Editorial

O exemplo da unidade popular em Honduras

20/03/2011
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Muitos acreditavam que o patrocínio a golpes militares já não integrava a agenda dos Estados Unidos neste século 21. Por mais que denúncias demonstrassem o envolvimento da CIA (serviço de inteligência dos EUA) na fracassada tentativa de golpe da Venezuela, vários analistas insistiam na tese de que golpes eram coisa do século passado.
 
Honduras, um país centro-americano pouco conhecido, ganhou notoriedade pelo golpe civil-militar de junho de 2009 e desmontou tais crenças de que golpes seriam coisas do século passado. Hoje já não pairam dúvidas sobre o envolvimento e articulação dos EUA nesta ação. A atuação de diversos especialistas da CIA no processo conspiratório, a utilização da base militar de Palmerola (próximo da capital Tegucigalpa), fornecimento de recursos tecnológicos e outras formas de apoio típicas do aparato do Pentágono foram decisivos para derrubar o governo de Manuel Zelaya.
 
Nos dias posteriores ao golpe, já se tornava público que as reuniões conspiratórias se deram na Base Militar dos EUA de Soto Cano.
 
Durante os anos em que patrocinou a contrarrevolução na Nicarágua, os Estados Unidos converteram Honduras numa gigantesca base militar. Montou-se um enorme centro de treinamento de grupos de mercenários para lutar contra os processos revolucionários da Guatemala, Nicarágua e El Salvador.
 
Por todo esse cenário, a persistente e heroica resistência do povo hondurenho é um exemplo para todos os lutadores populares.
 
Desde o golpe, as atividades de resistência não cessaram um único dia. O povo não se aquietou, marchou por mais de 150 dias e segue em luta. Construiu uma organização unitária, a Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP), que acaba de realizar sua primeira grande Assembleia Nacional. Realizada nos dias 27 e 28 de fevereiro, reuniu militantes de todo o país, além de hondurenhos da resistência que vivem no exterior e diversos convidados internacionais.
 
A Assembleia Nacional da FNRP foi um momento decisivo da construção da Frente unitária e ampla da resistência hondurenha. Demonstrou que essa luta segue crescendo, estabeleceu os pontos de unidade entre as forças políticas e sociais, possibilitou o debate e eleição democrática de milhares de delegados de base, que por sua vez participaram de dezenas de plenárias municipais. Um momento de intensa mística onde resgatou-se a memória de centenas de mártires que tombaram na luta contra o golpe.
 
A população acompanhava, desde suas regiões, por diversas rádios comunitárias que cobriam o evento e toda a discussão para estabelecer um plano unitário de lutas.
 
A Frente Nacional de Resistência Popular se consolida, aprofunda sua unidade e constrói pedagogicamente um plano nacional de lutas. Um exemplo para todos lutadores do povo.
 
Seu desafio é muito complexo. O aparato político-militar dos EUA segue acompanhando e intervindo cotidianamente na direção política de Honduras. O governo atual foi “eleito” em um processo totalmente controlado pelos golpistas, sem garantias democráticas. Seu anunciado objetivo era rapidamente legitimar o golpe perante o mundo. O Pentágono define quais as condições para reconhecer o governo atual, assim como as permanentes ingerências nos assuntos locais. Estimula planos de segurança nacional nos moldes do Plano Colômbia (Plano Patriota) justificados pelas mesmas razões do narcotráfico, igualmente na intermediação e facilitação para a instalação de duas bases militares em Honduras. As negociações para instalação dessas bases já estão bem adiantadas. Ao mesmo tempo, consolida a permanência da Base Militar Palmerola com mais de três mil marines. Isso ainda sem considerar os empréstimos intermediados e que são condicionados a financiar negociações com empresas dos EUA, num velho método de exploração dos povos de todo o mundo.
 
A Assembleia ratifica Manuel Zelaya como coordenador, delibera que a luta pelo poder é o objetivo central e que a FNRP deve fortalecer e implementar lutas populares e manifestações de resistência pelo país. Além disso, indicou uma paralisação geral para este mês. Também deliberou um processo pedagógico para consultar o povo sobre os pontos e conteúdos do que seria a refundação de Honduras.
 
Em resumo, a Assembleia Nacional da Frente Nacional de Resistência Popular proporcionou um salto de qualidade para a construção de um Projeto Popular em Honduras. Que seu exemplo sirva de estímulo para as forças populares em nosso país.
 
Brasil de Fato – edição 419 - de 10 a 16 de março de 2011
https://www.alainet.org/pt/active/45261
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