O protesto dos jovens é legitimo
17/06/2013
- Opinión
Os jovens iniciaram a onda de protestos a partir do aumento no preço das passagens
E se defendemos um serviço publico de transporte coletivo?
Paris.- Já li até artigos falando de primavera brasileira! Incrível como algumas pessoas escrevem por vezes bobagens! Acho que o fato da leitura rápida e mastigada da internet, das redes como Facebook, ou a visualização de vídeos no Internet, nos leva às vezes a traduzir com rapidez noticias erradas, sem se preocupar de ir ao fundo da realidade.
Por exemplo, a comparação da primavera com o mundo árabe que estar em efervescência nos últimos anos não tem nada a ver com o que ocorre hoje com os países democráticos. As causas não são as mesmas! O Brasil, por exemplo, foi ditadura e os que lutaram contra a ditadura estão hoje no poder. Ninguém hoje vai ser preso, torturado ou morto por suas ideias! Não dar pra copiar movimentos espontâneos do mundo árabe, em geral sob regime de autarquias, ditaduras, com relações tribais que se conservam. Tampouco as democracias no mundo ocidental são perfeitas. Daí não se pode manipular os jovens árabes sobre a imposição de nossos modelos democráticos. As democracias ocidentais se fragilizam, por exemplo, diante do peso do poder econômico, do mercado que impõe aos governos eleitos democraticamente regras de governança de austeridade! Que obriga certos governos a se desfazerem de suas especificidades próprias como a questão cultural, entre outros serviços públicos não considerados como mercadorias e sim como bens comuns.
A direita brasileira, até hoje sem propostas concretas de boa governabilidade, tenta se aproveitar do movimento espontâneo que protesta contra o aumento das tarifas de transporte para manipulá-lo. Logicamente, eles têm nas mãos todos os meios de comunicação para alcançar seus objetivos! Na certa irão de artilharia pesada para o combate que se apresenta como ideal para sua rearticulação.
A presidente Dilma sente-se acuada diante da demultiplicação do movimento. A presidenta não quis regularizar a pluralidade dos meios de comunicações. Talvez, dizem alguns, porque ela pensava em conquistar o quarto poder comandado pela rede Globo! Hoje ela está na mira desta artilharia. Ver artigo que escrevi neste sentido no Correio do Brasil e republicado no site Brasil247. Não podemos garantir um debate livre de manipulações ou de direita ou de esquerda sem garantir a pluralidade de expressões.
Os protestos não seriam uma ocasião para os políticos de todas as tendências discutirem sobre as causas do aumento do custo de vida no Brasil? Sobre o caos dos serviços de transporte coletivos nas cidades brasileiras? Seria uma ocasião para os jornalistas alertarem à opinião pública sobre este caos. Abriria um campo de debate sobre a problemática de nossas desumanas cidades.
Até parece que certos jornalistas esqueceram que o Brasil é federalista, seus Estados são autônomos e podem regular sobre a política de transportes, basta buscarem e verificar as competências de cada poder. Quem regula os preços e como se dá a negociação? Com que critérios se definem os preços dos transportes coletivos?
A direita que governou durante muitos anos o Brasil e que teve maioria em todos os Estados sempre defendeu a privatização das políticas publicas. Já se esqueceram dos governos de FHC? A imprensa aliada do governo FHC passou uma imagem negativa dos serviços públicos. Logicamente que, no Brasil, estes serviços foram abandonados, mas como eles queriam privatizar tudo, passaram a dizer que todo serviço publico não presta. Para ter qualidade tem que privatizá-lo! Nenhum governante de direita defende um serviço público de qualidade, exemplo: de transportes coletivos de qualidade! Quem conhece a França sabe por que os franceses defendem, e, fazem greve pra preservar este serviço!
Quanto aos políticos de centro-esquerda, hoje no poder federal, e, em alguns Estados, eles não tiveram até agora vontade política de desenvolver verdadeiras políticas públicas, seja de transportes coletivos, seja de saúde, educação, ou de assumir uma defesa uma urbanização mais humana das cidades brasileiras. Uma Política Publica de transportes não quer dizer somente nacionalização, o governo municipal pode realizar concessões para o transporte privado, mas ele não pode fazer sozinho, o prefeito tem que se articular com o Estado, eles atuam em conjunto.
Eles podem fazer parcerias público-privadas, todavia, cabe aos governos federal, estadual e municipal desenvolver verdadeiras políticas setoriais que atendam melhor à população carente. Os estudantes, por exemplo, na grande maioria, dependem de transporte coletivo. O governo pode regular os preços.
O Estado deve ter um papel regulador no mercado? Perguntem aos adeptos dos governos de direita, dos que detêm o poder econômico e mediático se eles estão de acordo? Eis ai uma pista para o bom debate a ser lançado com os jovens que protestam e com toda a razão!
- Marilza de Melo Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil em Paris.
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