A direita quer voltar sem ter estado

11/08/2014
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
Sem ter estado e sem ter Estado. A direita brasileira arregaça as mangas, pensa ralo e solta um discurso vago, sem pés no chão e sem chão. A população fora da elite branca não entende, não consegue ligar coisa com coisa e vira as costas.

O discurso da direita não chega aos ouvidos da maioria, hoje acostumada com mais dinheiro no bolso que há 12 anos atrás, empregos e trabalhos mais fartos, inflação que não deixa os bolsos vazios e uma vontade de futuro mais vibrante atrás de um sol que nunca se põe.

Este papo de menos Estado e mais iniciativa privada, de fato, é a cara da direita, da oposição e dos conservadores. Quanto menos controle e vigilância na economia mais espaço para os aviões subirem e descerem em aeroportos conhecidos e clandestinos. Mais incentivos para as especulações nas bolsas e mais bolsas cheias de dinheiro para voarem para fora do país.

Enquanto a maioria da população sem vez e voz conseguiu nos últimos três governos federais mais voz e vez, o discurso da direita tenta tirar o lugar e a participação da classe C e D. Menos recursos para o SUS, e de preferência termina-lo. Bolsa Família, nem para ser bolsa de couro para carregar bugigangas. Minha Casa, Minha Vida, nem para morar, nem para viver. E por aí vai.

Os recursos públicos hoje movimentando os programas sociais mais importantes de todos os tempos no Brasil e aclamados no exterior, inclusive pelas Nações Unidas, devem retornar para financiamento e aplicações em áreas de ação da iniciativa privada. Assim, defende a oposição. Sabem os capitalistas, diz a direita empedernida, onde melhor aplicar os recursos e ter ganhos maiores e mais relevantes.

Maiores e mais relevantes para quem, caras pálidas? Só se for para os grupos de banqueiros, empresários, latifundiários e rentistas associados a uma direita sem muitas caras conhecidas, pois escondidas nos últimos andares dos prédios mais luxuosos das avenidas mais luxuosas dos grandes centros de negócios do País.

Disse Armínio Fraga, um dos timoneiros do barco da turma da direita que tenta voltar ao poder, que a derrota do PT faria a Bolsa de Valores retornar como o melhor termômetro dos negócios das ações das empresas. E recuperar os 40% de valorização perdidos no governo Dilma.

Para ele, ex-funcionário de George Soros, um dos grandes especuladores mundiais, e fiel representante de interesses nacionais e internacionais, o Brasil tem perdido terreno com ações e programas de governos populares que impede a maior participação do capital estrangeiro na economia brasileira.

O candidato a Presidente da República pelo PSDB quer trocar a presença do  Estado em benefício das classes C e D pela presença do mercado nas mãos das classes A e B. Segundo suas declarações, o salário mínimo não pode crescer mais que a inflação sob pena de prejudicar os recursos das empresas, dos estados e dos municípios para investimentos em infraestrutura. Entenda-se aqui vias públicas, rodovias, viadutos e vias expressas para ligar centros financeiros e comerciais aos mercados regionais e, quem sabe, a aeroportos conhecidos e desconhecidos.

O discurso de direita é a falta de investimentos, de novos negócios, de crescimento do País. Só não dizem como, nem podem, pois o mundo está enredado numa crise mundial sem muitas perspectivas de sair do atoleiro. Nem os juros baixos e dívidas renegociadas dos estados em maus lençóis, têm motivado a recuperação das economias da Zona do Euro e dos Estados Unidos.

Só se a proposta da direita for avalizada pelos seres de outros planetas. Os próprios empresários nacionais não têm tirado dinheiro do bolso nem de suas contas bancarias para investir, preferindo aplicar em papeis financeiros ou especular nos mercados a termo ou nas bolsas. Não serão, portanto, e mais uma vez, promessas no vazio, sem chão, que atrairão novos investimentos no futuro.

O que os discursos da direita querem mesmo é gerar o medo entre os eleitores. Tal qual fizeram na primeira eleição de Lula, afirmando que os empresários iriam do Brasil para Pasárgada, perdão Manuel Bandeira, caso o candidato petista vencesse a eleição. O medo de 12 anos atrás gerou energia e esperança no povo até hoje. E realizações positivas, palpáveis, sem meias falas.

O discurso do medo está de volta. O HSBC entrou oficialmente na roda e dias atrás avisou os correntistas da elite que a reeleição de Dilma traria o retrocesso. O discurso amplia o medo jogando pó no ventilador ao afirmar que a inflação está sem controle, fora da meta, o crescimento industrial se arrasta, que os empregos estão ameaçados, que as contas externas estão na tábua da beirada. Enfim, que o País está à deriva.

Só que os números não espelham isto. A inflação está na meta pelos últimos resultados, o crescimento industrial está baixo, mas se sustentando, os empregos estão sendo criados, embora em ritmo menor e que as contas externas estão aos poucos se recuperando. Não dizem os representantes da direita, por questões meramente eleitoreiras, que o Brasil não está melhor porque os demais países estão piores.

As divisas internacionais acumuladas pelo País nos últimos doze anos é quase 4 vezes mais que o total apresentado ao apagar das luzes dos oito anos do PSDB. Conquista esta de um governo de cara popular. Melhor ainda, a desigualdade de rendas despencou de final de 2002 a 2012, fato inédito nestas bandas. Resultados lembrados e felicitados por governos e instituições multilaterais.

Mas, o que está mesmo em jogo agora é uma luta de poder. O PSDB governou por oito anos, o PT completa em 2014 doze anos. A direita alardeava que Lula não passaria de 4 anos de mandato, se é que completaria. Com o bombardeio da mídia unida até hoje a seu favor, o PSDB viu passarem três vezes mais de tempo de governo de cara popular. Os eleitores aprenderam a votar e a eleger quem melhor lhes representa. Estão cansados e fartos de bocas moles e falas ocas. Desligam a TV e o rádio para não molestarem seus ouvidos.

Hoje a maioria popular está com o governo, a elite do mercado com a oposição. A provável reeleição de Dilma vai forçar a volta do mercado a negociar com o governo. A oposição a repensar porque não ter voltado agora e reelaborar uma futura volta. Por não ter estado como governo. Não com povo, pelo povo e para o povo. 
_________
 
José Carlos Peliano é economista.
 
Créditos da foto: Orlando Brito/Coligação Muda Brasil
 
11/08/2014
 
https://www.alainet.org/pt/active/76150
Subscrever America Latina en Movimiento - RSS