Em defesa da soberania nacional e contra o leilão de Libra
24/09/2013
- Opinión
A história demonstra que um dos mecanismos acionados pelas grandes empresas capitalistas para se proteger das crises econômicas consiste na apropriação de recursos naturais estratégicos como terras, reservatórios aquíferos e recursos minerais. Isto porque comprar estes recursos naturais significa obter reservas de valor mais estáveis e menos propícias às desvalorizações típicas das crises de acumulação capitalista.
Assim, a América Latina e sua enorme riqueza natural viraram alvo da sanha das grandes transnacionais. A bola da vez é o petróleo existente na camada pré-sal da costa oceânica brasileira. Trata-se do leilão do Campo de Libra marcado para o dia 21 de outubro de 2013. Situado na bacia de Santos, o campo petrolífero de libra é estimado em aproximadamente 12 bilhões de barris de petróleo de qualidade comprovada, equivale a 80% de todas as reservas descobertas pela Petrobras e está estimado em 1,5 trilhões de dólares. Além disso, quem levar o Campo de Libra também leva o Campo de Franco que está interligado à Libra e tem aproximadamente 9 bilhões de barris de petróleo.
Não é por acaso que o governo dos Estados Unidos, para servir aos seus interesses imperialistas, espiona para fins comerciais a presidenta Dilma e a Petrobras conforme comprovam os documentos apresentados pelo ex-funcionário da Agência Nacional de Segurança (NSA) Edward Snowden. Este episódio da espionagem, assim como as irregularidades do edital do leilão é grave o sufi ciente para que o leilão de Libra seja suspenso. Na verdade, independente da espionagem estadunidense e das irregularidades do edital, leiloar libra é um crime de lesa-pátria. Certamente a ambição das transnacionais pelo petróleo brasileiro não tem o objetivo de gerar empregos no nosso país e muito menos desenvolver a indústria brasileira. Todo o petróleo extraído por estas empresas será remetido para o exterior.
Lamentável mesmo é a subserviência do Congresso Nacional que não mexe uma palha para defender os interesses do povo brasileiro. A grande maioria dos deputados e senadores, juntamente com a imprensa conservadora, faz o jogo dos grandes capitalistas e legitima a privatização das riquezas nacionais. Como exceções dessa lógica entreguista fundada na ideologia do colonialismo, temos os senadores Roberto Requião, Randolfe Rodrigues e Pedro Simon que apresentaram um projeto de decreto legislativo para impedir o leilão de libra. Mais lamentável ainda é constatarmos o papel subalterno da Agência Nacional do Petróleo que tem servido muito bem os interesses do setor privado.
O petróleo existente na camada pré-sal é uma riqueza estratégica que pode atender muitas demandas que o povo brasileiro apresentou durante as jornadas de junho como saúde, educação, saneamento básico, moradia popular, dentre outros. Uma riqueza fundamental para auxiliar uma industrialização soberana fundada em tecnologia nacional e ao mesmo tempo de ponta. Ou seja, uma riqueza com potencial de lançar as bases para um projeto nacional de desenvolvimento e suas reformas estruturais que estão pendentes na sociedade brasileira.
O leilão do petróleo de libra, assim como as concessões de rodovias, portos e aeroportos para a iniciativa privada comprova que está se fortalecendo dentro da composição do governo Dilma um setor neoliberal, entreguista. Além disso, assistimos a uma aposta perigosa da presidenta Dilma e de sua equipe econômica em confiar a retomada do crescimento econômico via iniciativa privada. Estes setores transnacionais e seus lacaios locais não hesitarão em boicotar e sabotar a economia brasileira num momento de crise política.
Iniciativa correta e condizente com os interesses do povo brasileiro seria o Estado brasileiro assumir os investimentos estratégicos, viabilizar o controle nacional dos recursos naturais e retomar as empresas estratégicas que foram privatizadas. A crise econômica é uma boa oportunidade para esta empreitada. O povo brasileiro não elegeu a presidenta Dilma para retomar as privatizações.
Nesse sentido, os movimentos sociais, centrais sindicais e diversas associações e entidades estão se mobilizando para impedir o leilão de Libra. É preciso denunciar este crime de lesa-pátria. Que os ventos das mobilizações de junho contribuam para que possamos defender os interesses da nação brasileira. Confiamos na força do povo brasileiro e na capacidade da História de julgar os traidores dos interesses nacionais.
Editorial do Brasil de Fato - Edição 552 - de 26 de setembro a 02 de outubro de 2013
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