O Obama no Brasil
23/03/2011
- Opinión
Saltam aos olhos como a mídia burguesa brasileira é pateticamente subserviente ao império
Como previsto, a passagem pelo nosso país do presidente da maior potência imperialista do planeta, Barack Obama, não poderia passar desapercebida e muito menos não causar polêmicas. Partidos políticos de esquerda, como o PCB, não hesitaram em clamar por um “vade-retro, Obama!”. Ativistas populares, impedidos de se manifestarem, foram reprimidos e presos. Analistas políticos, identificados com os princípios da soberania nacional, com as lutas anti- imperialistas e contrários às políticas bélicas, escreveram antes, durante e depois da visita, sobre a nulidade de resultados concretos da passagem de Obama pelo país.
Mas saltam aos olhos como a mídia burguesa brasileira é pateticamente subserviente ao império. Trataram a visita como um megaevento, dando tratamento similar ao dispensando a artistas e personalidades do mundo dos espetáculos. Como disse o deputado federal Dr. Rosinha (PT/PR), parecia Deus passando por aqui num final de semana. Imaginem se a Rainha da Inglaterra passar por aqui? Um traque da matrona real será transformado, por essa mesma mídia, numa bafejada de ar puro dos campos ingleses do período pré-capitalista.
A mídia foi incapaz de mostrar a grave crise econômica e social que afeta o povo estadunidense. Em nenhum momento constrangeu o governo do império sobre o apoio que dá a todas as ditaduras do mundo contemporâneo. Não questionou, em seus noticiários, o fato de Obama não ter cumprindo com suas promessas eleitorais, como a de acabar com o bloqueio econômico a Cuba. Servil e bajuladora ao império, não teve coragem de condenar as guerras no Iraque e no Afeganistão e responsabilizar as tropas invasoras pela prática da tortura e da violação dos direitos humanos naqueles países. Subserviente, restou-lhe dar ênfase ao estrelismo e à simpatia da família Obama.
O presidente Obama pode ser bem intencionado, ter boas ideias e sua eleição ter representado uma vitória do polo progressista frente à direita e a ultradireita do seu país. Mas, como afirma a economista Maria da Conceição Tavares, não tem o poder real, nem bases sociais compatíveis com suas ideias e “foi anulado pelo conservadorismo de bordel dos EUA”. Por isso sua visita restringiu-se a gestos de cortesias, típico de um visitante educado.
Com baixos níveis de apoio popular e abalado com a derrota nas eleições legislativas de 2010, o presidente Barack Obama fez em dezembro um acordo com os republicanos no Congresso para manter os cortes de impostos iniciados há uma década pelo presidente George W. Bush, atendendo aos interesses da parcela mais rica e poderosa do país. Decorrente dessa política econômica, como afirma o economista Sachs, “o 1% mais rico dos lares estadunidenses tem agora um valor mais alto que o dos 90% que estão abaixo. A receita anual dos 12 mil lares mais ricos é maior que o dos 24 milhões de lares mais pobres”. Com o acordo de dezembro, Obama rendeu-se a essa política.
No cenário internacional, também não há diferenças significativas com a política externa governo republicano de Bush. Basta lembrar que frente às revoltas populares dos povos árabes por melhores condições de vida, reformas democráticas e soberania nacional, o governo dos EUA estimulou a Arábia Saudita a intervir no Bahrein e a reprimir os povos em lutas. Assemelhando-se ao governo Bush, o governo de Obama não foi além da retórica com sua política de Direitos Humanos, frente às denúncias de discriminação racial, execuções extrajudiciais, práticas de tortura, manutenção de prisões ilegais no Iraque, Afeganistão e na base militar de Guantánamo.
Em relação ao Brasil, esse mesmo governo que se diz amigo e admirador do nosso país, de acordo como os documentos revelados pela Wikileaks, não hesitou em pressionar as autoridades ucranianas para dificultar o acordo com o Brasil, para o desenvolvimento de uma plataforma de lançamento de foguetes espaciais. Ainda, da mesma fonte, o governo de Obama desencadeou uma série de ações para combater as leis que o governo Lula fez para assegurar o controle sobre o petróleo do pré-sal.
O governo Obama também foi responsável por, primeiro, incentivar e, depois, minar o acordo que o Brasil e a Turquia estavam promovendo com o Irã. Obama tinha enviado uma carta ao governo Lula com os termos de um acordo. O Brasil e a Turquia conseguiram que o Irã concordasse com aqueles termos. E, depois, o governo Obama foi para a ONU exigir sanções contra o Irã, jogando o acordo na lata de lixo.
Por último, foi uma agressão feita pelo presidente Obama ao governo e ao povo brasileiro ao ordenar, do solo do nosso país, o ataque à Líbia, quando o Brasil, juntamente com a Alemanha, Rússia, China e Índia, havia se abstido de aprovar o ataque na votação do Conselho de Segurança da ONU.
A visita de Obama reforçou a necessidade de dar continuidade e aprofundar a política externa brasileira de conquistar a sua soberania nacional. Cabe ao recém iniciado governo da presidenta Dilma Rousseff assegurar uma política externa criativa e ousada, rompendo a dependência das grandes potências, fortalecendo a relação Sul-Sul, priorizando a integração dos povos da América Latina e do Caribe e contrapondo-se contra a ingerência imperialista em qualquer parte do planeta.
Editorial ed. 421 do Brasil de Fato
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