Lula se declara militante da regulação da mídia

15/05/2014
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O ex-presidente nunca havia sido tão explícito na defesa da regulamentação do setor quanto no discurso com que abriu o Encontro de Blogueir@s e Ativistas.
 
Ricardo Stuckert
 
O oligopólio da comunicação no Brasil ganhou definitivamente um crítico engajado - e de peso não negligenciável.
 
O ex-presidente Lula nunca havia sido tão explícito na defesa da regulamentação do setor  quanto no discurso com que abriu o 4º Encontro de Blogueir@s Progressistas e Ativistas Digitais, em São Paulo, iniciado nesta sexta (16).
 
No encontro, que se estende até o domingo, ele fez uma autocrítica dos tempos da presidência.  Lula admitiu que hoje sua consciência sobre a regulação é muito superior "a que eu tinha ontem".
 
O compromisso de recuperar o tempo perdido, porém, é contundente.
 
Senhores donos das corporações, a defesa da regulação fundiu-se  à agenda da maior liderança política do Brasil, de uma vez por todas.
 
Foi o que Lula disse aos blogueiros em compassada promessa: 'Daqui para frente, com quem eu falar e para quem eu falar, quando eu puder falar, essa será uma das primeiras prioridades, a regulação da Comunicação no país’.
 
Os dias que correm, de maciça barragem de fogo contra o governo e o PT, apenas fizeram reforçar no ex-presidente  a pertinência dessa mudança.
 
A ausência de pluralidade no sistema brasileiro de comunicação é encarada por ele como uma das mais perigosas ameaças à vida política e à democracia. E, portanto, um dos obstáculos mais sérios ao debate necessário sobre os desafios da sociedade e de seu desenvolvimento.
 
'Nunca vi tanta violência' (como contra a Dilma), desabafou para provocar em seguida: 'Qual é a preocupação? Que depois da Dilma esse Lula volta?'
 
À vontade e irônico - 'cadê o choque de gestão na Cantareira?' -  Lula não perde o fio da meada . E o que é central e está em jogo mais uma vez, na disputa de outubro, é o risco de se interromper  os   avanços  'destes 11 anos que eu não temo em comparar em nenhuma área', desafia. Ato contínuo, sapeca o  bordão que promete figurar como outra estaca de suas intervenções nesta campanha:
 
'Gente, choque de gestão significa desemprego e cortar salários'.
 
Não é apenas uma provocação, mas a indicação de um divisor de águas que promete mais uma vez separar o joio do trigo nesta eleição.
 
Não por acaso, na mesma hora em que Lula falava aos blogueiros 'sujos' --'deve ser por culpa da falta de água do Alckimin'-- o presidenciável tucano, Aécio Neves, discursava para mil associados na Câmara Americana de Comércio (Amcham), também em São Paulo.
 
Aos executivos presentes, o candidato do PSDB reiterava  a disposição de, se eleito, declarar 'guerra total ao custo Brasil e a todas  as sua variáveis'. Aquelas sabidas e advertidas por Lula.
 
Aécio foi aplaudido pelo seu público. Com o mesmo entusiasmo registrado há duas semanas, ao prometer o mesmo --com detalhes não divulgados--  aos endinheirados clientes mais ricos  do Itaú, com os quais teve uma conversa de portas fechadas, na sede do banco, na capital.
 
Lula não tem ilusões. Dá a entender aos  blogueiros que, mesmo com a vitória em outubro, a ameaça representada pela agenda dos aécios & armínios não estará afastada. Explicita então a outra estaca ordenadora de suas prioridades na luta pelo passo seguinte do desenvolvimento brasileiro: 'Sem a reforma política não conseguiremos fazer nada neste país', adverte e convoca: 'Esse Congresso  não a fará; a reforma política terá que ser feita por nós, pelos partidos em uma  Constituinte Exclusiva para isso!', arremeta  sob aplausos tão intensos quanto os dirigidos ao candidato conservador, em outro auditório, e por motivos opostos.
 
O ex-presidente está convicto de que a Copa do Mundo será um sucesso. 'Quando o Brasil fez o Maracanã, para a Copa de 50’, rememora, ‘ eles falavam a mesma coisa (que o país não estava preparado) . Naquele tempo o Brasil era um exportador agrícola de um produto só, o café’.
 
‘Nós botamos, em Educação e Saúde (desde 2010, quando começaram as obras da Copa)  R$ 825  bilhões!’, exalta-se. O valor  mencionado por Lula é dez vezes superior ao aplicado nos estádios, como explica a propaganda institucional veiculada pelo governo sobre o assunto. 'E o BNDES não emprestou para clubes construírem (as arenas), mas para as empresas (que vão pagar)’, emenda o ex-presidente.
 
Torcedor fanático, Lula diz que só tem medo de uma coisa na Copa: 'De repetir o Uruguai (a derrota para a seleção adversária)', sussurra. 'Tínhamos passado pela semifinal com uma vitória de sete a um, sobre a Espanha. Estava tudo pronto para a festa da vitória, aí entramos de salto alto (contra o Uruguai) e perdemos. E sabe em quem botaram a culpa? Em um negro, o Barbosa, que tomou o gol, quando a responsabilidade era de todo o time’, resume.
 
‘Por que não marcaram mais dois?’, cobra, incansável na convocação à luta e avisa: ‘Agora, só vou a Santa Cruz de la Sierra para um encontro  com movimentos sociais e depois não saio mais do Brasil, até outubro’.
 
Como se dissesse,  ‘me aguardem’.
 
 
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