não pode consultar cada cidadão". Até o momento, o custo atinge quase os 21 milhões de Pesos, bancados quase integralmente pelo governo. - Do repertório do governador Fernando Canales Clariond (hoje secretário da Economia): "Os incêndios continuam. Não sou bombeiro. (Diante da explosão da Cydsa com mais de 60 pessoas feridas). As mulheres e as crianças se envenenaram com os gases, se envenenaram sozinhas. Não vou e ponto. Não sei consertar os tanques, o problema é deles, não meu, não sou um perito, não se trata de fazer um espetáculo. Os habitantes de Nuevo León não precisam usar o Viagra, há bastante vigor neste sentido". - "A primeira coisa é entender que a organização de um governo ou de uma série de instituições nada mais é a não ser um meio para obter um fim. E, além do mais, era evidente que os ajustes são uma necessidade imperiosa. É como se você tivesse um fusca e agora o que você precisa é de uma Ferrari ou se o seu carro tem pneus normais e agora você entra num terreno muito acidentado. Claro que há que se fazer ajustes!... (Mas não recomendamos fazer algo indevido para conseguir um fusca. A prática R.). Neste trabalho, você precisa entender que você não é uma flor e sim um vaso (Sic, que se multiplica até a pós-graduação). O vaso não deve ser mais bonito do que a flor. Por isso, tenho que me concentrar e estar aberto a ouvir, ouvir e ouvir. Quando você dá uma opinião, é porque já ouviu todo mundo". (Sic que vá para o otorino). Senhor Ramón Muñoz, responsável pela consulta nacional para escolher os melhores homens de Vicente Fox. Entrevista de Alberto Aguirre, Milênio Diário, 13 de novembro de 2000. - "Antes de negociar o aumento dos mínimos, deve-se definir o modelo de país que desejamos (Convencida pela surpresa, só neste instante a R. se dá conta de que o governo do presidente Fox não definiu o modelo de país que desejamos. E, por outro lado, ainda não está aposentada a Constituição da República que, em seu artigo 123 diz alguma coisas sobre os salários). Se quiserem altos índices de inflação, voltemos ao velho esquema de oferecer aumentos de emergência, aumentos loucos ao extremo (De acordo da R.: melhor promovermos reduções sensatas para incutir respeito na escassez patriótica), mas este caminho já mostrou o seu fracasso". Ministro do Trabalho, Carlos Abascal. Nota de Armando Flores, Reforma, 30 de novembro de 2000. Há mais coisas do PAN, muito mais... mas a nuvem já levanta de novo seu branco vôo e, levada por um vento que canta com José Alfredo Jiménez "Fomos nuvem que o vento separou / fomos pedras que sempre se chocaram / gotas d'água que o sol secou / bebedeiras que não terminaram", entra em julho e vá para Guanajuato... Das montanhas do sudeste mexicano. Subcomandante Insurgente Marcos. México, janeiro de 2003
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