Julho: Guanajuato, a sétima estela. (O PAN e o México da mudança, parte 2: o problema de privatizar a História Nacional é que ela é feita por verdadeiros "hereges" - que é como a direita no governo chama os rebeldes. Ou, se você quiser ser escolhido

12/02/2003
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Já na segunda metade do ano é o olhar que se adianta. Atrás dele vai a mão para acompanhar JULHO e fazer caminhar assim um apalavra: GUANAJUATO. Guanajuato. Mais de 4 milhões e meio de habitantes (pelos dados do INEGI de 2000) dos quais mais de 10 mil são indígenas: chichimecas, otomies, mazahuas, nahuas e purépechas. Cantarolando uma canção de José Alfredo, a nuvem-pedra entra nestes solos que viram nascer a guerra pela Independência do México diante da Coroa Espanhola, e que hoje são o campo de testes do projeto de ação impulsionado pelo casamento desajustado que governa o país (estou me referindo à relação PAN-Fox, não sejam maldosos). Os índices de pobreza em Guanajuato não são muito diferentes daqueles dos demais estados. De acordo com o censo de 2000, 54,01% da população vivem no nível da pobreza e 22,79% na pobreza extrema, ou seja, 76,80% são pobres. Dos trabalhadores, 47,29% vivem com menos de dois salários mínimos. No topo da pirâmide, 3,53% da população vive com mais de 10 salários mínimos. O tempo médio de estudo é de 6,6 [anos], abaixo do já baixo nível nacional de 7,7. No âmbito universitário a situação é mais patética, somente 3,72% dos homens e 3,31% das mulheres têm acesso a estudos superiores, porcentagem, mais uma vez, inferior aos já baixos índices nacionais de 5,78% e 5,95%. No campo do atendimento [à população], a situação é extremamente grave: 76,31% estão sem assistência, 82,59% não têm serviços médicos e 79,30 % não recebem as gratificações de final de ano. A maioria das comunidades indígenas chichimecas vive nos municípios mais pobres. Por exemplo, em Xichú, vivem 11.323 pessoas; destas, 25,73% são analfabetas; 59% da população maior de 15 anos não terminaram o primário; e as casas sem esgoto representam 65,75% do total. No meio rural e nas colônias da periferia das cidades, o povo mora em condições muito deploráveis, carece de casas e de todos os serviços. Temos o caso de León, que tem ao redor de 200 colônias marginalizadas. Situação semelhante se apresenta em Celaya e Irapuato. O desemprego está avançando muito nas micro e pequenas empresas, e em todas as frentes de trabalho onde, com freqüência, há corte de pessoal. Um exemplo é a indústria do couro e do calçado em León que é a principal fonte de trabalho, e que está em declínio pela importação de sapatos, sobretudo, da China. Naturalmente, estas condições motivam a rebeldia. Para enfrentá-la, ao longo de 2002, foi implantado no Estado o programa "Tolerância Zero" que reúne 9 órgãos policiais e agride violentamente os cidadãos. Em León, jovens punks, grafiteiros, skatos e outros se mobilizaram em protestos pacíficos e foram brutalmente reprimidos pela polícia em julho do ano passado. Em Celaya também houve protestos contra o programa que prende e ficha jovens por sua forma de vestir. Guanajuato. Berço da Independência. Ansiosa de aprender história, a nuvem pousa sobre San Miguel de Allende, justo na ponta da catedral que, dizem, um pedreiro mexicano construiu copiando um postal da catedral de Colônia, Alemanha. Atônita, a nuvem se faz pedra e, rolando, descobre que em 20 de setembro de 1810, Miguel Hidalgo e suas tropas acamparam... no saguão do Hotel Real de Minas! Percorrendo as ruas, percebe que a casa onde Bustamante nasceu é uma agência bancária do Serfin, a casa de Ignácio Allende é um cinema, e a casa onde conspiraram os insurgentes daqueles tempos é propriedade privada e nela se vendem sorvetes. Neste lugar, uma foto na parede mostra Vicente Fox ao lado do proprietário estrangeiro da sorvetes Dolphy. Sob o solo desta loja estrangeira se forjou a independência do México. Aqui, em San Miguel de Allende, se formou o primeiro núcleo do México Independente: hoje tem uma população de mais de 5 mil norte-americanos. Na rua, o vento brinca com o jornal. Detém-se por um instante e dá pra ler: "Conhecemos e entendemos de negócios, sabemos o que os investidores querem. Vamos nos assegurar que tenham segurança e certeza... Seremos um governo democrático e comprometido com os negócios" (esta é uma nova e vibrante definição da República na fé do Sic); um governo que, à diferença do anterior (Sic que se agarra às últimas semanas de vida) sabe que os empregos e o crescimento econômico são proporcionados pelos empresários e não pelo governo" (Tese nova e compartilhada que tira a última razão de ser dos operários, dos camponeses, das empresas estatais e das demais minúcias). Presidente eleito Vicente Fox, diante dos empresários franceses. J. M. Venegas, La Jornada, 03/10/2000. (Em "Por mi madre, Bohemios", Monsivais Carlos e Villamil Jenaro). E, mais adiante... "Podemos trabalhar juntos para criar a próxima história de sucesso do mundo, sei que um empreendedor pensa diferente... venham nos visitar para fazer negócios no novo México". Presidente eleito Vicente Fox a um grupo de empresários da Global Fortune. Nota de Juan Manuel Venegas, La Jornada, 13/10/2000. (Em "Por mi madre, Bohemios"). Este é o projeto político do PAN e de Vicente Fox: transformar a nação mexicana em negócio com franquias em oferta de temporada. Um momento! Será que o PAN e Vicente Fox não estão brigados? Não há um enfrentamento entre Fox e La Coyota? Sim e não. O jornalista Jesus Ramírez Cuevas, do La Jornada, por ocasião das eleições internas do PAN para escolher o seu presidente (no início de 2002, ganhou Luis Felipe Bravo Mena), realizou um estudo sobre este partido (cfr. Masionare, suplemento do La Jornada, em fevereiro- março deste ano). As conclusões da análise revelaram algo fundamental: "No PAN não há disputa ideológica,os diferentes grupos que integram o branco-azul partilham o mesmo projeto econômico, político, social e cultural. A dividi-los, são os diferentes interesses políticos e econômicos". Não só: Soledad Loaeza, pesquisadora do Colégio do México e especialista no Partido de Ação Nacional, declarou: "a maioria dos funcionários de gabinete foi escolhida por suas relações com as organizações religiosas que integram parte da elite do presidente Fox. Outros foram escolhidos por aqueles despachos de escolha de altos executivos (que, com certeza, são reprovados), estas pessoas não se identificam nem com o governo federal, nem com o PAN. Tenho a impressão - continua - de que os Legionários de Cristo e o Opus Dei são ordens religiosas que neste momento têm muita influência no gabinete. São redes muito poderosas no interior do governo e que estão fora do controle do partido. E isso irrita os panistas. São grupos de pressão que têm conseguido se impor ao governo de forma muito eficaz". Mais adiante assinala: "O fato do recrutamento de funcionários não ser feito através do PAN, mas ser assunto destas redes religiosas, acredito que é um fator que dificulta as relações com o partido. Estes grupos religiosos, que têm uma força incrível, têm substituído a meritocracia no interior do governo". Ramirez Cuevas, J. Op. Cit.). Se for assim, então a disputa de Fox com La Coyota e, na realidade, uma luta entre os setores mais reacionários da igreja católica, de um lado, e o narcotráfico de outro. O bando de La Coyota tem um duplo interesse nesta luta. Além de conseguir melhores posições (e vantagens para seus "clientes"), o PAN trata desesperadamente de fazer com que a queda da popularidade de Fox não o arraste na próxima eleição federal (um ano depois daquele 2 de julho da "mudança", o PAN havia perdido um milhão de votos). Como se à Ação Nacional faltassem "argumentos" (na forma de deputados, senadores, prefeitos, governadores e ministros) para convencer os eleitores a NÃO votar neste partido. Mmmh. A direita católica. Desenvolvimento Humano Integral e de Ação Cidadã (DHIAC), um dos tentáculos do Opus Dei, "colou" no interior do PAN pessoas como Felipe Bravo Mena (um dos peões de La Coyota e presidente de Ação Nacional). E os Legionários de Cristo, do pedófilo Maciel, estão ainda mais em cima, perto, muito perto de Vicente Fox. O afã da direita católica para apoderar-se do poder não é novo. Antes havia sido mantido à distância por um princípio da República: o Estado leigo. Mas, como muitos outros princípios, o laicismo do Estado mexicano não passa de uma piada. "Na colônia FAMA II, do núcleo panista de Santa Catarina se batizou (no próprio sentido da palavra) uma praça pública com o nome de Sagrado Coração... No município de Bustamante, Nuevo León, o prefeito panista decidiu que na praça principal, nu lugar da estátua de Juarez, ficasse a escultura do arcanjo São Miguel, inaugurada pelo governador. O prefeito de Bustamante, Jorge Santos Gutiérrez, ponderou que todo aquele que for contrário à colocação do arcanjo São Miguel no lugar de Benito Juarez, deveria ser preso...". No Diário de Monterrey, 8 de setembro de 2000. (Em "Por mi madre, Bohemios"). "- O PAN dará espaço aos grupos conservadores? - Não, aqui não lhes daremos espaço. Este não é um partido corporativo (que bom que esclarece isso. A R.). É um partido de cidadãos que respeitam seus estatutos e definições. - Mas estes grupos não estão cobrando uma presença maior? - Aqui temos um sentimento institucional forte. O que acontece em outras organizações não nos interessa (Inclusive, veja, até alguns dias atrás não sabíamos da existência do PRI. A acometida R.). Aqui não há grupos. O que ocorre no PAN é que os homens se incorporam de boa fé (as mulheres é que são malvadas. A R.). O Opus Dei e os Legionários de Cristo têm outro objetivo na vida, não são um partido político! (Seu outro objetivo é esse voto de pobreza? A ignorante R.). - Não está na hora de Ação Nacional se separar destes grupos? - É o que estou fazendo nestes momentos! Dizer que o PAN é uma coisa e estes grupos são outra coisa. (Ou seja, que não são o mesmo. A R.). - Então o Partido de Ação Nacional marca posição? - Não estamos marcando posição, somos um partido político de cidadãos, não de corporações (A R. lembra a demarcação de momentos atrás, e se separa de sua memória). Se vão me dizer que algumas pessoas integram o Opus Dei, pois então, estas são decisões que estão além de nós, porque a pessoa tem direito de se envolver nos assuntos que quiser, mas aqui em Ação Nacional temos uma doutrina política, definições que são respeitadas e cumpridas" (Não é pra atrapalhar, mas não teria sido mais fácil responde a alguma pergunta seja lá qual fosse?). Jorge Ocejo Moreno, Secretário Geral do PAN. La Jornada, 31/08/2000. (Em "Por mi madre, Bohemios") "Algumas pessoas"? Dê uma olhada ao gabinete (ou a suas declarações, daria pra rir não fosse pelo fato de serem governo), e à belicosidade de grupos que brilham por sua estupidez, ou seja, por seu direitismo. Além da senhora Marta Sahagún de Fox (a mesma que, sendo ainda porta-voz, declarou que no México não se vai permitir a não impunidade) e de Carlos Abascal (este Ministro do Trabalho que acha tempo para repartir bênçãos), há outras personagens igualmente assustadoras: Santiago Creel,, mais conhecido como o "psicopata mexicano" (em honra ao tema do filme "psicopata americano", que conta os sonhos-realidades de um Yuppie sedento de sangue). O senhor Creel mantém na prisão dois jovens estudantes, os irmãos Cereso, injustamente acusados das bombas feitas explodir nas agências bancárias. Estes jovens estão presos só para que o "Ministro Armani" (como é conhecido nas colunas sociais) possa se olhar no espelho e dizer "Como você é mau!", e possa ter argumentos melhores para convencer os senhores do dinheiro de que seria um bom presidente. Julio Frenk, aliás o "Doutor Não". Promovia sua candidatura para dirigir a Organização Mundial da Saúde com cartões de visita manchados de sangue das crianças de Comitán, Chiapas. Derbez, aliás "who?". Está no Ministério das Relações Exteriores porque Jorge Castañeda decidiu começar já sua campanha presidencial. Josefina Vázquez Mota, conhecida também como "a viúva alegre". É um dos melhores exemplos de que, para ser membro do gabinete, a inteligência não é necessária. E tem mais, atrapalha (a inteligência, não a senhora Vázquez Mota). Mostrando seus conhecimentos de dialética, a Ministra do Desenvolvimento Social declarou que "pobreza e dignidade humana se contrapõem". De tal forma que os mexicanos que são pobres e dignos (como os indígenas) não existem. E outros e outras que povoam de declarações, ineficácia e estupidez o programa de governo de Vicente Fox e do Partido de Ação Nacional. O que? Você se sente enganado pelo governo da "mudança"? Aqui vão dois comprimidos de memória (tome um para dormir e outro para acordar): "Os grupos com rendas menores têm capital, mas capital morto (Serão as galinhas enterradas nos pátios? A R), capital que serve só em sua dimensão física (Sic que dilapida sua garantia simbólica), capital que não pode ser usado como garantia para empréstimos ou como contrapartida de um investimento (dessa forma não concedem empréstimos às mãos de obra? A incrédula R.)... 6,6 milhões de micro negócios e um capital que supera 30 vezes o investimento estrangeiro direto que recebemos a cada ano no país, representa grandes oportunidades para o nosso desenvolvimento enquanto nação. (Agora não falta mais nada para convencer as grandes holding a fazer um quarto pequeno para os micro negócios. E Errezinha). Desse jeito, os ativos acumulados com grande esforço pela grande maioria dos mexicanos e mexicanas continuarão tendo um uso limitado. Continuarão sendo capital morto (Que revelação! Desse jeito o país se integra em sua maior parte com gente que tem ativos, mas com capital morto. Os potentados que nadam na miséria. A R.). Proponho-me a reformar o sistema legal que tem sido hostil aos pobres, que não lhes permite capitalizar-se e participar da economia, dos mercados e dos negócios" (Assim que é o sistema legal, a Constituição da República pra começar, o agente causador da pobreza. Pois, suprima as leis, já). Presidente (então) eleito Vicente Fox. Nota de Daniel Moreno, reforma, 16/10/2000. (Em "Por mi madre, Bohemios). "(Aos professores de Chihuahua que reivindicavam o aumento dos salários com o grito "Hoje! Hoje! Hoje!") Hoje sim está difícil!". Presidente Vicente Fox, La Jornada, 14 de dezembro de 2000. (Em "Por mi madre, Bohemios"). E, já enfileirado, vai outro comprimido de memória para o Caribe: "Conheço ele (Vicente Fox); durante sete horas, numa madrugada, falei com ele sobre ecologia, sobre o estado de Guanajuato. (Se usamos como medida os 15 minutos que o presidente eleito levará para resolver a questão de Chiapas, isso lhe deu tempo para enfrentar com sucesso 28 problemas graves. A R.). Costumo conversar com os de esquerda e de direita; não tenho ido mal nas relações com os governos conservadores e de esquerda". Fidel Castro. El Universal, 31/10/2000. (Em "Por mi madre, Bohemios"). (Sublinhado pela nuvem-pedra, que agora tem sempre um gravador ao alcance da mão - afinal se aprende). "Tudo é Guanajuato", teria dito Medina Plascencia antes de perder as eleições internas para presidir o PAN. Se for assim, então, "Tudo é uma luta". De um lado, aqueles que querem reproduzir o modelo de exploração, repressão e intolerância de Guanajuato em todo o país; e, de outro, aqueles que resistem a ele, lutam e se mobilizam, por exemplo, em... Salamanca. Em Salamanca, toda a água está contaminada por arsênico, hidrocarbonatos, benzeno, enxofre, mercúrio, toxateno, DDT, malation, paration, etc. Esta água é utilizada no consumo doméstico. Os principais contaminadores são a Pemex e a empresa Tekchem. O governo municipal não preparou um projeto para trazer água de outros lugares, e já houve mortes por câncer. A Pemex começou o projeto Coraleros para trazer água da comunidade rural de Coraleros (cerca de 20 Km da cidade de Salamanca). Contudo, o projeto não foi concluído, dizem, porque acabaram os recursos. Contudo, a Pemex apoiou financeiramente o Projeto "Adote uma Obra de Arte". Graças a ela, foi restaurado o antigo convento de San Juan e foi transformado no Centro Nacional de Artes, inaugurado pelos reizitos de Espanha, Fox, Martinha, pelo governador e autoridades municipais, em outubro de 2002. A organização Dedicação ao Meio-Ambiente e ao Melhoramento Ecológico (DAME A.C.) luta contra a contaminação de empresas como a Tekchem, contra a lei de Tolerância Zero (se alguém trafega após às 10.00 hs. da noite pode ser detido se a roupa não estiver de acordo com os critérios das autoridades). No dia primeiro de janeiro deste ano, celebrando os nove anos do levante zapatista e os 400 anos da fundação de Salamanca, um painel contava aos participantes o drama provocado pela contaminação: mulheres mortas por câncer no fígado e pulmão, câncer no sangue e na pele (Salamanca detém o primeiro lugar estadual e nacional para casos deste tipo), câncer de mama e outras doenças, como a poliglobulina (Aumento excessivo de glóbulos vermelho por oxigenação insuficiente). São várias as organizações que trabalham num plano de emergência ambiental para Salamanca e num curso-oficina de primeiros socorros em caso de acidentes com produtos químicos e/ou tóxicos. Ainda que pareça incrível, em Salamanca não existe um plano de emergência ambiental e, obviamente, não há médicos que conheçam as medidas a serem seguidas em caso de intoxicação com alguns dos produtos que produzem ou com os quais trabalham as indústrias. Recentemente, foi convocada uma reunião na colônia La Cruz que está diante da Tekchem. Dela participaram funcionários do Desenvolvimento Social, Ecologia e das empresas Resistol e Tekchem para apresentarem "projetos ecológicos" como plantar mudas, recolher lixo e de simples estética. Os funcionários tentaram calar as vozes de protesto e, inclusive, arrancaram o microfone, mas o pessoal questionou duramente os funcionários e os empresários da Tekchem, e estes tiveram que sair correndo. Em Rancho Roque (a uns 6 km de Celaya) surgiu um movimento motivado pela perda de 105 hectares que serviam de terreno para os experimentos do Instituto Tecnológico Agropecuário Nº 33, que antes era a escola normal de Roque. Este começa a partir de 15 de maio quando um grupo de camponeses da região tira a terra da normal para vendê-la. A manifestação mais numerosa foi no último dia 7 de fevereiro, de estudantes, professores, trabalhadores e pais de família. Na cidade de León, em março do ano passado, a Coordenação Juvenil contra o Autoritarismo iniciou mobilizações contra o programa Tolerância Zero. As mulheres de Jococa convocaram a imprensa no teatro independente La Floración Del Mezquite e aí leram um documento no qual criticavam as declarações do governador Juan Carlos Romero Hicks, as do prefeito Luis Ernesto Ayala, as da diretora de Desenvolvimento Social, Araceli Cabrera, e as do empresário Jorge Videgaray Verdad. Enviaram uma mensagem a todos eles: "não queremos que nos dêem uma mão, mas sim que a tirem de cima de nós. O nosso movimento não tem como objetivo pedir espaços, nem mendigar apoios em troca do silêncio, mas sim acabar com o abuso de autoridade, com a repressão e o autoritarismo. Nós mesmos vamos criar os espaços culturais dos quais precisamos e vamos denunciar e derrubar qualquer obstáculo". Há outras organizações em resistência: A União Cívica Salamantina Francisco Villa, o movimento Guanajuatense em Luta contra o Neoliberalismo (Silao), CEDASA e CODHOMAC (Dolores Hidalgo), o Movimento Cidadão (Celaya), a Coordenação das Organizações Civis Independentes (Celaya), a Casa Erandi (Acámbaro). A luta pela água está se dando em muitos municípios, em alguns por sua escassez, e, em outros, como em Romita, porque a tiram de seus habitantes para negociá-la com indústrias como as engarrafadoras da Coca-Cola, Pepsi e da Cervejaria Corona. Em Romita, em junho do ano passado, foi desconhecido o prefeito panista e a população criou um governo popular autônomo que, com o Conselho Ecológico do Aqueduto Silao-Romita, protagonizaram uma das mais importantes manifestações de Guanajuato. O saque da água está deixando Romita em condições de recursos aqüíferos piores do que as de Leon, que tem reservas em melhor estado e não as explora. Os interesses dos governos panistas municipais (Romita, León), estadual e federal incluem os interesses dos curtumes e dos empresários do sapato, entre os quais destacam os Medina Plascencia e botas Fox. Em León, a contaminação da água por parte dos empresários é muito grave: lembremos o incidente na represa de Silva, a morte dos patos canadenses e siberianos; os metais pesados e dejetos industriais, além do sal que se usa no curtidouro, 2000 litros por um couro, que torna a água não apta ao consumo humano. Em 18 de junho de 2002, o governador Romero Hicks comanda a repressão contra o povo de Romita. O saldo? Mais de 200 detidos, além dos feridos, pelo uso de cachorros, gases e helicópteros que atingiram duramente crianças, mulheres e anciãos. Entraram nas casas para sufocar a população. No dia 22, ocorreu uma enorme manifestação silenciosa na qual mais de 4 mil romitenses repudiaram o ato. E, como se diz, a luta continua. Ainda se ouve o eco do grito romitense "De quem é a água? De Romita!". E de Romita, Guanajuato, pedra e nuvem levantam o vôo e o passo para chegar em outra Roma, só que na Itália, onde, no dia 15 de fevereiro, haverá uma manifestação contra a guerra. Das montanhas do sudeste mexicano. Subcomandante Insurgente Marcos. México, janeiro de 2003
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