Quem paga a conta?
05/01/2012
- Opinión
O ano de 2011 se retira de cena. Parece com pressa de passar adiante a tocha da história. Quer se ver livre de compromissos, que ele deixa como herança para os anos que vêm pela frente, com a carga pesada que preanunciam.
De fato, o ano de 2011 pareceu mais destinado a anotar compromissos na agenda, do que a cumpri-los.
Basta ver alguns deles, agendados para o Brasil.
De imediato, no mês de junho de 2012, a “Rio+20”, o novo encontro das Nações Unidas sobres os desafios ambientais, na seqüência da “Eco 92”, de vinte anos atrás.
Para 2013, desta vez em julho, o encontro mundial da juventude, no Rio de Janeiro, evento que já cunhou a imagem de uma juventude que quer retomar o seu protagonismo, resgatando valores que nunca perdem sua importância.
Depois, 2014 será o ano da copa do mundo, que para nós é simplesmente a de futebol. Ela foi imaginada como uma espécie de convite geral a todos os países do mundo para virem, e verem, como está o nosso Brasil. O que iremos mostrar, e o que ficará escondido?
Para o Rio de Janeiro, a ladainha de eventos continua, com o compromisso de acolher ainda os jogos olímpicos.
Tudo somado, quantos compromissos colocados na conta de outros anos, enquanto o 2011 se despede. Ele também se deparou com diversos eventos, mas a grande maioria deles, ainda inconclusos, aguardando um desfecho definitivo. Para conferir, basta recordar alguns.
O ocidente insuflou tanto a guerra civil na Líbia, até conseguir que Kadafi fosse morto. E agora, a que serviu derramar tanto sangue? Quais eram os interesses de tantas partes envolvidas?
As populações árabes surpreenderam com suas manifestações massivas, clamando por mudanças, sacudindo arcaísmos, postulando abertura para valores da modernidade. E o que resultou de prático até agora?
Bin Laden foi morto, numa cena de descarada vingança, que nos entristece como raça humana. Será que serviu alguma coisa para diminuir o ódio que fomenta radicalismos cegos e impiedosos?
O Papa declarou abertamente sua decepção com a crise de fé que atinge especialmente o continente europeu, onde o cristianismo plasmou a primeira civilização com sua marca registrada . Será que estamos acertando as providências para estancar esta hemorragia que ameaça debilitar ainda mais a “cultura cristã”?
Mas sobretudo no ano 2011 irrompeu de novo, com virulência multiplicada, a crise que se abate sobre a Europa, que já causou estragos em todo o “primeiro mundo”, e que mostra ser muito mais profunda do que uma simples crise econômica. Na verdade, ela é uma crise de civilização, de um sistema que está mostrando seu esgotamento. Repensar um novo projeto de civilização não é tarefa simples, nem de um ano só. Provavelmente, as mudanças mais significativas e mais profundas só serão tomadas sob forte pressão dos fatos, como é de praxe acontecer na história.
Mas de uma coisa não podemos duvidar: a crise vai bater à porta do Brasil. Por enquanto, ainda temos algumas receitas tradicionais, que neutralizam os seus sintomas. Não vai demorar muito para nos depararmos com suas causas mais profundas e estruturais.
Aí fica a pergunta, nada indiscreta: quem vai pagar a conta das mudanças a serem feitas? Certamente não dá para fazer como em outros tempos: capitalizar os lucros e socializar os prejuízos!
No acerto das contas, o primeiro critério é a justa proporcionalidade. Em todo o caso, é bom começar o novo ano com o alerta bem ligado!
- D. Demétrio Valentini é bispo de Jales.
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