Polícia da província de Buenos Aires é apontada como autora do crime contra Luciano Arruga ocorrido há dois anos

Desaparecimento de jovem expõe corrupção policial

17/02/2011
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Como qualquer adolescente da sua idade em uma sexta-feira à noite, naquele 30 de janeiro de 2009, Luciano Arruga, 16 anos, queria sair com os amigos. Um pouco mais cedo, havia pedido algum dinheiro para sua mãe, Mónica, que lhe deu o que tinha no bolso: 25 centavos.
Luciano comprou uns cigarros soltos, foi à casa de uns amigos e depois ficou um pouco na rua com eles jogando conversa fora. Entre meia-noite e uma da manhã, Luciano voltou a sua casa, onde vivia com a mãe e dois irmãos menores, Mario e Mauro, que já dormiam. Pegou uma jaqueta branca, um boné e despediu-se de Mónica. “Olha lá por onde anda”, disse a mãe. “Relaxa, vou à casa da minha irmã”, respondeu o adolescente.
Luciano caminhou dez quadras, mas a irmã mais velha, Vanesa Orieta, não estava. Na volta, de acordo com testemunhas, foi abordado por um carro da polícia estadual, a chamada “bonaerense” (força policial que atua nas regiões da província de Buenos Aires, com exceção da capital). As testemunhas afirmam que os policiais bateram no adolescente e, em seguida, o deixaram ir embora. Entretanto, seguiram-no e a quase uma quadra de sua casa, e outras testemunhas afirmam que viram um garoto de jaqueta branca ser forçado a entrar em um carro da polícia.
 
O cenário
Mônica conta que, por volta das três da madrugada, acordou de um sobressalto, com uma sensação ruim, como se estivesse se afogando. Foi ao quarto do filho, não o viu. Foi até a rua, passou pela casa dos amigos, mas não o encontrou. Voltou para casa, fumou um cigarro e tentou se tranqüilizar, dizendo a si mesma que o menino logo voltaria. Mas Luciano nunca voltou. A mãe conta que chegou a ir à delegacia naquela mesma madrugada, mas lhe informaram que seu filho não estava lá, que ninguém havia sido detido naquela noite e que o menino “deveria estar por aí com alguma menininha”.
O sequestro e desaparição de Luciano ocorreu no bairro de Lomas del Mirador, no município da La Matanza, Grande Buenos Aires, um dos mais populosos de toda Argentina. Mais precisamente, o cenário foi o da favela 12 de Octubre, que ocupa pouco mais de um quarteirão dentro do bairro.
Na região, as ameaças e abusos por parte da polícia contra os jovens fazem parte da rotina. E também faziam parte da vida de Luciano. “Sempre que eu via meu irmão, ele contava que a polícia o tinha ameaçado. Era algo habitual que infelizmente a gente tinha naturalizado porque sempre era assim”, conta Vanesa, irmã de Luciano. O jovem já havia apanhado e até mesmo levado à delegacia uma vez, acusado de roubar um celular, o que nunca se comprovou. “Quando percebemos que ele estava desaparecido, suspeitamos logo de cara da polícia, porque sabíamos que ele era ameaçado sempre”, lembra a irmã.
 
Convite para roubar
Os abusos da polícia contra Luciano haviam piorado após o jovem recusar-se a roubar para a polícia. Sua irmã conta que, em setembro de 2008, Luciano havia lhe confidenciado que um policial lhe havia feito uma proposta para roubar e dividir os ganhos. Prometeu-lhe dar cobertura e armas, além da garantia de que nada lhe aconteceria. “É uma prática comum nos bairros mais pobres da Grande Buenos Aires”, revela Vanesa. “Em pelo menos três bairros de La Matanza, nós temos certeza de que essa é uma prática recorrente e que muitos aceitam, inclusive porque têm medo de rejeitar o pedido da polícia”, afirma Pablo Pimentel, militante da Assembleia Permanente pelos Direitos Humanos (APDH), uma das organizações que ajudam a família de Luciano no caso. Pimentel ainda afirma que o caso de Luciano não é o único, mas é paradigmático. “Nós temos 99% de certeza de que a polícia o torturou, espancou, matou e desapareceu com seu corpo”.
Pimentel conta que os menores de idade são os preferidos da polícia para esse tipo de operação porque é mais fácil tirá-los da cadeia, caso algo saia mal. Além disso, pela inexperiência e pelo medo, acabam cedendo às investidas dos policiais. “Isso também acontece com tráfico de drogas”, diz Pimentel.
 
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