São Paulo será na próxima semana também o palco do julgamento dos acusados pelo assassinato do cacique Marcos Veron

Pelo fim da impunidade

18/02/2011
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Inicio do ano de 2003. Inicio do governo Lula. A esperança galopava pelo país afora em milhões de corações, confiantes em um novo tempo para o país. Tempo de mudanças profundas, com menos violências e desigualdades sociais.

Os Kaiowá Guarani e os povos indígenas do Brasil também acreditavam que se iniciava o tempo da garantia de seus direitos, do reconhecimento de seus territórios e seus modos de vida diferenciados, dentro de um país plurinacional e multicultural.

Ilusão. Não tardou e do Mato Grosso do Sul veio a notícia do brutal assassinato do líder Marcos Veron, espancamento e tortura de vários membros da comunidade de Takuara, no município de Juti. Justificativa dada pelos senhores do agronegócio: ousaram voltar para sua terra tradicional. Isso era considerado uma afronta à propriedade (acumulação) privada. E como tal teria que ser tratado com o rigor da morte. O recado estava dado.

Até hoje o crime continua impune. Da mesma forma como continuam impunes os assassinos de Marçal e de todas as lideranças Kaiowá Guarani nestas últimas décadas. Nenhum matador de Kaiowá Guarani está preso. Nas cadeias estão mais de duas centenas de indígenas desse povo, submetidos não apenas ao rigor da lei, mas ao rigor da injustiça histórica, do saque de suas terras e riquezas naturais e condenação aos confinamentos.

O julgamento

São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo, será na próxima semana também o palco do julgamento dos acusados pelo assassinato do cacique Marcos Veron. No centro econômico do país também se espera que venha uma sinalização de que de uma vez por todas se estará buscando pôr fim à absoluta impunidade em que se encontram os matadores das lideranças desse povo indígena.

Não será apenas um julgamento. Será uma história de impunidade que começará a mudar. Valdelice, uma das filhas do cacique assassinado, assim se referiu ao julgamento: “Sabemos que não vai trazer de volta o nosso pai e cacique Marcos Veron, mas irá devolver a nossa dignidade e ser respeitada como ser humano, como um povo com sua diferença de viver e de ser." Esse é o sentimento do povo Kaiowá Guarani neste momento. É em especial o sentimento dos familiares e comunidades dos líderes assassinados por lutarem por seus tekohá, suas terras tradicionais: José Martins, Dorival, Dorvalino, Julite, Ortiz, Genivaldo, Rolindo, dentre outros. Quem sabe seja o início do fim da impunidade dos assassinos das lideranças desse povo.

A dominação da escola

Na contramão da história e das exigências do movimento de Professores Indígenas Kaiowá Guarani e suas comunidades, vários municípios desencadearam uma verdadeira onde de “enquadramento e controle” das escolas indígenas, tirando a direção e até mesmo as salas de aula de professores indígenas para nelas colocar pessoas estranhas às comunidades, e certamente muito convenientes ao ”status quo”. E principalmente se lembrando que estamos em véspera (assim se espera) da
publicação dos relatórios de identificação de todas as terras Kaiowá Guarani.

Será que esta é mais uma das estratégias para desmobilizar lideranças e um movimento indígena expressivo como o dos quase trezentos professores Kaiowá Guarani? Exemplo disso foi a participação dos professores Genivaldo e Rolindo na retomada de sua terra tradicional, Ypo’i, quando foram brutalmente assassinados. Será que o poder dominante vai novamente transformar as escolas indígenas em espaços coloniais de dominação e negação da cultura e dos direitos desses povos?

Um dos exemplos expressivos da “escola consciente e lutadora” é a participação dos professores e alunos por ocasião do despejo de Nhanderu Marangatu, dia 15 de dezembro de 2005. Até hoje mais de mil indígenas continuam confinados em 124 hectares. Os professores desta escola já fizeram dois dias de paralisação neste início de ano, como protesto pela imposição de professores e diretores não indígenas naquela escola. A Escola Indígena Mbo’erro Tupã’i Arandu Reñoi, teve já a imposição, pelo município de Antonio João, de 10 funcionários e professores, inclusive toda a direção da escola. Esperamos que o neocolonialismo não volte a estender seu manto sobre as escolas indígenas do Mato Grosso do Sul.

 

Egon Heck é coordenador do Cimi-MS.
Fuente: http://www.brasildefato.com.br/node/5729

https://www.alainet.org/pt/active/44606
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